O Santos começou o jogo com a mesma estratégia da Copa do Brasil: pressionar a saída de bola do Corinthians, cortar as linhas de passe e obrigar Cássio a dar chutão. Ralf, volante que só marca, ficava livre, já que ele não participa dos movimentos ofensivos.
Durou muito pouco. O forte calor e o dia ruim fizeram o Santos diminuir o ritmo e o Corinthians, em seu habitual 4-1-4-1, dominou por completo o 4-2-3-1 santista.
Foi uma das melhores atuações corintianas do campeonato. O Corinthians é líder, não sente as saídas Guerrero e Sheik e acumula pontos porque o time não é armado a partir da característica dos jogadores, mas sim por um sólido modelo de jogo.
Ou seja: o mais importante é a forma como os movimentos se encaixam dentro do modelo, e não o improviso e a característica do jogador. Antes do jogo, Tite disse: "Intensidade é só sem a posse de bola. Com a posse é coordenação de movimentos, procurar os espaços, coordenar os espaços.
E foi o que aconteceu. Confira:
Intensidade sem a posse: mesmo com 32ºC, Malcom, Jadson e Renato participavam ativamente da marcação, concentrados em diminuir os espaços do Santos. Veja na imagem: 9 corintianos atrás da linha da bola, Jadson recebendo a ajuda de Ralf e equipe toda fazendo o campo ter 20 metros.
Coordenação na saída de bola: o Timão repete movimentos em todas as fases de jogo, como na construção das jogadas: Renato recua, Elias se projeta e o meia do lado - Malcom ou Jadson - aproxima. E tudo muito rápido: em 4 segundos, o Timão leva a bola pro campo de ataque.
Movimentação para preparar as jogadas: além de sair bem com a bola, é preciso preparar elas. E para isso o Corinthians une Jadson e Renato pelo centro, avança laterais e conta com Love de costas, para fazer o pivô, e armar as jogadas. Teve camisa 10? Não. Teve uma gama de movimentos feitos ao mesmo tempo.
Procura por espaços no ataque: o famoso ditado "quem se desloca tem preferência" é antigo, mas parece descrever bem o ataque posicional do Corinthians: todo mundo se desloca SEM A BOLA, atacando o espaço. Assim quem corre vai receber o passe na frente, como na imagem. E mais: isso desnorteia o adversário se feito com rapidez e coordenação.
Todas essas jogadas são montadas em treinos curtos, com intenso acompanhamento do departamento de análise. Tudo para MOLDAR COMPORTAMENTOS no jogador, e não depender de uma característica individual. O time é mais importante.
Foi pênalti, cometido por Zeca, que assumiu depois, e David Braz foi injustamente expulso. Isso não desmerece o Corinthians, que dominou por completo o Santos. Ponto.
Estava quente e é desumano jogar assim. Mas essa pauta precisa ter relevância o ano todo, não só quando um jogo "de peso" acontece. Não é clubismo, mas incomoda que algo tão importante só tenha repercussão quando o prejudicado é o time de apelo popular. Tanto faz o prejudicado, na verdade: as divisões estaduais e os campeonatos de base que sofrem com esse horário também merecem atenção. Afinal, cobramos a CBF por melhorias, mas a mudança também começa por quem pede mudança.