8/9/2015 08:16

Pai, líder e maduro: Cássio supera má fase em "gangorra" no Corinthians

Goleiro admite que viveu momentos difíceis após eliminações, mas dá volta por cima para virar inspiração e pede mais respeito. Filho o ajuda a se controlar nas palavras

Pai, líder e maduro: Cássio supera má fase em
Um frango contra o modesto Guaraní, do Paraguai. Uma bola defensável de Ricardo Oliveira em derrota para o Santos. E o mundo de Cássio, ídolo, campeão mundial e da Libertadores, poderia cair rapidamente. Aos 28 anos, quase quatro deles no Corinthians, o goleiro se acostumou a lidar com as críticas repentinas. Mais maduro, não temeu perder vaga no time e virou líder em um elenco que é primeiro colocado na tabela do Campeonato Brasileiro.

Único titular campeão mundial de 2012 que ainda mantém sua posição, Cássio exige mais respeito. São quatro taças com a camisa alvinegra – no ciclo de conquistas do técnico Tite, só não estava na campanha do Brasileiro de 2011. Por isso, ele pode falar grosso, até mesmo com a torcida corintiana...

– Não que eu não deva ser criticado, mas o respeito... Se eu tivesse conquistado tudo o que conquistei aqui em um clube da Europa, por mais que eu errasse, as pessoas iam me respeitar. Aqui se tu falha ou tem uma sequência não muito boa, você já não vale nada. Há uma gangorra. Se vai bem, te pedem na Seleção. Lá fora as pessoas respeitam. Não quero tomar um frango, falhar, mas às vezes acontece. Aqui o pessoal não tem paciência – desabafou Cássio.

Em conversa de cerca de meia hora com o GloboEsporte.com, ele deixou a maturidade transparecer. Após o empate por 3 a 3 com o Palmeiras, no domingo, Cássio virou o sexto goleiro com mais partidas pelo clube. Depois do jogo contra o Grêmio, nesta quarta-feira, vai ultrapassar Felipe.



Coincidência ou não, Felipe é também o nome de quem lhe deu calma. Com apenas um ano de idade, o filho de Cássio transformou a vida do goleiro e o acompanha em uma tatuagem no braço esquerdo. Felipe mora em Veranópolis, mas ajudou Cássio a superar a fase ruim.

– Hoje, como líder e capitão da equipe, tenho a cabeça mais tranquila. Preciso pensar duas vezes antes de falar alguma coisa. Qualquer coisa aqui tem uma repercussão muito grande. Tenho de exercer uma liderança positiva e evitar as polêmicas. Hoje tenho uma criança e preciso ser exemplo. Ainda mais eu que fui criado sem meu pai, então me cobro mais ainda para tentar ser um bom pai para ele – destacou o goleiro.

Confira a íntegra da conversa, em que Cássio fala sobre sua maturidade, os momentos ruins na temporada, o temor pelo desmanche e também a chance de conquistar o único título que não tem com a camisa alvinegra. O goleiro tem 194 jogos e 147 gols sofridos pelo Corinthians.

GloboEsporte.com: Você empatou recentemente o número de jogos do Felipe, que era um ídolo, mas acabou saindo pela porta dos fundos. Recentemente, Guerrero também saiu assim. Como você vê essa situação também sendo um ídolo do clube?

Cássio: – Mesmo tendo conquistado tudo, ser reconhecido, ter o carinho de todo mundo, tento fazer o meu trabalho, me dedicar, fazer o melhor, buscar títulos e vitórias. De repente, para essas pessoas, o Felipe saiu meio brigado. O Guerrero teve toda uma novela pela renovação e saiu.

Mas existem exemplos como o Paulinho, que saiu muito bem e, quando vem para cá, a torcida tem o maior carinho. São jogadores que saíram e são muito queridos pela torcida. É normal. Quando tem um cara respeitado, não querem que saiam. Acontecem muitas coisas, cada um segue seu caminho, e a torcida não entende bem e critica o jogador. Não me preocupo se vou falar, se a torcida vai me vaiar ou criticar
futuramente. Fico concentrado no meu trabalho.

Você acha que essa idolatria é uma luta diária? A cada mínimo erro seu, por exemplo, a torcida começa a pedir o Walter... Como são esses altos e baixos?

– Futebol é assim mesmo, a pressão é em todos os clubes. Nos últimos anos, a safra de goleiros é muito boa em todos os clubes, não só aqui. O São Paulo tem goleiros muito bons. O reserva do Palmeiras é o Aranha, que fez ótima temporada no ano passado. Estou tranquilo e não posso me abalar nem revidar críticas. Sei como as coisas funcionam aqui. Quero me manter como titular.

Você é o único titular do Mundial que ainda mantém sua posição. Hoje se sente mais responsável dentro do elenco?

– Acho que aumentou minha responsabilidade, sim, até a procura quando vamos viajar aumentou. A torcida me procura mais porque outras referências foram embora. O pessoal tem um respeito muito grande comigo. Em campo, eu me cobro mais também, tenho de dar suporte a esses meninos que estão subindo. Com a saída dos medalhões, automaticamente minha responsabilidade aumentou.

Há ainda o desejo de voltar à Europa? Jogar uma Champions League? (Cássio passou pelo PSV, da Holanda, antes de chegar ao Corinthians)

– Ah, é legal, até pela organização. Não que eu não deva ser criticado, mas o respeito...Se eu tivesse conquistado tudo o que conquistei aqui em um clube da Europa, por mais que eu errasse, as pessoas iam me respeitar. Aqui se tu falha ou tem uma sequência não muito boa, você já não vale nada. Há uma gangorra. Se vai bem, te pedem na Seleção. Lá fora as pessoas respeitam. Não quero tomar um frango, falhar, mas às vezes acontece. Aqui o pessoal não tem paciência. Não está bom, tem que sair. Por isso mudam tantos jogadores. Estou há quase quatro anos aqui e mudou quase todo o time. Que bom que a grande maioria foi para clubes bons, para a Europa. Mas espero ficar muito tempo aqui.

Você já viveu muitas mudanças no elenco, mas a última foi a mais difícil? Como vocês, líderes do elenco, lidaram com as perdas de Guerrero, Sheik e outros?

– Vou ser bem honesto. Fiquei preocupado, porque não sabíamos quem mais poderia sair. Naquele momento até tive uma conversa com o Tite e o Mauri (Lima, preparador de goleiros). Acabei me preocupando muito com o clube e, sem querer, deixei meu trabalho de lado. Comecei a não conseguir mostrar meu futebol, estava muito preocupado, nosso time estava perdendo, não sabia quem podia sair amanhã. Confesso que fiquei preocupado, mas os jogadores acreditaram no Tite. Precisaríamos de todos para o time se manter bem. Agora estamos colhendo os frutos, continuamos bem no Brasileiro.



Você tem algum exemplo prático desse fato externo ter te atrapalhado?
– Você acaba não dormindo direito, você sabe como as coisas funcionam aqui. Nos jogos contra Grêmio e Joinville, no primeiro turno, tínhamos de andar escoltados, descer do avião pela pista. Tudo isso é complicado. Tínhamos perdido também para o Palmeiras, havia protestos. Você treina normalmente, mas não fica tão concentrado no jogo. É só ver os jogos. Depois disso, meu nível voltou a ser o de sempre.

O que você fez de diferente nos treinos? Sua saída de bola, por exemplo, melhorou muito.

– O Tite implantou isso nos treinamentos, ele pede para jogar com o goleiro mais vezes. Desde a pré-temporada, ele insiste nisso, para trabalharmos com os pés. Ficou melhor, com a bola no chão consigo trabalhar melhor as jogadas. Na outra passagem do Tite, nosso jogo aéreo era ainda mais forte, então eu sempre "quebrava" a bola no tiro de meta tentando buscar o Danilo. Isso é uma coisa nova e legal, agora damos poucos chutões. A média de tiros de meta chegava a 20, 25 por jogo. Hoje são dois, três, tem jogos em que nem bato tiro de meta. É uma evolução.



Mais do que as quedas em Paulista e Libertadores, essa sequência de resultados ruins no Brasileiro foi a mais difícil?

– Neste ano sim. Tivemos um começo muito bom, mas tivemos uma queda, perdemos para São Paulo e Palmeiras, fomos eliminados na Libertadores, e aí veio essa sequência. Foi um momento bem conturbado, tínhamos de ganhar de qualquer jeito do Joinville para dar uma melhorada. Daí em diante começamos a crescer.

Como foi essa conversa com o Tite?
– Não sabemos muito das coisas, muitos jogadores não conversam se podem sair ou não. O Petros foi assim. Quando fomos falar, ele disse que já estava vendido e se despediu. São muitos boatos, não fico perguntando se o cara vai ficar, vai sair, se tem proposta. Conversei com o Tite, isso partiu de mim. Eu não estava me sentindo bem e vinha tomando alguns gols defensáveis. Contra o Santos tomei um gol que não tomaria. Então partiu de mim essa conversa. Ele disse para ter confiança. Consegui retomar isso nos jogos, e ninguém mais saiu do time.

A saída de outros ídolos lhe deu maior responsabilidade, mas o seu filho também. O que mudou em você depois que virou pai?,

– Acho que você fica mais responsável, mais maduro. Começa a pensar nas atitudes. Não que antes eu não fosse responsável, mas hoje tenho uma criança e preciso ser exemplo. Ainda mais eu que fui criado sem meu pai, então me cobro mais ainda para tentar ser um bom pai para ele. Mesmo com ele longe, tento vê-lo todo dia por vídeo, visito nas folgas. É meu primeiro filho, espero que eu esteja sendo um bom pai.

Como você é goleiro, não vai ter a chance de dedicar um gol a ele. Como vai fazer?
– Fiz uma tatuagem para ele, até na escalação que aparece na TV eu beijo essa tatuagem. Vou tentar pegar um pênalti, alguma coisa. Fazer gol é difícil, nunca vou lá para o ataque. Vamos ver.


Mas o padrinho dele conseguiu – o volante Ralf foi o responsável pelo batizado do garoto.
– O padrinho fez um belo gol. O Ralf é uma pessoa que respeito muito, um cara que me ajudou muito. Ele se dedica, não fica de cara feia, é o mesmo cara jogando ou no banco de reservas. Termina o treino, vai para a academia, faz um reforço muscular. Saí do gol para abraçá-lo depois do gol contra o Fluminense (o segundo da vitória por 2 a 0) porque o respeito demais.

Como é a amizade com ele? Quem são seus melhores amigos no elenco?

– Tenho boas amizades. Tenho um convívio fora de campo com o Walter, saímos muito, nos damos muito bem. Conheço a esposa e a filha dele, conheço a família, ele já foi lá para o Sul, conhece minha mãe. Também tenho esse tipo de amizade com o Danilo. É normal fora de campo ter uns grupinhos, tem esposa de um que não se dá bem com a do outro, é normal (risos). Saio mais com Walter,

Danilo e Ralf. Felipe também está sempre junto. Mas o Ralf sempre me tratou bem e me acolheu desde que cheguei. Quando eu não estava jogando, sempre foi um irmão, confidente. Tenho total confiança em contar para ele tudo o que se passa na minha vida.
Uma dessas amizades também é concorrência. Como é sua relação com o Walter? Temeu perder sua vaga no time?,

– Não temia ir para o banco de reservas, sabia que daria a volta por cima. Pelo tempo que estou aqui, essa foi a fase em que errei mais. O Walter trabalha muito e se dedica, mas temos de saber diferenciar. Dentro de campo cada um faz seu melhor, fora de campo é amizade, mal falamos disso.

Ele também tem uma cabeça muito boa, entrou bem demais quando jogou. Não vou ficar bravo se ele for bem, pelo contrário. Quando jogou, fiquei feliz para caramba e mandei mensagem. De todos os goleiros que passaram por aqui, é com quem tenho mais amizade. Se o Tite achasse que ele deveria ser titular, eu respeitaria. Fora de campo não mudaria nada.

E hoje você parece mais tranquilo. Antes dava declarações mais bombásticas. O que te deixou assim?
– O fato mais grave foi naquele jogo contra o Atlético-MG em que fomos eliminados da Copa do Brasil (no ano passado, após os 4 a 1 sofridos, Cássio disse que alguns jogadores não mereciam vestir a camisa do Corinthians). É porque aquela foi a pior derrota que eu tive pelo clube, pela maneira que foi. Fiquei muito chateado. Tínhamos de ir escoltado para os lugares, mas conseguimos reagir e chegamos à Libertadores. Hoje, como líder e capitão da equipe, tenho a cabeça mais tranquila.

Preciso pensar duas vezes antes de falar alguma coisa. Qualquer coisa aqui tem uma repercussão muito grande. Tenho de exercer uma liderança positiva e evitar as polêmicas. Isso pode conturbar um grupo de forma desnecessária.





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