De entregador de marmitex enquanto criança na Zona Norte paulistana a goleiro do Náutico e pai de família em Recife. Essa é a história de Julio Cesar de Souza Santos. Ah! Outro mero detalhe: foi atleta do Corinthians por 15 anos (metade de seus atuais 30 anos de idade).
Há um ano, o então reserva Julio Cesar foi liberado pelo Timão para assinar contrato com o Náutico. "Filho do Terrão", ele abriu o coração em entrevista ao LANCE! e revelou o desejo de, um dia, retornar ao clube do Parque São Jorge.
– É triste (sair) porque foi onde vivi minha vida inteira, foi quem me projetou e por quem tenho o maior carinho possível. Mas vivi e passei tudo que tinha que viver. Tudo começa e termina. Espero que um dia possa voltar, talvez como dirigente, treinador, auxiliar. Não sei se treinador de goleiros. Mas o Mauri Lima seria um grande espelho – contou, lembrando o atual preparador de goleiros alvinegro.
Julio ingressou nas categorias de base do Corinthians em 1999. Em 2004 e 2005, sagrou-se bicampeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Então efetivado ao time profissional, o arqueiro fez história: com nove títulos, é o maior campeão da história do clube.
– Isso é uma coisa muito boa. É certeza que vou contar para filhos e netos. Mas, cara... A dimensão de tudo isso não sei ainda. São lembranças muitos boas que guardo na minha vida, o Corinthians está sempre nela. Só vou entender mesmo este feito acho que depois de me aposentar – explicou o Julio Cesar.
Emprestado ao Timbu até o fim de 2014, o goleiro estendeu vínculo com o clube pernambucano até o fim de 2015. Após uma temporada longe dos congestionamentos nas Marginais, ele curte a nova fase.
– Ano passado o começo foi complicado porque era uma mudança, cidade e clube novos... Dentro de campo, foi muito bom. O time quer voltar à Série A. Estamos no G4 da Série B. Vamos subir, quero participar desse projeto do Náutico, de capturar novamente títulos.
Para alguém tão acostumado a levantar taças, Julio deve mesmo estar sedento por seu primeiro título pelo Náutico. A torcida de corintianos, mais uma vez, ele tem...
BATE-BOLA DE JULIO CESAR AO LANCE!
Sempre quis ser goleiro?
Sempre gostei de ser goleiro, sempre ganhei luvas dos meus pais. Já tentei também, no começo, jogar no meio, mais pela esquerda, até como atacante. Todos querem fazer gol, né? Mas aí vi que não levava jeito...
Teve ajuda de quem no Timão?
Como atleta, tem o Fábio Costa, um cara que no começo me dava muitos toques, sobre posicionamento, porque eu era muito novo. Vivia na base e não sabia como era no profissional.
Quais foram os títulos mais especiais que você conquistou?
Sem a Copa São Paulo eu não conseguiria chegar ao profissional. São títulos fundamentais para o início da minha carreira. O Brasileiro de 2011 e a Libertadores são os mais especiais no profissional. A Libertadores é o mais especial, porque comecei jogando e foi um título que eu vivi aquele momento de torcedor de nunca ter uma Libertadores, ser zoado por torcedores. O Brasileiro foi bom também por eu ter ido bem, jogando o campeonato todo como titular.
Muito corintianos em Recife?
O carinho aqui é grande. Tem torcedores apaixonados pelo Corinthians por aqui também. Tem muitos engraçados que param e são torcedores do Náutico e do Corinthians. Tem outros que são Corintianos e torcem para o Sport, aí agradecem pelo o que fiz no Corinthians mas avisam que não torcem hoje para mim.
Torcedores ainda lembram do dia em que você teve luxação exposta e seguiu em campo (em partida do Brasileiro
de 2011, o goleiro luxou o dedo mínimo da mão esquerda, contra o Botafogo, em São Januário)?
Param na rua. Muita gente. É algo de marcante que as pessoas mais lembram, até gente de outro time. Em redes sociais abordam bastante. Tem bastante corintiano aqui, me param nas ruas. Contra o Flamengo, pelo Náutico, tive um episódio que quase aconteceu isso. Foi na outra mão.
Goleiro teve luxação exposta no dedo mínimo da mão esquerda e seguiu em campo. Em 2015, pelo Náutico, viveu episódio similar (Foto: Cleber Mendes)
Sente saudade de ex-colegas?
Tem o Dentinho, que é meu irmão até hoje. Cássio... O Danilo Fernandes agora é rival no Sport, o Diego Sacoman também, no Santa Cruz. Lulinha, Fábio Santos, Emerson... São muitas pessoas queridas. É difícil listar.
Timbu e Timão: há semelhança?
A visibilidade é menor em nível nacional. Mas aqui em Pernambuco o Naútico é um clube gigantesco. O investimento, a receita são totalmente diferentes, mas é um clube muito bom, com estrutura fantástica, CT maravilhoso... Uma semelhança é que estamos jogando numa arena de Copa do Mundo, assim como o Corinthians.
Adaptado à nova cidade?
Aqui é muito fácil de se adaptar, é clima bom ano inteiro, sol... Estou há 30, 40 minutos de Porto de Galinhas, praias maravilhosas, com qualidade de vida muito boa para a família, os filhos. É uma cidade muito boa de se mudar. É difícil para mim por conta da família e dos amigos que tenho em São Paulo, mas a cidade é maravilhosa. Não preciso pegar trânsito na Marginal para chegar no CT (risos).
Antes de se aposentar, quais são seus planos?
É difícil planejar, mas quero jogar no mínimo até uns 37, 38 anos. Tenho mais uns sete, oito anos de vida útil. Quero me estabillizar em um lugar, não quero ficar rodando em muitos clubes, gostaria de ficar aqui no Náutico por muito tempo. E poder jogar em alto nível e ganhar títulos. Não sei se haverá oportunidade de jogar no exterior, mas, se não houver, quero ser feliz aqui. Um mercado que tem muito a crescer é os Estados Unidos... Está crescendo, gosto da cultura, do país. Gostaria de jogar lá um dia, se possível.
* Em abril, Julio Cesar entrou na Justiça contra o Corinthians. Ele cobra luvas atrasadas, direitos de arena não pagos e verbas rescisórias. Na entrevista, o goleiro não quis falar sobre o tema.