Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Tite foi buscar conhecimentos com Carlo Ancelotti e Carlos Bianchi, mas há quem também venha até Tite atrás de evolução profissional. É o caso de Gilmar Dal Pozzo, treinador que recentemente realizou estágio no Corinthians. Mas que, na verdade, possui uma relação com o técnico corintiano que extrapola o futebol.

Hoje são 25 anos de amizade, mas no Campeonato Gaúcho de 1999 a afinidade de ambos, treinador e goleiro do Caxias, era recente em jogo na casa do Passo Fundo. No fim da partida, quando Gilmar pegou um pênalti batido por Roger e assegurou a vitória por 1 a 0, Tite explodiu de felicidade. Desrespeitou a regra, invadiu o campo e, mesmo no chão, abraçou o então pupilo.

"No Caxias, ele foi o treinador e eu era da base. Me chamou atenção porque tinha o goleiro titular absoluto Agnaldo, houve um problema de comportamento e o Tite me lançou. Por sermos dali, pelas famílias, criamos um laço de amizade. Voltamos a trabalhar no Veranópolis, em 94, e depois no Caxias", conta Dal Pozzo ao UOL Esporte. "A amizade de técnico e jogador não é normal, mas soubemos diferenciar o lado profissional", ressalva.

As coisas evoluíram tanto que Tite é até padrinho de casamento de Gilmar. São confidentes a ponto de o primeiro ter se aconselhado com o segundo, em dezembro do mês passado, quando tinha convites do Corinthians e do Internacional. "Ele queria uma avaliação técnica de elenco, de jogadores, de qual era o melhor. E qual era a minha opinião", explica.

Mesmo com o sucesso de levar a Chapecoense da Série C 2012 até a Série A 2014, Dal Pozzo se espelhou no amigo para a chamada reciclagem nos últimos meses. Ele espera trabalhar no Brasileiro e pôr os ensinamentos de três dias intensos com Tite no Corinthians.

"O objetivo principal foi buscar o máximo de informações do que ele está usando. Esse modelo de jogo (4-1-4-1) que chamou atenção de todos nós no Brasil. A minha curiosidade de aprender sistema de marcação, de compactação e da variação tática, das triangulações para jogar. Eu achei o que queria", relata.

Ao perguntar e ser respondido, sem filtros, Gilmar testemunhou uma característica própria de Tite, que é não omitir as informações de seus colegas. "Ele fala sempre no merecimento. A equipe que fizer por merecer, se merecer vencer ele, ficará feliz. Jamais ele fecharia as portas para um técnico que quer evoluir e para um amigo", explica o treinador, com uma ressalva bem humorada. "Já joguei contra ele duas vezes, ele no Internacional e eu no Veranópolis, e perdi as duas. Quem sabe agora vou ganhar no dia que enfrenta-lo".

Por fim, Dal Pozzo constata: "ele evoluiu em todos os aspectos. Chama a atenção a seriedade do trabalho no dia a dia. É para trabalhar com alegria, mas no momento em que entra em campo para treinar, passa a ter um nível de concentração que não tem mais espaço para brincadeiras. (...) É esse dia a dia que condiciona o desempenho no jogo e o resultado. Uma das minhas principais anotações foi essa".

Nos três dias em São Paulo, houve apenas um momento de tensão. Foi durante o jantar entre os dois casais, na residência de Tite. As esposas fizeram um pedido: "vamos falar de outros assuntos". Gilmar Dal Pozzo se diverte: "falamos das famílias por dois minutos e voltamos ao futebol".