1/5/2015 09:16

Ex-Corinthians e Fla, Gil vira mentor na Mooca: 'Dinheiro? Aqui sou feliz'

Aos 34 anos, atacante curte ‘retorno’ à rua Javari, na Mooca. No ‘quintal de casa’, o veterano volta no tempo e curte assédio da molecada do Juventus. Vale tudo? Ô, se vale!

Ex-Corinthians e Fla, Gil vira mentor na Mooca: 'Dinheiro? Aqui sou feliz'
Camisa 9 já fez sete gols na A3. Quando eleito melhor em campo, ganha esfihas (Foto: Ari Ferreira)

Em meados da década de 90, um franzino atacante foi pinçado na pequena Mirandópolis, interior de São Paulo, por Adaílton Ladeira, então técnico das categorias de base do Corinthians. Aos 16 anos, Gil chegou à capital paulista e não tardou a brilhar no Parque São Jorge. Quase duas décadas depois, ele está de volta à Zona Leste paulistana: é estrela do charmoso Juventus, do bairro da Mooca, clube com melhor campanha na Série A3 do Campeonato Paulista 2015.

Morador do Tatuapé, o veterano se gaba de levar apenas dez minutos para se deslocar de casa à rua Javari. A primeira lembrança de Gil como jogador, curiosamente, é de um cafezinho tomado num bar localizado justamente em frente ao estádio do Moleque Travesso, horas antes de se apresentar para o primeiro treino no “terrão corintiano”, no longínquo ano de 1996.

Ao LANCE!, ele “corneta” países onde jogou, cita ídolos que o inspiraram, lembra a polêmica do “vale tudo”, enaltece reconhecimento e prêmio de esfiharia, e se vê como mentor da garotada do Juventus.

Muita gente acha que você é de Andradina. Mas nasceu onde?
Minha mãe engravidou e me teve em São Paulo, sou paulistano. Depois que eu nasci, minha mãe voltou para o interior, porque minha família toda é de Andradina, e infelizmente meu avô faleceu e minha mãe precisava cuidar dos irmãos mais novos dela no interior.

Como chegou ao Corinthians?
O Corinthians foi jogar em Mirandópolis, numa cidade vizinha, e me chamaram para reforçar o time local. Joguei, e o (Adaílton) Ladeira deu um olhar mais caprichado e me trouxe para o Corinthians. Quando cheguei em São Paulo, com 16 anos, lembro que o primeiro cara que encontrei foi o Geova (Oliveira), que hoje é diretor do Juventus, porque parei aqui na esquina da Javari para tomar um café da manhã.

Quem eram seus ídolos?
Quando eu era bem moleque, no interior, não tinha essa coisa de assistir jogo europeu. Lembro que o campeonato que passava era o italiano. Não tinha (transmissão do) espanhol, por exemplo. Minha inspiração era Corinthians, Palmeiras, São Paulo... Como corintiano, Marcelinho Carioca, Neto, Ronaldo e Viola eram meus ídolos. No São Paulo e no Palmeiras lembro que tinham Palhinha, Müller, Cafu, Evair, Edmundo, Djalminha, Rivaldo...

Quais são suas lembranças da época da base do Corinthians?
Na base lembro os títulos que conquistamos. Eu morava no alojamento, então tinha outra vida, outra visão. No profissional, vem uma responsabilidade maior, cuidar da sua própria casa, os jogos passam na TV toda quarta e domingo. Você vira homem. No Juventus eu revivo o que eu vivia no Corinthians, porque fico bastante com a rapaziada no alojamento. Vejo que os meninos têm esse sonho de chegar num clube maior.

Costuma sair com os ex-colegas?
Os jogadores da minha época que moram em São Paulo eu sempre encontro. Marcelinho, Luizão, Éverton, Fernando, Kléber... É que muitos se mudaram para o interior, né? Mas os que residem aqui a gente encontra para jogar bola. O Vampeta encontro toda hora, é meu vizinho aqui. Toda hora passo no Bar do Vagabundo e está lá o Velho Vamp aproveitando o tempo livre dele.

Tem boas lembranças do Japão?
Tomei um choque muito grande. No Japão, se você perdeu ou ganhou, é a mesma coisa. E olha que o Verdy Tokyo é grande lá. Como eu estive no Corinthians desde pequenininho, não estava acostumado com isso. Para mim não era normal perder dois jogos seguidos. Até no Juventus, se acontece isso, fica todo mundo de cara feia e começa uma crise danada.

E na Espanha? Gostou de lá?
Na Espanha, e até no Japão mesmo, você entra em campo e seu time pensa em não cair. Jogo fora de casa o pensamento dos jogadores é só empatar ou perder, nem cogitam ganhar. Lembro que eu estava assistindo junto com meus colegas do Gimnàstic à final do Mundial entre Barcelona e Internacional. Ficaram decepcionadíssimos quando o Gabiru fez o gol, porque muitos lá eram torcedores do Barcelona. Messi e Ronaldinho, pra eles, eram imbatíveis.

Jogou em vários clubes do Brasil depois. Por que não se destacou?
Fiquei pouco tempo nesses outros clubes. Ganhei Mineiro no Cruzeiro, Gaúcho no Inter... Ganhei o Brasileiro pelo Flamengo. A gente fica feliz de fazer parte de um elenco campeão, mas não tive participação efetiva nestes clubes. No Corinthians eu fui efetivo, por isso tenho um carinho muito grande. Mas todos os clubes me respeitaram.

Já está cansado de falar sobre a entrevista do “vale tudo”?
Ficou marcado, né? Foi a entrevista mais polêmica que dei. Falei aquilo porque eu estava numa situação desagradável, com sangue quente. Eu queria xingar o torcedor, o repórter entrou no meio e sobrou pra ele. Estava todo mundo embolado e aí me chega o cara e pergunta “Vale tudo, Gil?”. Eu estava querendo mandar o torcedor que estava puxando meu meião para aquele lugar, aí misturei uma coisa com a outra e saiu o que saiu. Acho que pela espontaneidade e pelo susto do repórter ficou marcado para o resto da vida.

Nota da redação: Em 2006, após o título mineiro pelo Cruzeiro, Gil foi assediado por torcedores no Mineirão. Em entrevista ao vivo a uma rádio católica, ele disparou: “Só não vale dar o c...”.


Gil recebeu reportagem do LANCE! nas arquibancadas do estádio do Juventus (Foto: Ari Ferreira)

Como veio parar no Juventus?
Eu estava na academia aqui perto de casa, no Tatuapé, e o Everaldo, que é o fisiologista daqui, me viu treinando. Ele reparou que eu estava treinando com uma carga acima da média. Eu queria jogar, estava buscando forças para jogar no clube que aparecesse. Aí ele chegou e perguntou se eu não queria jogar no Juventus. Estava acima do peso, mas pouco a pouco fui adquirindo a forma.

Está gostando do assédio?
É um assédio bom, caloroso, por parte da torcida e dos atletas. Eu entrei acima do peso no primeiro jogo, e o torcedor me apoiou. Nunca senti desconfiança da torcida e nem dos colegas de equipe. Por ter jogado no Corinthians, sou bastante assediado, porque na Mooca tem muito corintiano. Tem, óbvio, os juventinos.

Os juventinos o acolheram, né?
Cara, aqui você não ganha rios de dinheiro, mas é muito mais feliz do que em muitos clubes que passa e não tem reciprocidade do torcedor porque não teve oportunidade de jogar. Isso é natural também, afinal, há concorrência. No Flamengo peguei Adriano e Love. No Inter, Nilmar, Taison e Fernandão. Na minha posição, eram grandes jogadores.

E essa história das esfihas?
Foi um combinado da Rádio Web Mooca e a Esfiharia Juventus para premiar o melhor jogador do jogo. É um prêmio legal. Dá pra fazer brincadeira depois. É legal ter uma premiação, independente de ser dinheiro, de ser esfiha ou de ser troféu. É o reconhecimento do seu trabalho.

Foi o prêmio mais inusitado?
Teve um episódio no Cruzeiro, fui o melhor da partida e ganhei uma TV de uma loja de eletroeletrônico. Uma TV não, me deram um vale-troca assinado pelo presidente dessa loja. Cheguei lá na loja e não me deram a TV. Fui lá duas vezes e ninguém da loja sabia de nada. Pelo menos aqui recebo as esfihas, elas chegam quentinhas, você chama os amigos do clube, a família e todo mundo come.

Já pensa em aposentadoria?
Não pensei direito ainda. Fiquei os últimos quatro anos parado e não pensei em aposentadoria. É lógico que vou querer ficar o mais próximo possível do futebol. Você pode ser empresário, diretor do clube, mas acho que o mais próximo é ser treinador, auxiliar... Se pudesse, eu jogava até os 90 anos, mas não dá.

Tem algum arrependimento?
Não, tudo o que acontece é aprendizado. Depois é só pegar tudo e colocar para os atletas mais novos. Hoje tento passar o que aprendi na carreira aos mais novos, para reviver novamente, ser campeão novamente.

Qual foi seu auge como jogador?
Chegar à Seleção Brasileira. Você trabalha para ser campeão, chegar a um grande clube... E de repente é convocado?! Participei da Copa das Confederações de 2003. É o momento auge, porque você carrega isso para o resto da vida. Eu vesti a camisa da seleção do meu país. E não é qualquer camisa. É camisa da Seleção Brasileira. Independente de ser pouco tempo ou não, o importante é você chegar, chegar ao topo. Você sente gostinho de que atingiu ao máximo.

FICHA TÉCNICA
NOME: Gilberto Ribeiro Gonçalves
NASCIMENTO: 13/9/1980 - São Paulo (SP)
POSIÇÃO: Atacante
CLUBES: Corinthians, Verdy Tokyo (JAP), Cruzeiro, Gimnàstic (ESP), Internacional, Botafogo, Flamengo, União Mogi, ABC e Juventus (atual).
TÍTULOS: Copa São Paulo, Brasileirão (3), Mundial de Clubes, Paulistão (2), Rio-São Paulo, Copa do Brasil, Mineirão e Gauchão.
JOGOS PELA SELEÇÃO: seis (três na Copa das Confederações de 2003)
PRÊMIOS INDIVIDUAIS: Bola de Prata de 2002


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