30/4/2015 07:49

Paz e Love: Vagner esquece passado "verde", aceita reserva e promete título

Em bate-papo descontraído, atacante do Timão relembra episódios no Palmeiras, relata aprendizado e tem novos focos: a mulher, a família e a torcida corintiana

Paz e Love: Vagner esquece passado
São apenas 17 jogos e dois gols com a camisa do Corinthians. Mesmo assim, Vagner Love se sente como estivesse na sua casa há pelo menos dez anos. Quase foi assim quando, no fim de 2004, o então atacante do CSKA, da Rússia, chegou a dar entrevista como jogador do Corinthians sem nunca ter sido liberado pelo clube europeu. Eram outros tempos, de "molecagens", de um jogador ainda muito verde.

Aos 30 anos, Vagner Silva de Souza é um homem maduro. Casado há quatro anos com Lucilene Pires, de quem diz não se desgrudar, o atacante esqueceu de vez o passado "verde" – dentro e fora de campo. Dentro dele, apesar de não ter mágoa, não quer mais saber do Palmeiras, clube que o revelou. A sensação é de uma empatia cada vez maior com sua nova casa.


– Hoje não voltaria. Mesmo se houvesse um contato, hoje não. Principalmente agora, não tenho muita vontade, não sinto essa vontade. Se recebesse um convite, hoje, na minha cabeça, eu não voltaria – repetiu o atacante.

Fora das quatro linhas, deixou as festas de lado, passou a se cuidar e a acreditar que hoje está na melhor forma de sua carreira. A ponto de prometer muitos gols e pelo menos um título pelo Corinthians em 2015.

– O velho Love vai voltar, com certeza, não tenho dúvida disso, até porque acredito muito no meu trabalho. Estou no clube certo. É só entrar em campo e fazer o que sei: gols. Já, já, vou começar a fazer muitos. Este ano, o Corinthians vai ganhar um título. Estamos trabalhando e no caminho certo – avisou.

Vagner Love recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no CT Joaquim Grava para um papo descontraído de quase 40 minutos. Sincero e sorridente, ele não é de fugir de perguntas.

O atacante admitiu o histórico "festeiro", contou boas histórias da Rússia, elogiou sua relação com a torcida alvinegra e relembrou o dia mais aterrorizante de sua carreira: quando teve de encarar três torcedores palmeirenses "na porrada", em 2009. Mesmo sozinho, ele não fugiu da briga.




Confira abaixo a íntegra da conversa:

GloboEsporte.com: Você já está totalmente adaptado ao Brasil depois do período no Shandong Luneng, da China?

Ao clube estou, sim. É difícil não se adaptar a um grupo tão bom quanto o do Corinthians, que se relaciona bem dentro e fora de campo. O que falta um pouquinho é a readaptação ao futebol, é bem mais difícil, ainda mais depois de um ano e meio na China, um futebol bem mais parado, sem tanto contato, onde você domina a bola e consegue raciocinar, até tomar um café. Aqui é contato o tempo todo, jogos mais disputados. Essa coisa do raciocínio rápido é que pega. Agora está saindo do jeito que eu quero.



Vagner Love é só sorrisos desde a chegada ao Corinthians: nova chance de títulos

O futebol chinês é tão diferente assim?

Bastante, é muita diferença. Lá nem temos tantos jogos, tem mais tempo para treinar, preparar melhor. Aqui você chega e joga, não tem esse negócio. Às vezes o torcedor não entende isso, não tem muita paciência. Até pelo que produzi em outros lugares, querem que o Vagner Love já chegue arrebentando. Infelizmente, tem essa questão da readaptação.

Em quanto tempo você vai estar 100%?

Com esse período de treinamentos, vejo que estou melhorando. O Tite deu liberdade para eu sair um pouco mais da área, coisa que eu sempre fiz. Eu achava que tinha de ser mais referência, jogar como pivô, mas conversei com o Tite e ele deu liberdade para me movimentar e buscar mais jogo. Você fica um pouco ansioso quando fica esperando a bola, então é melhor estar sempre no jogo, pegando na bola. Essa liberdade eu pedi a ele, que me deu total apoio

Como é trabalhar com o Tite? É o melhor técnico do Brasil?

Sem dúvida, é o melhor. Já era fã do trabalho dele sem ter trabalhado junto. Hoje posso ver. A forma como ele conduz o grupo é maravilhosa. Ele incentiva, nos deixa sempre concentrados. Cobra muito de todos. Para mim, é o melhor treinador do Brasil. Esse ano que ele ficou fora serviu para aprender ainda mais do que ele já sabia.

O futebol brasileiro ainda está atrasado em relação ao europeu?

Acho que deu uma parada. O futebol brasileiro sempre esteve à frente, agora o europeu ultrapassou. Os 7 a 1 não vão acontecer de novo, dificilmente isso vai acontecer. O futebol está evoluindo, não podemos parar. Temos de progredir, crescer, aprender. Assim, o futebol brasileiro vai conseguir chegar ao topo de novo.

Você surgiu muito bem no Palmeiras, mas numa época de muitos atacantes. Ronaldo, Adriano, Luis Fabiano...

Se você surgisse hoje, com a escassez atual, teria se dado ainda melhor?

Pode ser que sim. Quando subi, realmente estava num nível muito alto. Tudo aconteceu muito rápido. Joguei um ano e meio como profissional no Brasil, numa batida muito boa, artilheiro da Série B, do Campeonato Paulista, e no começo do Brasileiro estava bem. Foi uma ascensão muito rápida. Se eu tivesse ficado mais tempo, talvez pudesse ter ido para outro centro na Europa. Não teria ido para o CSKA, que não tem tanta expressão na Europa – apesar de ter sido campeão da Copa da Uefa em 2005. Mesmo assim, não me arrependo de nada.


Love no Palmeiras, em 2003: início arrasador


Apesar de não se arrepender, fica a sensação de que faltou algo?

Fica, fica a sensação de que poderia ter jogado numa Espanha, Itália, Inglaterra... Quando estive na Rússia, chegaram duas, três propostas da Inglaterra. Mas o presidente gostava de mim, não queria me deixar sair e nunca me colocou à venda. Não aconteceu de jogar em outro centro. Fica essa coisa na cabeça. Eu teria e tenho condições de estar num centro de maior expressão.

Como foi o período na Rússia?

Como é o ambiente, a rotina, a premiação gorda a cada vitória?

Logo que eu cheguei, tinha acabado de subir aos profissionais. Nunca tinha visto tanto dinheiro, ainda mais dinheiro vivo. Eu ganhava R$ 5 mil no Palmeiras, mesmo sendo artilheiro da Série B e do Campeonato Paulista. Para o que eu estava fazendo, poderia ter sido mais valorizado.

Por isso também fui à Rússia. Lá disputamos uma eliminatória da Liga dos Campeões. Fiz três jogos, fiz gols nos três e ajudei o CSKA a se classificar. Quando chegamos em Moscou, falaram para pegarmos a premiação. Aí o cara me tira um maço de dinheiro... Achei que ele fosse tirar uma parte e me entregar. Não! Só assinei um papel e levei tudo.

Nunca tinha visto tanto dinheiro na minha frente! Tremia, não sabia o que fazer, onde guardar... Logo depois, consegui comprar uma casinha melhor para minha mãe. Fiquei muito feliz.

E guardava onde esse dinheiro?

Em casa. Colocava na bolsa, dentro do armário, e jogava lá! Não tem onde colocar, era com esse dinheiro que eu vivia, comprava roupas. Fazia gol, ganhava a premiação. O clube dava carro, casa, essas coisas. O dinheiro era para fazer o que quisesse...

Imaginamos que para você tenha sido um salto e tanto...

Para quem saiu de Bangu, com a "canela russa"?

Pô! Foi uma coisa maravilhosa para mim. Eu queria muito ter sido valorizado quando jogava no Brasil. Infelizmente, não fui. Parecia que lá estava recebendo a valorização que merecia.


Vagner Love, à esquerda, comemora a Copa da Rússia de 2013, último título pelo CSKA


Ficou um pouco de frustração pelo fato de o Palmeiras não ter te valorizado?

Na época, o presidente era o Mustafá Contursi. Meu empresário chegou a pedir aumento, ele não quis. Então, quando chegou a proposta, tive de pensar no meu lado. Eu estava começando, minha família dependia de mim. Então tive de ir.

A torcida palmeirense ainda pega no seu pé?

Ah, pega! Normal. Voltei em 2009, não tive nem uma passagem tão ruim, mas pelo time estar brigando por título e depois não ter chegado sequer à Libertadores, acharam um culpado: o Vagner Love. Tudo o que acontecia no Palmeiras, a culpa era minha. Não jogava sozinho. Aí tive um problema com três torcedores e logo depois saí.


Foi o momento mais tenso da sua carreira?

Com certeza, nunca achei que fosse passar por isso na vida. Você sai para ir ao banco, pagar uma conta, e tem três torcedores querendo te agredir. Foi um momento tenso. Uma coisa que me deixou muito chateado, triste, magoado. Aconteceu, mas sempre soube me defender. Eu estava sozinho, poderia acontecer coisa pior comigo, mas por eu ser de Bangu, não corri (risos).

Como foi a briga? Você se lembra dos detalhes?

Não corri. Correr, não vou correr. Não estava fazendo nada de errado, não estava devendo, não roubei, não matei ninguém. Vieram me agredir. Se conseguissem me agarrar, iam me agredir duramente. Seria feio, complicado. Mas sou um pouquinho rápido, um pouquinho malandro, e consegui me virar.

Eram três caras, um tentava me agarrar e dois me bater. Estávamos no estacionamento, então ia correndo entre os carros. Quando chegavam, eu tentava agredir também, senão ia apanhar muito. Aí juntou gente no estacionamento, a briga durou entre três e cinco minutos. Quando encheu de gente, eles saíram correndo e a polícia os pegou logo depois.

Qual o seu sentimento pelo Palmeiras hoje?

Tirando isso, não tenho nenhuma mágoa. Foi o time que me fez chegar onde cheguei, me fez chegar à seleção brasileira, onde fui campeão da Copa América com 19 anos. Não tenho nada a falar do Palmeiras.

Você voltaria a jogar lá um dia?

Hoje não. Mesmo se houvesse um contato, hoje não. Principalmente agora, não tenho muita vontade, não sinto essa vontade. Não digo que nunca, mas se recebesse um convite, hoje, na minha cabeça, eu não voltaria.

Olhando para os dois clubes, Corinthians e Palmeiras, quais as diferenças entre eles?

Acho que o jeito do torcedor do Corinthians é diferente, apoia do começo ao fim. Se o time não ganhar, todas as torcidas vaiam. Mas a nossa aplaudiu quando fomos eliminados numa semifinal para o Palmeiras.

Isso faz a torcida do Corinthians ser diferente. Se eu encerrasse minha carreira sem jogar no Corinthians, ficaria meio frustrado. Queria até mandar um recado para a torcida. Ela pode esperar, porque ainda vou fazer muito pelo Corinthians.




Você falou sobre essa possível frustração, mas chegou ao Corinthians com dez anos de atraso, certo?

Verdade (risos)! Lembro perfeitamente de tudo. Tive um pouco de imaturidade. As pessoas que estavam no Corinthians me fizeram dar uma coletiva dizendo que não queria ficar na Rússia, para facilitar a negociação. Era a turma do Kia (Joorabchian, iraniano ex-parceiro do clube), aquela cúpula toda. Mas não teve proposta oficial. O presidente do CSKA não recebeu nada, ele disse que me deixaria ir embora.

Mas não chegou proposta, como ele ia me liberar? Dei coletiva, fizeram camisas com meu nome... Não vesti naquela época, mas hoje sou muito feliz em afirmar que sou jogador do Corinthians. Sabia que um dia iria acontecer, e agora mais experiente e maduro.

Um gol seu já tirou o Corinthians da Libertadores, pelo Flamengo, em 2010. É hora de compensar?

Com certeza, principalmente na Libertadores. Tenho certeza de que durante essa Libertadores teremos algum momento decisivo em que vou entrar, fazer um gol e ajudar numa classificação, até mesmo num título.

Como é competir por uma vaga com Paolo Guerrero?

Não é nem uma competição, é bom você ter um elenco assim. O time vai jogar toda quarta e domingo, precisa ter mais de 11 jogadores com qualidade. É bom para o Corinthians. O Guerrero é o ídolo e artilheiro do time. Não estou competindo diretamente com ele. Quero meu espaço, claro, mas com dois atacantes em alto nível, quem ganha é o grupo.


Você se incomoda com a reserva?

Não. Todos aqui vão ter oportunidades de jogar. Pelo calendário daqui, todos terão oportunidades. Uma hora estarei em campo e tentarei sempre fazer o melhor.

Você virou profissional como um cara polêmico, até com o apelido. A história do Love é verdadeira? Você levou uma mulher para a concentração na base do Palmeiras?

Aconteceu, aconteceu realmente. Mas depois disso, me arrependi muito. Não aconselho a nenhum garoto. Isso pode prejudicar uma carreira no futebol. Foi uma coisa que acabou dando certo, mas acho que não vai dar certo para todos (risos). Surgiu o Love, no começo eu não queria, era por uma coisa errada. Aí virou aquele negócio de Artilheiro do Amor. Tá bom, né? Falaram que eu seria o único Love no mundo. Aí deixei. Não tenho de esconder nada.

O que o Vagner ainda tem de Love?

Ah, agora o "love" é só para a minha esposa. Casado, muito bem casado. Cabeça no lugar, muito feliz. Se eu encontrasse antes a mulher com quem estou hoje, teria me aposentado muito antes (risos).

O Adriano foi o melhor companheiro de ataque que você teve na carreira?

Cara, foi um dos melhores. Com certeza. Fizemos muitos gols juntos. Tive mais uns dois parceiros que gostei muito, o Edmílson, que agora está no RB Brasil, e o Jô, quando saiu do Corinthians e foi para o CSKA. Foram os caras com quem mais me identifiquei e pude fazer gols juntos. São três caras com quem gostei muito de jogar.

Você ainda pensa em seleção brasileira?

Se eu estivesse com o futebol daquela época, mais novo, com certeza eu estaria na Seleção. Agora vai depender de mim. Jogando no Brasil, com a visibilidade que o Corinthians traz, com essa carência de atacantes... Estou à disposição, só não sei se o treinador vai querer.


Love no Fla: carrasco do Timão, mas com gol que rebaixou Palmeiras em 2012


O que muda no clima entre Rio de Janeiro e São Paulo?

Na verdade, no Rio, eu só sinto falta da minha casinha, esse final de semana de folga foi bom para caramba. Pude ver minha mãe, minha irmã, apesar de estarmos pertinho.

E entre as torcidas de Corinthians e Flamengo?

São as duas maiores do Brasil, tem essa empolgação, essa força de incentivar o time, mas hoje vou para o lado da torcida do Corinthians. Não tem jeito! Claro que tive um passado muito bom no Flamengo, mas hoje a torcida do Corinthians está à frente.

Hoje, mais tranquilo, como você curte suas folgas?

Eu e minha esposa juntamos os amigos em casa, churrasquinho, bate-papo, piscina... Já não somos muito de sair, só vamos mais em restaurantes ou cinema. Ficamos muito juntos, grudados, apesar de estarmos há quatro anos. Os amigos sempre ficam à nossa volta. É disso que eu sinto falta, estar com todo mundo junto. Gosto de ter a casa cheia.

É essa estrutura familiar que te ajuda a estar mais sossegado hoje?

Quando você tem essa estrutura do lado de fora, não tem como dar errado dentro de campo. Antigamente, quando não estava casado, eu não dormia direito, não ficava com meus filhos, não curtia minha família. Hoje, com a esposa que tenho, fico mais em casa, descanso mais, me alimento melhor, treino mais, tenho mais disposição. Ela só tem me ajudado.

Dois gols em 17 jogos pelo Corinthians. É pouco?

Acho pouco, sou centroavante e gosto de fazer gols. Quanto mais eu fizer, melhor para mim e para o Corinthians. O período de readaptação foi um pouco complicado, e as coisas vão começar a acontecer. Os gols vão sair. Este ano, o Corinthians vai ganhar um título. Estamos trabalhando e no caminho certo.


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