A Câmara Municipal de São Paulo aprovou em definitivo, na última terça-feira, o Projeto de Lei (PL) 517/2010, que assegura que em todas as partidas de futebol profissional haja uma carga de ingressos destinada a torcida mista. Após aval dos vereadores, o texto agora segue para aprovação ou veto do prefeito Fernando Haddad.

Criado pelo vereador Alfredinho, o PL prevê ao menos uma área comum nos estádios, na qual torcedores de diferentes times possam sentar lado a lado. A ideia, na prática, se assemelha ao "clássico da paz" do último dia 1º de março, disputado entre Internacional e Grêmio, no Beira-Rio, pelo Campeonato Gaúcho. Na ocasião, um setor com mil lugares foi disponibilizado para torcedores das duas equipes assistirem juntos ao Gre-Nal.

Em conversa com a reportagem do LANCE!, o vereador responsável pelo PL avaliou que, por meio de torcidas mistas, os jogos de futebol teriam menos ocorrências de brigas entre torcedores. Alfredinho, contudo, encontrou dificuldades para detalhar questões práticas acerca da possível obrigação de setores comuns nos estádios. Ainda segundo o político, os gestores dos estádios, junto com a Polícia Militar, seriam os responsáveis pelo funcionamento experimental.

Confira abaixo a entrevista do vereador Alfredinho com o L!:
Qual seria a cota de ingressos destinada à torcida mista?
Não fiz questão de colocar números fechados (no PL) porque deixo isso mais para administração dos estádios, Polícia Militar, calcular na prática qual o tamanho do espaço que seria necessário. Como há o problema de segurança nos estádios, o executivo deve determinar qual seria essa porcentual. Não quero engessar o projeto em relação a segurança e a espaço.

Há no projeto de lei alguma especificação sobre qual setor do estádio seria destinado à torcida mista? Populares, caros...
Isso é algo que seria em acordo entre dois clubes. Acho que tem de ser em todos os espaços do estádio.
Inclusive os setores que atualmente são destinados a torcidas organizadas?

Sim, os torcedores muitas vezes são amigos, querem ir com marido e esposa. Falando dos torcedores comuns, que não vão para brigar, não têm por que se separerem. Que haja espaços mistos em todos os setores do estádios.
Inclusive com torcedores organizados?

Seja no setor popular, seja no de cadeiras, todos os torcedores carecem desse problema. Isso vai contriuuir para a proposta de paz nos estádios.
Quem seria responsável, na prática, pelo funcionamento dos setores de torcidas mistas?

A gestão do estádio. E a Polícia Militar a nível de segurança.
No site da Câmara diz que a paz nos estádios deve ser conquistada e não imposta. Ao obrigar estádios a terem setores com torcida mista, a lei não estaria justamente impondo a paz?
Você reserva o espaço. Não obriga o torcedor a ir. Você vai se quiser.

Se acontecer um acidente mais grave, devido a brigas entre torcedores de diferentes times, quem se responsabiliza? Vale o risco?

Qualquer coisa tem possibilidade de briga. Não dá para responsabilizar alguém pela briga num espaço deste (setor misto). A polícia é quem tem de cuidar disso e ela punir quem deve ser punido. Briga tem até entre irmãos em casa. Pode até acontecer, mas é muito menor o risco de briga em estádios caso seja aprovado o projeto. Quando é uma pessoa contra outra, o resto dos torcedores consegue separar. O que não acontece quando é torcida contra torcida, nestas brigas que vemos por aí.

Atualmente, torcedores visitantes são escoltados pela Polícia Militar e chegam ao estádio isolados dos torcedores mandantes. Com o setor misto, torcedores de duas equipes diferentes chegarão juntos de diferentes pontos da cidade. Como garantir a segurança no entorno do estádio?

A polícia tem de adotar o mesmo critério que adota para proteger os torcedores comuns. A polícia controla a separação... É, neste caso não dá para detalhar no projeto como isso seria feito. Mas assim como é determinado o setor para torcedor visitante, será determinado o setor para torcedor misto. Cabe à polícia fazer a separação, a proteção. Os promotores e a polícia é quem têm de cuidar das coisas práticas. Mas acho que dá para fazer. É só ter vontade.