Com o custo inicial de R$ 820 milhões, o Corinthians vai finalizar as obras do estádio pelo valor final de R$ 985 milhões (sem contar os juros e as estruturas complementares usadas para a Copa do Mundo), ao menos até agora. Apesar de ter sido acordado com preço fixo, no qual tudo estava incluído, a Odebrecht cobrou no meio da construção contratos adicionais, que cobrissem gastos teoricamente não estabelecidos no projeto original.
Uma auditoria, no entanto, mostra que não era necessário gastar tanto em Itaquera, como havia mostrado a revista Exame, no ano passado.
A reportagem do ESPN.com.br teve acesso ao relatório da Tessler Engenharia, empresa contratada pelo próprio clube alvinegro no final de 2013 para fazer uma análise da situação, avaliando se de fato seria necessária a assinatura de novos termos. O resultado do trabalho, contudo, nunca foi levado em conta.
De acordo com a consultoria, os R$ 820 milhões seriam suficientes para que a arena ficasse pronta exatamente da maneira que ela fora projetada.
"A documentação apresentada pela construtora não tem consistência suficiente para justificar um acréscimo nos custos de vendas orçamentárias e, por consequência, uma necessidade de aditamento do contrato para cobrir tal acréscimo. Pelo contrário, foi possível observar que ainda haveria valor disponível para aquisição de novos itens", considerou a Tessler, em relatório, como é possível verificar nas imagens ao final desta página.
Levando em conta um ou outro debate entre as partes, a empresa de engenharia avaliou que no máximo R$ 18 milhões a mais poderiam ser cobrados pela construtora, o que levaria a conta do "desperdício" para R$ 147 milhões. Mesmo com a conclusão em mãos, a diretoria corintiana decidiu acordar, cinco meses depois, um novo combinado, para que as obras não ficassem paradas.
Naquele momento, ao final de 2013, a Odebrecht argumentava que não havia mais dinheiro, que todos os recursos tinham sido gastos e que era preciso mais para a finalização das obras. Chegou, aliás, como mostra a Tessler, a sugerir cortes no escopo para que o custo final da obra permanecesse em patamar inferior aos cenários apresentados.
Entre os valores cobrados a mais estavam impostos, mudanças na cobertura do estádio, certificado de sustentabilidade, alterações arquitetônicas, entre outros. De acordo com a auditoria, porém, esses gastos já estavam contemplados no contrato original, de R$ 820 milhões (como é possível ver abaixo).
Procurado, o Corinthians não respondeu às perguntas das reportagem. A Odebrecht, por sua vez, afirmou que desconhece a auditoria e que a obra inteira foi realizada com confiança mútua entre as partes. A Tessler diz que não pode comentar por cláusulas de confidencialidade do contrato.
No item 5.2.1.4, a Tessler explica que em reunião no dia 18 de setembro a construtora sugeriu cortes no escopo para que o custo final permanecesse em patamar inferior aos cenários apresentados
De acordo com a auditoria, com o fato de a Odebrecht ter injetado recursos próprios no estádio o Corinthians deixou de ter importante ferramenta de pressão contratual ficando exposto às decisões da construtora
Tessler indica que os "extras" argumentados já estavam embutidos nos preço original, de R$ 820 milhões. Impostos, cobertura, desvio de arquitetura, certificado ambiental, etc
Auditoria explica inicialmente que R$ 104 milhões não são aceitáveis para um novo contrato
Depois, a Tessler considera que possa ter um valor a ser discutido: no máximo R$ 18,07 milhões podem ser admitidos como parte de um novo contrato, nada a mais do que isso