Bernardo Romeo, então centroavante do San Lorenzo, foi o algoz do Corinthians nas edições de 1999 e 2001 da Copa Mercosul. Atual manager do time argentino, ele acredita que o ex-companheiro Leandro Romagnoli pode decidir o novo confronto com a equipe brasileira, desta vez pela Libertadores.
O San Lorenzo eliminou o Corinthians nas quartas de final da Copa Mercosul de 1999 e fez o mesmo na semifinal dois anos depois – dos quatro jogos contra o time brasileiro, Romeo marcou em três. Artilheiro da edição de 2001 do torneio, ele é o símbolo do primeiro título internacional da história do clube argentino.
Companheiro de Romeo no San Lorenzo no final dos anos 1990, Leandro Romagnoli, chamado carinhosamente pelo amigo de “Pipi”, segue em atividade. Ele chegou a flertar com o Bahia em 2014, mas permaneceu no clube e deve iniciar o confronto com o Corinthians entre os titulares às 22 horas (de Brasília) desta quarta-feira, em Buenos Aires.
“O Pipi é muito importante para o San Lorenzo. Segue com muita técnica e classe”, elogiou Romeo, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva na véspera da partida. O centroavante encerrou a carreira em 2012 e, desde então, atua como manager do time que o tem como um de seus principais ídolos.
Gazeta Esportiva – O San Lorenzo eliminou o Corinthians nas edições de 1999 e 2001 da Copa Mercosul. Você marcou em três dos quatro jogos contra o time brasileiro.
O que lembra desses confrontos?
Romeo – Foi uma grande fase do San Lorenzo. Lembro mais da semifinal de 2001, porque fomos campeões.
No jogo de volta, disputado na Argentina, fiz dois gols e nos classificamos, mas foi uma partida muito difícil, porque o Corinthians contava com jogadores excelentes.
Depois, vencemos o Flamengo na decisão. De 1999, não me lembro muito bem. Como foi?
Gazeta Esportiva – Vocês eliminaram o Corinthians nas quartas de final, mas perderam do Palmeiras na semifinal.
Romeo – Palmeiras, na semifinal. Não lembrava.
Gazeta Esportiva – O time que o Corinthians tinha nessa época é considerado um dos melhores da história do clube, com jogadores como Rincón, Edílson, Vampeta e Marcelinho. Antes das partidas, vocês consideravam o adversário favorito?
Romeo – Tanto em 1999 quanto em 2001, o Corinthians estava muito forte. Era uma equipe que jogava bem, com os grandes atletas que você citou. Antes das partidas, você sempre tem confiança e muita vontade de avançar, mas sabíamos que o rival era bastante complicado. Por sorte, vencemos as duas vezes. Mas foram confrontos especiais, muito complicados.
Em 1999, nosso técnico era o Oscar Ruggeri e, em 2001, o Manuel Pellegrini. Também contávamos com grandes elencos e entramos na história do San Lorenzo.
Gazeta Esportiva – A Copa Mercosul 2001 foi o primeiro título internacional expressivo conquistado pelo San Lorenzo e você terminou como artilheiro (10 gols).
O que essa conquista representou para você e para o clube?
Romeo – O ano de 2001 em especial foi muito bom para o San Lorenzo, porque ganhamos o Torneo Clausura e a Copa Mercosul.
O primeiro título internacional foi algo histórico. O clube já tinha alguns títulos nacionais, mas não internacionais.
Por isso, todos os rivais zoavam a nossa torcida. Para mim, foi um orgulho ser o artilheiro.
Em seguida, o Hamburgo veio me contratar. Em 2002, o San Lorenzo ainda ganhou a Copa Sul-Americana, mas eu não participei, porque já estava na Alemanha.
Gazeta Esportiva – Em 1999 e 2001, o Corinthians mandou seus jogos no Estádio do Pacaembu.
O que você lembra dos confrontos em São Paulo? Acha que a pressão pode ser parecida no novo estádio do clube?
Romeo – Os jogos em São Paulo foram muito duros. A verdade é que você sempre respeita bastante o futebol brasileiro, porque há bons jogadores e grandes torcidas. Por isso, nós nos esforçávamos para decidir em casa e jogar um pouco mais tranquilos fora. É sempre complicado atuar no Brasil.
Da mesma forma, imagino que seja complicado para os brasileiros jogar na Argentina, não é mesmo?
Gazeta Esportiva – Sem dúvida. Parece que você gosta do futebol brasileiro...
Romeo - Eu admiro muito o futebol brasileiro, a maneira como os times se comportam e seus bons jogadores.
Naquela época, fizemos jogos lindos e muito intensos contra Palmeiras, Corinthians e Flamengo. Lembro bastante dessas partidas, porque foram disputadas entre jogadores de alto nível, já que no Brasil os times grandes sempre contam com elencos qualificados.
Como manager, Romeo homenageia Romagnoli pelos 300 jogos no clube com o presidente Matias Lammens
Gazeta Esportiva – Sei que é difícil comparar, mas você acha que a geração atual, campeã da Copa Libertadores 2014, é superior ao time que conquistou os primeiros títulos internacionais, no começo dos anos 2000?
Romeo – São tempos distintos. Aliás, agora estou trabalhando como manager do San Lorenzo. Formamos uma boa equipe, que ganhou a Copa Libertadores de 2014, algo que nos orgulha muito. Era uma conquista que ainda faltava.
Já tínhamos vencido a Mercosul e a Sul-Americana, mas faltava a cereja do bolo. Não gosto de comparar, mas uma coisa parecida entre as duas gerações é ambição e a vontade de ser campeão.
É nisso que se parece o time atual com o dos anos 2000. Estamos muito satisfeitos com esse plantel. Não vai ser fácil, mas queremos fazer uma boa Copa Libertadores nesse ano e talvez repetir o título.
Gazeta Esportiva – Aos 33 anos, o Leandro Romagnoli, seu ex-companheiro, continua em atividade. Acha que ele pode fazer a diferença contra o Corinthians?
Romeo - O Pipi Romagnoli é um símbolo do San Lorenzo, um jogador importantíssimo para nós. Embora seja um menino já adulto, segue com muita técnica e classe.
Os adversários o respeitam cada vez mais e ele continua nos dando muita satisfação. O que o Pipi proporciona ao San Lorenzo ninguém pode proporcionar. Está em final de carreira, mas sempre dá o máximo pelo time.
Gazeta Esportiva – O San Lorenzo é conhecido pela força de sua torcida. Acha que o time pode sentir por jogar com portões fechados contra o Corinthians?
Romeo - Sim, claro que a torcida é sempre um ponto a nosso favor, é fundamental. Estou vindo de uma reunião da Conmebol e lamentavelmente não será possível jogar com público.
Seria lindo enfrentar o Corinthians com toda a nossa gente, porque “la torcida”, como se fala no Brasil, é muito importante, ainda mais na Copa Libertadores. Mas esperamos uma grande atuação, independentemente do público.
Gazeta Esportiva – Como está sua vida como dirigente? Sente saudades de jogar?
Romeo – Eu me aposentei em 2012, quando escapamos por pouco do rebaixamento. A partir de outubro daquele ano, passei a atuar como manager graças à chance oferecida pelo Marcelo Tinelli e pelo Matias Lammens (vice e presidente do San Lorenzo, respectivamente).
Fizemos uma mudança profunda no clube, mudou em todos os sentidos, e os resultados têm sido bons. Estou aprendendo e disfrutando ao mesmo tempo, sempre com responsabilidade.
Obviamente, o mais gostoso é jogar e você sente falta, mas tenho a consciência de que todo ciclo termina. A torcida me respeita e gosta muito de mim. Estou bem feliz na minha atual função.