André Santos conquistou os títulos da Série B, Copa do Brasil e Paulista entre 2008 e 2009 (Foto: Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians)
Quando André Santos fala sobre Corinthians, a riqueza de detalhes nas descrições mostra como foram importantes os dois anos que ele passou na equipe alvinegra. Campeão Brasileiro da Série B em 2008, do Paulista e da Copa do Brasil no ano seguinte, o ex-lateral, agora meia, guarda os gols nas finais contra Santos e Internacional e a primeira convocação para a seleção brasileira como históricos e marcantes em sua vida.
Corintiano, André Santos diz que vestir a camisa alvinegra sempre foi um sonho, mas ele não tem certeza se voltaria ao clube: acha que a boa impressão que deixou poderia ser prejudicada caso ele não rendesse tão bem num eventual retorno.
Aos 31 anos, com passagens por Flamengo, Arsenal, Fenerbach e Grêmio, André Santos carrega convicções sobre sua vida particular que rendem discussões entre profissionais e torcedores. Defensor da liberdade dos jogadores, André Santos não deixa de sair para jantar ou curtir uma balada com a esposa e amigos, e garante não extrapolar a ponto de prejudicar seu desempenho em campo.
Esta mentalidade, embora recriminada pela maioria dos torcedores, segundo ele, não o atrapalha negociações.
- Diretores e presidentes estão mais abertos. Eles entendem que o jogador também precisa ter vida social. Estão quebrando esse preconceito.
Neste sábado, André Santos reencontra seu ex-clube e a torcida que o empurrou por dois anos, às 17h, na Arena Corinthians, pela quinta rodada do Campeonato Paulista. Ainda sem saber se vai comemorar um possível gol, ele acredita que será mais um jogo especial em sua carreira.
André Santos reencontra seu ex-clube e time do coração, o Corinthians, neste sábado (Foto: Cleber Akamine)
Confira a entrevista com o meia do Botafogo:
GloboEsporte.com - Como você acha que será jogar na arena contra o Corinthians, que se reestruturou nos últimos anos?
André Santos - Quando cheguei ao Corinthians, o clube estava se reconstruindo para voltar à Série A. Não tinha estádio, centro de treinamento, nada. Treinávamos muito tempo na Fazendinha (Parque São Jorge) e poucas atividades no atual CT, que era um campo abandonado e dois containers para tomar banho e trocar de roupa. Era complicado. Ao mesmo tempo em que o clube crescia fora de campo, nós conquistávamos títulos no gramado. O Andrés (Sanchez, ex-presidente) é um cara muito inteligente. Trouxe o Ronaldo e, com toda sua imagem, resultou em ganhos ao clube. Ele, Ronaldo, acostumado com Real Madrid, Milan e seleção brasileira, estranhou os containers, mas pode ter certeza que foi uma passagem marcante. Jamais vamos esquecer.
E o torcedor corintiano? Depois de passar por Flamengo, Arsenal, Fenerbach, Grêmio... é mais exigente? Mais chato?
- O torcedor do Corinthians exerce uma pressão muito forte. Ele apoia o tempo todo, mas se o time perde duas ou três, ele vai cobrar.
Sua relação com a torcida do Corinthians sempre foi tranquila?
Nunca tive problemas com a torcida. Uma vez estávamos, no Mato Grosso. Empatamos o jogo e depois saímos para nos divertir, comer e beber alguma coisa. Foi uma galera. Eu, Chicão, William, Dentinho, Douglas, Perdigão, todos. Aí encontramos alguns torcedores no meio da rua e eles começaram a falar "aqui é Corinthians, tá ligado?" e nos cobraram o empate. O Chicão respondeu "pô, empatamos o jogo, mas também temos vida social. Nós jogamos, fizemos o nosso compromisso e agora estamos nos divertindo um pouco". Aí o torcedor não gostou, começou a bater boca e soltou "é, aqui é vida louca". E o Chicão respondeu "aqui também é vida louca". O torcedor não gostou e jurou o Chicão: "Vamos ver lá em São Paulo se você é vida louca mesmo". No primeiro treino na Fazendinha, na saída, tinha uns 200 lá fora esperando o Chicão sair. Eles olhavam todos os carros que estavam saindo. Eu abaixei o vidro e eles perguntaram: "Cade o Chicão?". Eu disse que ele estava lá dentro e eles retrucaram: "É, ele falou que era vida louca? Então, vamos ver se agora, aqui em São Paulo, ele é vida louca mesmo". São coisas que acontecem com o torcedor. Você age na emoção. O torcedor do Corinthians cobra, pressiona, mas jamais deixa de apoiar.
É muito diferente a relação do torcedor brasileiro com o jogador de futebol se compararmos com o que acontece na Europa?
- Sim. No Brasil, tudo está legal, tudo está gostoso quando o time está ganhando. Você pode sair, jantar, ir para a balada, mas quando empata ou perde, não pode fazer mais nada. Na Europa, a cobrança é grande, mas no momento de lazer com a família, quando você quer sair pra balada, eles respeitam, querem tirar foto, chegar perto. No Brasil, só respeitam quando o time está ganhando. Não teria de ser assim. Todas as pessoas, em todas as funções, têm vida social. Por que o jogador de futebol não pode ter?
Você nunca abriu mão da sua vida social?
- Eu tenho e sempre tive minha vida social. Sei dos meus momentos, quando posso e quando não posso sair. Se o time estiver mal, não vou dar mole, ir a um bar, a uma discoteca, pois não vou dar a cara à tapa de bobeira, brigar com torcedor. Evito, mas não deixo de fazer minhas coisas. Minha mulher gosta de ir na balada, gosto de sair com a minha família e não vou deixar de curtir minha vida social porque sou atleta. Tem o momento certo. Quando tem uma folga, depois de um jogo...
Mas expor essa opinião não pode te atrapalhar?
- Diretores e presidentes estão mais abertos. Eles entendem que o jogador também precisa ter vida social. Estão quebrando esse preconceito. Quando digo isso, é minha opinião. Não que eu faça, que eu quero que outros façam. É minha opinião sobre a diferença entre Brasil e Europa. Se eu achar que devo sair, eu vou sair, sem atrapalhar meu desempenho dentro de campo. Sei me cuidar fora de campo como atleta.
Voltando a falar sobre Corinthians... Você não sonha voltar a jogar pelo Corinthians?
- Eu tinha o sonho de jogar no Corinthians e realizei. Joguei lá, conquistei títulos, conquistei o torcedor, tirei o time da Série B e coloquei onde ele realmente merece estar. Acho que a minha passagem no Corinthians foi muito boa. Jogar no Corinthians é muito difícil. O que fiz lá, vai ficar marcado na história. Sou o segundo lateral-esquerdo que mais fez gols com a camisa do Corinthians, só atrás do Wladimir. O torcedor do Corinthians reconhece o que você faz pelo clube, mas quando a fase não é boa, ele te critica, quer resuiltado. Foi assim com Ronaldo, Roberto Carlos, com Edu. São caras que ganharam muitos títulos, tiveram boas fases, mas saíram de uma forma não muito agradável. Não tenho o sonho de voltar ao Corinthians. Se acontecer, seria uma felicidade imensa. Sou corintiano, minha familia é corintiana, sou um grande torcedor e fiz grandes amigos. Uma vez Corinthians, sempre Corinthians. O Ronaldo foi campeão e em alguns momentos que ele não estava rendendo, a torcida foi em cima dele. É difícil jogar no Corinthians e tenho uma história que não gostaria de estragar.
13/02/2015 19h59 - Atualizado em 13/02/2015 20h07
André Santos reencontra Corinthians, lembra histórias e fala em "respeito"
Jogador, atualmente no Botafogo-SP, terá pela frente o time do coração no sábado. Ele diz que não irá comemorar caso marque contra a equipe alvinegra
Por Cleber AkamineRibeirão Preto, SP
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André Santos no Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians)André Santos conquistou os títulos da Série B, Copa do Brasil e Paulista entre 2008 e 2009 (Foto: Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians)
Quando André Santos fala sobre Corinthians, a riqueza de detalhes nas descrições mostra como foram importantes os dois anos que ele passou na equipe alvinegra. Campeão Brasileiro da Série B em 2008, do Paulista e da Copa do Brasil no ano seguinte, o ex-lateral, agora meia, guarda os gols nas finais contra Santos e Internacional e a primeira convocação para a seleção brasileira como históricos e marcantes em sua vida.
Corintiano, André Santos diz que vestir a camisa alvinegra sempre foi um sonho, mas ele não tem certeza se voltaria ao clube: acha que a boa impressão que deixou poderia ser prejudicada caso ele não rendesse tão bem num eventual retorno.
Aos 31 anos, com passagens por Flamengo, Arsenal, Fenerbach e Grêmio, André Santos carrega convicções sobre sua vida particular que rendem discussões entre profissionais e torcedores. Defensor da liberdade dos jogadores, André Santos não deixa de sair para jantar ou curtir uma balada com a esposa e amigos, e garante não extrapolar a ponto de prejudicar seu desempenho em campo.
Esta mentalidade, embora recriminada pela maioria dos torcedores, segundo ele, não o atrapalha negociações.
- Diretores e presidentes estão mais abertos. Eles entendem que o jogador também precisa ter vida social. Estão quebrando esse preconceito.
Neste sábado, André Santos reencontra seu ex-clube e a torcida que o empurrou por dois anos, às 17h, na Arena Corinthians, pela quinta rodada do Campeonato Paulista. Ainda sem saber se vai comemorar um possível gol, ele acredita que será mais um jogo especial em sua carreira.
André Santos, meia do Botafogo-SP (Foto: Cleber Akamine)André Santos reencontra seu ex-clube e time do coração, o Corinthians, neste sábado (Foto: Cleber Akamine)
Confira a entrevista com o meia do Botafogo:
GloboEsporte.com - Como você acha que será jogar na arena contra o Corinthians, que se reestruturou nos últimos anos?
André Santos - Quando cheguei ao Corinthians, o clube estava se reconstruindo para voltar à Série A. Não tinha estádio, centro de treinamento, nada. Treinávamos muito tempo na Fazendinha (Parque São Jorge) e poucas atividades no atual CT, que era um campo abandonado e dois containers para tomar banho e trocar de roupa. Era complicado. Ao mesmo tempo em que o clube crescia fora de campo, nós conquistávamos títulos no gramado. O Andrés (Sanchez, ex-presidente) é um cara muito inteligente. Trouxe o Ronaldo e, com toda sua imagem, resultou em ganhos ao clube. Ele, Ronaldo, acostumado com Real Madrid, Milan e seleção brasileira, estranhou os containers, mas pode ter certeza que foi uma passagem marcante. Jamais vamos esquecer.
E o torcedor corintiano? Depois de passar por Flamengo, Arsenal, Fenerbach, Grêmio... é mais exigente? Mais chato?
- O torcedor do Corinthians exerce uma pressão muito forte. Ele apoia o tempo todo, mas se o time perde duas ou três, ele vai cobrar.
o torcedor não gostou, começou a bater boca e soltou "é, aqui é vida loca". E o Chicão respondeu: "Aqui também é vida loca"
André Santos
Sua relação com a torcida do Corinthians sempre foi tranquila?
Nunca tive problemas com a torcida. Uma vez estávamos, no Mato Grosso. Empatamos o jogo e depois saímos para nos divertir, comer e beber alguma coisa. Foi uma galera. Eu, Chicão, William, Dentinho, Douglas, Perdigão, todos. Aí encontramos alguns torcedores no meio da rua e eles começaram a falar "aqui é Corinthians, tá ligado?" e nos cobraram o empate. O Chicão respondeu "pô, empatamos o jogo, mas também temos vida social. Nós jogamos, fizemos o nosso compromisso e agora estamos nos divertindo um pouco". Aí o torcedor não gostou, começou a bater boca e soltou "é, aqui é vida louca". E o Chicão respondeu "aqui também é vida louca". O torcedor não gostou e jurou o Chicão: "Vamos ver lá em São Paulo se você é vida louca mesmo". No primeiro treino na Fazendinha, na saída, tinha uns 200 lá fora esperando o Chicão sair. Eles olhavam todos os carros que estavam saindo. Eu abaixei o vidro e eles perguntaram: "Cade o Chicão?". Eu disse que ele estava lá dentro e eles retrucaram: "É, ele falou que era vida louca? Então, vamos ver se agora, aqui em São Paulo, ele é vida louca mesmo". São coisas que acontecem com o torcedor. Você age na emoção. O torcedor do Corinthians cobra, pressiona, mas jamais deixa de apoiar.
É muito diferente a relação do torcedor brasileiro com o jogador de futebol se compararmos com o que acontece na Europa?
- Sim. No Brasil, tudo está legal, tudo está gostoso quando o time está ganhando. Você pode sair, jantar, ir para a balada, mas quando empata ou perde, não pode fazer mais nada. Na Europa, a cobrança é grande, mas no momento de lazer com a família, quando você quer sair pra balada, eles respeitam, querem tirar foto, chegar perto. No Brasil, só respeitam quando o time está ganhando. Não teria de ser assim. Todas as pessoas, em todas as funções, têm vida social. Por que o jogador de futebol não pode ter?
Eu tenho e sempre tive minha vida social independente disso. Sei dos meus momentos, quando posso e quando não posso sair. Se o time estiver mal, não vou dar mole, ir num bar, numa discoteca, porque não vou dar a cara à tapa de bobeira, brigar com torcedor. Evito, mas não deixo de fazer minhas coisas
André Santos
Você nunca abriu mão da sua vida social?
- Eu tenho e sempre tive minha vida social. Sei dos meus momentos, quando posso e quando não posso sair. Se o time estiver mal, não vou dar mole, ir a um bar, a uma discoteca, pois não vou dar a cara à tapa de bobeira, brigar com torcedor. Evito, mas não deixo de fazer minhas coisas. Minha mulher gosta de ir na balada, gosto de sair com a minha família e não vou deixar de curtir minha vida social porque sou atleta. Tem o momento certo. Quando tem uma folga, depois de um jogo...
Mas expor essa opinião não pode te atrapalhar?
- Diretores e presidentes estão mais abertos. Eles entendem que o jogador também precisa ter vida social. Estão quebrando esse preconceito. Quando digo isso, é minha opinião. Não que eu faça, que eu quero que outros façam. É minha opinião sobre a diferença entre Brasil e Europa. Se eu achar que devo sair, eu vou sair, sem atrapalhar meu desempenho dentro de campo. Sei me cuidar fora de campo como atleta.
Voltando a falar sobre Corinthians... Você não sonha voltar a jogar pelo Corinthians?
- Eu tinha o sonho de jogar no Corinthians e realizei. Joguei lá, conquistei títulos, conquistei o torcedor, tirei o time da Série B e coloquei onde ele realmente merece estar. Acho que a minha passagem no Corinthians foi muito boa. Jogar no Corinthians é muito difícil. O que fiz lá, vai ficar marcado na história. Sou o segundo lateral-esquerdo que mais fez gols com a camisa do Corinthians, só atrás do Wladimir. O torcedor do Corinthians reconhece o que você faz pelo clube, mas quando a fase não é boa, ele te critica, quer resuiltado. Foi assim com Ronaldo, Roberto Carlos, com Edu. São caras que ganharam muitos títulos, tiveram boas fases, mas saíram de uma forma não muito agradável. Não tenho o sonho de voltar ao Corinthians. Se acontecer, seria uma felicidade imensa. Sou corintiano, minha familia é corintiana, sou um grande torcedor e fiz grandes amigos. Uma vez Corinthians, sempre Corinthians. O Ronaldo foi campeão e em alguns momentos que ele não estava rendendo, a torcida foi em cima dele. É difícil jogar no Corinthians e tenho uma história que não gostaria de estragar.
Qual foi o momento mais marcante na sua passagem pelo Corinthians?
- Tem o gol contra o Santos, no Pacaembu (final do Paulistão 2009), o gol contra o Inter, em Porto Alegre (final da Copa do Brasil 2009), a minha primeira convocação (para a Seleção) foi com a camisa do Corinthians. Sempre vou lembrar de tudo isso, mas jamais vou esquecer de um gol que fiz no Pacaembu, contra o Barueri. Era um jogo difícil, precisávamos ganhar e eles tinham um goleiro que pegava muito contra o Corinthians. No último lance, marquei o gol. Foi uma emoção muito grande que vou guardar para sempre, assim como os prêmios de melhor lateral do Brasileiro, do Campeonato Paulista.
E se fizer um gol contra o Corinthians neste sábado? Vai comemorar?
Acho que não. Minha família é corintiana, eu sou corintiano, respeito demais o clube. Por tudo o que passei e vivi lá dentro, acho que não. Hoje eu represento outra instituição e defendo as cores do Botafogo. Bom, vamos ver o que acontece na hora, se eu fizer um gol...