Roberto de Andrade foi eleito presidente do Corinthians no último sábado para o próximo triênio, mas teve só a noite do dia 7 para comemorar. A partir de agora, o novo mandatário terá uma dor de cabeça do tamanho de 30 milhões de pessoas: terá que lidar todos os dias com vaidades alvinegras, falta de dinheiro e problemas difíceis de resolver. É pouco? Para Mário Gobbi, não foi.
Ex-mandatário alvinegro, Gobbi estava aliviado por se despedir do Corinthians no último sábado. O ex-presidente foi bastante criticado na reta final de seu mandato e dizia em entrevistas no Parque São Jorge que “era um homem feliz e vencedor”. O dirigente visivelmente envelheceu bastante em três anos no cargo e deixa o comando até com problemas de saúde.
Mas o que Roberto de Andrade herdará pela frente? Olha, bastante coisa. E algumas das pendências já começam a estourar agora. Ou seja, o ex-diretor de futebol alvinegro não terá nem mesmo tempo de respirar para analisar a situação alvinegra. O trabalho deve começar para ontem. Veja abaixo os principais desafios da nova administração:
1 – Renovação emperrada de Guerrero
Guerrero participa de treino do Corinthians
Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Este é o primeiro e talvez mais árduo pepino que Roberto de Andrade terá pela frente. Principal astro corintiano, Paolo Guerrero pede valores astronômicos para renovar o contrato que vai até julho deste ano. A pedida de R$ 18 milhões de luvas é considerada irreal e fora do alcance alvinegro, segundo a diretoria, que já trouxe Vagner Love de graça para a posição. Por um lado, não renovar significa perder a principal referência e ídolo da torcida. Por outro, ceder ao peruano compromete as receitas do time. Na primeira coletiva, Andrade despistou sobre o caso.
“Contratar o Love não é recado para ninguém. Pensar no Corinthians forte, temos o Guerrero por mais cinco meses e o Vagner veio para somar. Vamos disputar Paulista e Libertadores, queremos muito ganhar e a ideia é fortalecer o grupo”, destacou Roberto de Andrade.
2 – Naming rights e pagamento do estádio
Arena Corinthians ainda não teve naming rights vendido
Foto: Fernando Dantas / Gazeta Press
Outra “bomba-relógio” com data para estourar. No meio do ano, o Corinthians terá que pagar a primeira parcela, de R$ 100 milhões, da construção da Arena em Itaquera. O time já arrecadou cerca de metade do valor, entre bilheteria e eventos no local, e terá que penar para conseguir dar o restante do montante ao fundo até o pagamento. Até sanar a pendência, toda bilheteria está atrelada à dívida, o que complica – e muito – a receita corintiana.
Parte do pagamento do novo estádio será através dos naming rights do local. A venda do nome da Arena Corinthians, liderada por Andrés Sanchez, está bastante atrasada. No último sábado, tanto Sanchez quanto Roberto de Andrade falaram sobre o assunto e prometeram a negociação para “breve”.
“Não é fácil a gente conseguir uma empresa disposta a pagar o valor que o Corinthians quer”, disse Roberto. “Óbvio que não esta fácil, tem duas ou três empresas trabalhando em cima dos naming rights. Torcedor e imprensa, fiquem tranquilos que vamos fechar os naming rights. Está atrasado? Está. Mas vocês podem esperar que vai ser um pontapé muito bem dado”, completou Andrés.
3 – Dívidas
A situação financeira do Corinthians não é nada fácil. Processos fiscais recentes contra a equipe fizeram o montante a pagar disparar, o que complicou o dia a dia alvinegro. A equipe tem dificuldades para pagar salários e deixou de contratar reforços para 2015 por causa da difícil situação. A dívida corintiana saltou de R$ 193,7 milhões em 2013 para R$ 313,5 milhões em 2014. Para complicar, o diretor financeiro Raul Corrêa da Silva deve sair do cargo ocupado nos últimos anos.
“Vamos sanar as dividas internamente, diminuindo as despesas e aumentando as receitas. Vamos ter um ano difícil, o time esta pronto, não requer investimento. O que temos que fazer é trabalhar”, falou Andrade.
4 – CT da base
O Corinthians prepara há anos a criação do Centro de Treinamento da base alvinegra. A equipe já tem o terreno e o aval da Lei de Incentivo ao Esporte, mas ainda carece de recursos para finalizar o local que funcionará como formação de talentos. Será mais uma pendência para o próximo presidente.
“O CT da base não tem nada a ver com o caixa do clube. O que o clube tinha que investir já investiu, que são os campos. O que temos que fazer agora é usar o incentivo ao esporte, conseguir uma empresa para ajudar. O projeto já está aprovado e temos que captar o dinheiro no mercado”, contou Roberto de Andrade em sua posse.
5 – Continuidade?
Andrés Sanchez, Roberto de Andrade e Mário Gobbi: grupo segue no comando do Corinthians
Foto: Paulo Lopes / Futura Press
Outra incógnita será sobre o caminho que Roberto de Andrade tomará nos próximos anos: seguirá a trilha do criticado Mário Gobbi, de sua chapa, ou tentará revolucionar a forma com a qual o Corinthians foi conduzido? Perguntado diretamente sobre o assunto em sua primeira entrevista no cargo, o novo presidente saiu pela tangente: “vamos dar continuidade naquilo que acertamos e mudar naquilo que erramos. Simples assim”.
6 – Sem verba para reforços
Corinthians perdeu Dudu para o Palmeiras por falta de dinheiro
Foto: Fernando Dantas / Gazeta Press
Torcedor corintiano, esqueça contratações milionárias como a de Alexandre Pato. Nos próximos anos, muito provavelmente você verá o time atual jogar na Arena Corinthians, com uma ou outra alteração pontual, como a contratação de Vagner Love sem custos. A situação financeira corintiana não é fácil e o novo presidente decretou austeridade em seus primeiro discurso – no entanto, foi ele o responsável quase direto pela maioria dos reforços contratados nos últimos meses.
7 – Relação com Palmeiras e rivais
Paulo Nobre tinha boa relação com Corinthians
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
A situação corintiana teve que lidar na última semana do mandato com uma briga armada com a diretoria do Palmeiras sobre a questão dos ingressos no Allianz Parque. Desde Andrés Sanchez, que chegou a rachar com o São Paulo também por causa de ingressos, a convivência corintiana com os adversários vive um limite. O relacionamento com o Palmeiras de Paulo Nobre era bom, mas inerentemente foi estremecido na última semana. Gobbi acha que está tudo normal.
“O fato está superado, eu disse ontem na coletiva que é uma página virada. Foi um equívoco corrigido a tempo, portanto não há mágoas nem nada. Seguimos parceiros do Palmeiras”, disse Mário Gobbi, em sua última entrevista como presidente do Corinthians, no miniginásio do Parque São Jorge.
8 – Clube social revitalizado
Clube social é uma das preocupações do presidente
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
O clube social é, obrigatoriamente, um setor que recebe grande atenção do presidente corintiano. O assunto angaria votos, já que o eleitorado da eleição direta é composto por sócios do clube. Antônio Roque Citadini chegou a espalhar pelo Parque São Jorge placas com projetos para o clube, na tentativa de angariar de última hora o eleitorado indeciso e frequentador das áreas internas. Roberto de Andrade, por sua vez, prometeu revitalizar o patrimônio alvinegro, mas terá que fazer isso com a realidade financeira complicada.
9 – Oposição cada vez mais forte
Oposicionista Antônio Roque Citadini recebe os sócios com um sorriso no rosto
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
Apesar de ter ganho a eleição para o próximo triênio, a situação corintiana foi bastante ameaçada pela oposição. A eleição chegou ao dia decisivo sem favoritos e foi vencida de 57% a 43%. Unidos, os oposicionistas Antônio Roque Citadini e Paulo Garcia são fortes para desafiar a situação nos próximos anos e fiscalizar a equipe. Nomes antigos da situação, como Luis Paulo Rosemberg, também migraram para o grupo que fica cada vez mais forte.
“Todos querem o bem do Corinthians. Que todos sejam felizes, a partir de hoje quero que rememos pelo mesmo caminho”, pediu Andrés Sanchez após a vitória do candidato que apoiava.