O futebol brasileiro em 1963 ainda desfrutava o prestígio do bicampeonato mundial conquistado no ano anterior. Somado ao tempo de preparação para a temporada, o moral do esporte nacional no continente era um prato cheio para o presidente Wadih Helu organizar excursão do Corinthians pela América do Sul. E foi assim, entre jogos festivos fora de casa, que o Timão jogou pela primeira vez em Manizales e chamou tanta atenção que teve até os seus jogadores aliciados por clubes colombianos.

No Aeroporto de Viracopos, em Campinas, a delegação alvinegra deixou o Brasil em 10 de janeiro daquele ano para fazer escala em Lima, no Peru, e chegar a Bogotá apenas no dia seguinte. Os sete jogos não oficiais marcados na Colômbia e no Peru tinham intuito de arrecadar dinheiro, além de preparar o time para o Torneio Rio-São Paulo.

“Naquela época, os grandes no início do ano faziam uma temporada de excursões. Ficávamos um ou dois meses fora em todos os cantos do mundo, ou mesmo no interior do Brasil. Era uma forma de testar e preparar o time para os campeonatos”, lembra Silva, até o hoje o único corintiano a balançar as redes em Manizales. O meia-esquerda que anotou 89 gols em 140 partidas disputadas pelo Corinthians entre 1961 e 1964.

Na estreia da sequência de amistosos, o Alvinegro superou chuva de granizo e provocação para bater o Nuevo Santa Fé por 1 a 0. Mas o resultado logo foi ofuscado quando um “descontrolado” Corinthians perdeu de 4 a 2 do Millonarios após tomar três gols em menos de 30 minutos. Portanto foi em clima de reabilitação que o Alvinegro chegou a Manizales para enfrentar o Once Caldas, duelo disputado no dia 23 de janeiro de 1963.

À época, o time colombiano era tratado apenas pelo último nome pelo jornal A Gazeta Esportiva. Isso porque trocava de identidade com certa frequência, numa confusão de batismos que passava de Deportes Caldas a Atlético Manizales em menos de dez anos. O caso é que nenhuma denominação dizia algo aos torcedores brasileiros, visto que a equipe aparecia pouco no cenário internacional.

Mas os colombianos conheciam bem o Campeão dos Centenários, tanto que 20 mil deles compareceram ao Estádio Palogrande naquela quarta-feira. Em campo, o Once Caldas segurou o Alvinegro na força, em estratégia que culminou em confusão envolvendo o ponta-direita Marcos.

“Eles faziam muita catimba, os caras são muito chatos mesmo. Batem e depois caem. Batiam, batiam, sempre provocando os jogadores do Corinthians. Era sempre a mesma coisa”, defende-se o ex-jogador 52 anos depois de revidar agressão de Arango e ser expulso junto com o marcador.

“Eles jogam muito com o cotovelo. Chegam junto mesmo”, lembra Marcos, que traça paralelo com o duelo atual entre Timão e Once Caldas. “O próprio Guerrero saiu (foi expulso na última quarta-feira) porque o cara provocou. Entrou uma vez na costela, provocando. E, naquela época, eu era jovem, tinha 17 anos. Com os caras batendo e o juiz arrumando o jogo para eles, é difícil.”

Perdendo um de seus atacantes, o Corinthians usou da bola parada para marcar seu gol e vencer por 1 a 0. Silva saiu do banco de reservas para cobrar falta com precisão e decretar a vitória alvinegra em Manizales. Cinco décadas depois, o Alvinegro nem precisa superar os colombianos ou a arbitragem em seu retorno ao Estádio Palogrande. Como o Timão abriu 4 a 0 no jogo de ida, pode perder até por três e ainda assim avançará na Copa Libertadores da América.