Roberto de Andrade e Antonio Roque Citadini são os candidatos à sucessão de Mário Gobbi no Corinthians
A dois dias de eleger um novo presidente para o próximo triênio, o Corinthians divulgou que a sua dívida saltou para R$ 313,5 milhões em 2014 – e ainda tem um estádio bilionário para começar a pagar. Administrar essa crise financeira será a principal missão do mandatário que substituir Mário Gobbi a partir deste fim de semana, o situacionista Roberto de Andrade ou o oposicionista Antonio Roque Citadini.
O pleito ocorrerá no Parque São Jorge a partir das 9 horas até as 17 horas deste sábado, com mais de 11.000 sócios do Corinthians aptos a votar e representar 30 milhões de torcedores. Representante da chapa Renovação e Transparência, que tem o ex-presidente Andrés Sanchez como principal expoente, Roberto de Andrade conta com André Luiz Oliveira, o André Negão, e Jorge Kalil como os seus vices. Já Roque Citadini, da Pró-Corinthians, tenta se eleger ao lado de Osmar Stábile e Emerson Piovesan.
Roberto de Andrade foi diretor de futebol (cargo atualmente ocupado por Ronaldo Ximenes) durante a gestão de Gobbi e continuou a ser participativo nos últimos meses. Ele teve papel decisivo para o retorno de Tite ao Corinthians – o presidente atual queria a permanência de Mano Menezes, em apenas uma das muitas discordâncias com os aliados de Andrés Sanchez.
“Quando sou chamado, estou sempre à disposição do Corinthians”, comentou Roberto, para justificar o fato de ainda ser ativo nas decisões do clube. “Mas, apesar de a gente estar vivendo um momento político, sou da situação. Então, estou junto com o Mário Gobbi até o final. Sempre que sou chamado, auxilio naquilo que posso, sem problema algum”, discursou.
Gobbi, no entanto, contrariou mais de uma vez os desejos da Renovação e Transparência. Roberto negou que o racha tenha começado à época da demissão de Tite e da chegada de Mano Menezes. “Ninguém agiu sozinho naquela situação. Foi um consenso. Muito se fala que eu jogo a culpa no Mário, mas resolvemos isso todos juntos. É lógico que a gente sentiu pela pessoa do Tite, mas existia a dinâmica de mudar”, afirmou.
Seja como for, Antonio Roque Citadini tirou proveito da situação. Até o ainda vice-presidente Luis Paulo Rosenberg, homem de confiança situacionista desde a época de Sanchez, hoje manifesta apoio à oposição. “Quem julga uma gestão é a história. O presidente Mário Gobbi lutou, mas enfrentou um sério problema em seu mandato: o conflito dele com o ex-presidente Andrés Sanchez. Foi algo um pouco escamoteado, mas causou danos nas relações dentro do clube. Sou um pouco beneficiário disso, porque muita gente que é ou foi da diretoria acabou aderindo à minha campanha”, comentou o candidato.
Citadini nem seria o representante da oposição no pleito deste sábado. Inicialmente, o nome a ser lançado era novamente o de Paulo Garcia, derrotado por Sanchez e pelo próprio Gobbi em eleições anteriores. Ao contrário da situação do Corinthians, contudo, a oposição se uniu para obter sucesso nas urnas.
“A minha campanha teve um trajeto interessante. Houve um processo de agregação e composição com vários grupos dentro do clube. O Paulo era o candidato, mas, em um ato de grande cordialidade, passou a me apoiar”, recordou Citadini, contando também com os votos de quem queria Ilmar Schiavenato como presidente – o antigo concorrente teve a sua candidatura impugnada. “Boa parte dos eleitores do Ilmar estão insatisfeitos com as questões do clube, então a tendência é votarem em mim. Se eles fizeram uma chapa, é porque estavam divergentes com a situação do Corinthians.”
Novo mandatário corintiano terá a missão de negociar com Guerrero, que quer receber alto para renovar
O principal motivo das divergências é financeiro. O Corinthians devia R$ 101,5 milhões na época em que o grupo de Andrés Sanchez assumiu a presidência, valor mais do que três vezes maior agora. A receita também subiu sensivelmente, porém investimentos como o realizado na contratação do atacante Alexandre Pato fizeram o clube se complicar.
“O Corinthians não está quebrado. Todo o mundo gosta de falar isso, mas está longe de ser verdade. Como qualquer empresa, o clube pode passar por um momento de dificuldade. Não é novidade para ninguém que o Corinthians foi o primeiro e único time brasileiro acionado pela Receita Federal. Tivemos que fazer um aporte grande para cumprir com esse parcelamento, o que comprometeu o fluxo de caixa. Por isso, 2015 ainda será um pouco difícil, para não dizer bastante, mas teremos uma boa folga em 2016”, garantiu Roberto de Andrade.
Para Citadini, o Corinthians deve tratar o assunto como prioridade. “A verdade é que estamos com dificuldades. Temos um clube magnífico, que deve exercer um papel importante neste novo momento do futebol. Com uma administração equilibrada, podemos contribuir muito para mudar esse quadro de parcelamento de impostos a cada quatro, cinco anos. É preciso romper esse ciclo”, bradou, lembrando que o problema interfere dentro de campo. “Isso vale para qualquer clube: quem tiver as suas finanças em dia conseguirá montar grandes times. Não é esse negócio de bom e barato, que é bobagem e, em geral, se faz com ruim e caro. Clube com finanças em dia ganha títulos!”, exclamou.
Apesar de não ter as finanças em dia, o Corinthians conquistou muitos títulos nos últimos anos. E gastou ainda mais para montar grandes times. “Concordo que o Corinthians fez alguns excessos, mas tínhamos para gastar naquele momento. Só que o dinheiro fugiu do futebol por causa da Copa do Mundo, da crise, por vários aspectos que deixaram o mercado bem escasso na parte publicitária. Aí, perdemos receita, mas os compromissos continuaram os mesmos. Esse desencaixe nos deixou apertados”, justificou Roberto.
O aperto é tamanho que o Corinthians corre sério risco de perder o seu principal jogador. O centroavante peruano Paolo Guerrero gostaria de receber R$ 18 milhões só de luvas para renovar o seu contrato, com validade até 15 de julho. “O Guerrero é um excelente jogador, com uma importância muito grande para o Corinthians. Ele tem o direito de pedir esse valor, mas acho um pouco exagerado. Não é que ele não mereça, mas está fora da realidade do futebol brasileiro e principalmente do momento que vivemos”, avisou Roberto de Andrade, irritado porque o atleta comparou os seus vencimentos com os de Alexandre Pato.
Rezando para que o Corinthians consiga vender Pato, a quem critica com gosto, Citadini só estranha o fato de Roberto de Andrade estar tão inteirado sobre as negociações em andamento no clube. “O meu concorrente anunciava a contratação disso e daquilo. Como a maior parte não deu certo... Anunciaram o Conca, e não veio. O Dudu, e não veio. O Jonas, e não veio. Dizem que vão renovar com o Guerrero agora, e eu acho ótimo, porque é um grande jogador e deve continuar no clube”, disse, rindo.
A construção do bilionário estádio de Itaquera endividou ainda mais o Corinthians na gestão de Gobbi
Mais do que a renovação de Guerrero, Roberto de Andrade gostaria de divulgar um acerto para a venda dos direitos de nome do estádio de Itaquera. O negócio de aproximadamente R$ 400 milhões seria um alívio para o clube, que criou um fundo bancário com a única finalidade de quitar o seu estádio. “Não conseguimos vender os naming rights ainda, mas continuamos trabalhando. Uma negociação está próxima de dar resultado ou ao menos de alcançar o seu final”, informou o situacionista.
Citadini não chega a contestar a aposta que o Corinthians fez na construção de uma arena em Itaquera. Ao contrário. “O estádio é disparado o melhor da Copa do Mundo. É claro que vai ser um sufoco para pagar, mas há vários aspectos muito positivos. Salvamos São Paulo de ficar sem a Copa. Além da importância que tivemos para a Zona Leste, a nossa casa ficou em um reduto de corintianos. Sei que a receita de bilheteria, pelo menos a maior parte dela, estará comprometida para pagar a obra, mas não há problema”, defendeu.
Os pontos em comum entre Roberto de Andrade e Antonio Roque Citadini não vão muito além do mármore de Itaquera. O candidato da situação, por exemplo, acha que é a melhor opção para os sócios preocupados com as instalações do Parque São Jorge. “Temos um clube social maravilhoso. Foi o nosso grupo que fez tudo o que hoje é desfrutado ali. Mudamos o Corinthians. Faço parte disso e me lancei à presidência porque acho que posso fazer ainda mais”, disse.
Atacado por já ter supostamente minimizado a importância da sede social, Citadini avisou: “Nunca disse que aterraria as nossas piscinas. Eu só defendia que deveríamos separar a gestão do clube da gestão do futebol. Todo o mundo concordou, tanto é que fazemos assim hoje em dia. Tenho grandes projetos para o nosso clube social, que é de enorme importância e pode ser ampliado com novos esportes, como corrida, bike, skate... Foi o clube social que sustentou o futebol do Corinthians por muito tempo. Nada mais justo que o futebol faça o mesmo agora. Deveríamos pegar 5% da receita para isso. Temos história em esportes olímpicos como o basquete, que desapareceu”, comentou.
O maior desacordo entre os dois possíveis sucessores de Mário Gobbi aparece quando o tema é as categorias de base. “Os meninos precisam ser 100% do Corinthians. É muito bom ganhar títulos, mas gostaria que os jogadores fossem nossos, que ganhassem mais espaço no time principal. Todo o mundo admite isso, inclusive a situação, que acha que foi um erro perder porcentual dos atletas para empresários. É algo que precisa ser corrigido. Sei que é difícil enfrentar o empresariado, mas um clube grande como o nosso pode fazer isso”, declarou Antonio Roque Citadini.
Roberto de Andrade acha que o Corinthians não pode fazer o que Citadini quer. Ele lembrou o caso do meia-atacante Lucas, em que a diretoria se recusou a satisfazer os desejos do atleta, que parou no São Paulo e posteriormente no Paris Saint-Germain, da França. “Se eu falar que teremos 100% de todos os jogadores, seria demagogia. Quem fala isso não conhece o funcionamento da base. É melhor ter 50% de um menino do que deixá-lo estourar em outro lugar. Quando um Lucas vai embora, a gente é chamado de incompetente. Você está errado sempre”, lamentou.