5/2/2015 08:12

Para Citadini, Corinthians pode mudar história do futebol e do país

Oposicionista na eleição presidencial, Citadini diz que país sofre crise de gestão e que futebol brasileiro só irá mudar quando os clubes reagirem contra a CBF e as federações

Para Citadini, Corinthians pode mudar história do futebol e do país
Candidato da oposição à presidência do Corinthians, Antonio Roque Citadini atacou a estrutura do futebol brasileiro e afirmou que os clubes precisam reagir contra a CBF e as federações. Para ele, não haverá mudanças no país, se o movimento não começar nos grandes clubes, principalmente no próprio Corinthians.

– Porque se o Corinthians tiver uma atuação diferenciada no conjunto dos clubes sinalizará mudanças importantes no país. Porque eu digo que o presidente do clube não é para cuidar da sauna ou da peteca ou do futebol social ou do baile do fim de semana. Pela responsabilidade do Corinthians, pelo tamanho, tem de pensar o país, o que precisamos fazer para mudar o futebol brasileiro como um todo – disse, na segunda parte da entrevista concedida ao LANCE!, que publica série especial da eleição corintiana.


Citadini defende ainda Libertadores estendida para times dos Estados Unidos e redução dos campeonatos estaduais, que poderia ser como uma Copa, com primeira fase de grupos e mata-matas, tudo disputado em apenas um mês.
– Os estaduais vão se transformar no futuro em uma Copa. Que pode ser até eliminatória, essa é a realidade. Os estaduais viraram campeonatos de preparação para o Campeonato Brasileiro. Acho que terá cada vez menos espaço. Ideal seria aumentar a Libertadores. Imagina com a capacidade americana de marketing e de negócio, você ter numa Libertadores quatro ou cinco times dos Estados Unidos? – questiona o candidato.

Vice do ex-presidente Alberto Dualib entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000, o dirigente, porém, nunca chegou a levantar a bandeira das ideias que enumera hoje. Mas promete ser ativo, caso vença o pleito do próximo sábado, no Parque São Jorge, contra Roberto de Andrade, apoiado por André Sanchez, líder do grupo que detém o poder no Corinthians desde o segundo semestre de 2007.

Veja trecho da entrevista sobre esses temas

L!Net - Você diz que a Seleção Brasileira deu vexame nas duas últimas Copas do Mundo e cita a geração ruim do futebol brasileiro. Como se o problema principal fosse este.

Não, são vários. Os dirigentes como regra se entregaram para agentes. Estamos vivendo uma notável crise futebolística. Nas duas últimas Copas do Mundo tivemos dois times péssimos. Tivemos derrotas técnica, política e de gestão. Não afasto a responsabilidade dos dirigentes. Tem dirigente que fala como se não tivéssemos apanhado de 7 a 1 da Alemanha. Flutuam por aí como se nada tivesse ocorrido. Nada está bem. Do ponto de vista técnico, físico e de gestão também.

L!Net - Estamos nos afastando do assunto Corinthians, mas vamos voltar já...
Sei, mas tudo é Corinthians. Porque se o Corinthians tiver uma atuação diferenciada no conjunto dos clubes sinalizará mudanças importantes no país. Porque eu digo que o presidente do Corinthians não é para cuidar da sauna ou da peteca ou do futebol social ou do baile do fim de semana. Pela responsabilidade do clube, pelo tamanho, tem de pensar o país, o que precisamos fazer para mudar o futebol brasileiro como um todo.

L!Net - Parte do seu discurso sobre mudanças e sobre a responsabilidade do Corinthians também foi feito pelo Andrés Sanchez, quando ele se posicionou como oposição a José Maria Marin na sucessão do Ricardo Teixeira, de quem ele era aliado. Está faltando uma geração talentosa de dirigentes também, não?

Está faltando, também não sei se o Andrés é exatamente uma mudança nos moldes como estou falando. Não é de nome, é conceitual, para entrar em uma nova fase do futebol.
L!Net - Qual é o conceito básico que precisa mudar?

Olha, temos de mudar várias coisas, a primeira coisa: mudança no futebol brasileiro nasce no clube ou no governo. Se for esperar mudança em CBF ou federação, não haverá. As duas mudanças que tivemos nos últimos 50 anos que foi contribuição de federação, de CBF. Uma: campeonato de pontos corridos que foi imposição do Ricardo Teixeira [a partir de 2003] e a Copa de 58, que a CBF terceirizou a preparação da Seleção para um grupo aqui de São Paulo. Foram as grandes contribuições. No mais não tem.

L!Net - Mudança de calendário, para começar, altera algo nesse cenário?

Sou favorável a ajustar o calendário, mas sou contra adequar ao europeu. Isso é uma aventura porque sabemos o que é jogar no dia 5 de janeiro com o sol a pique. O mundo inteiro descansa no verão, se prepara no outono e joga outono, inverno e primavera e volta a parar no verão. Se estivéssemos no hemisfério norte, eu seria favorável a mudar. O que sou favorável a mudar, e aí o Corinthians precisa ser arrojado porque é ele que pode mudar, é retomar a ideia fundamental de transformar a Libertadores da América em Libertadores com clubes de toda a América, é fundamental.

L!Net - O novo presidente da Conmebol cogitou essa possibilidade em entrevista ao LANCE!Net, mas disse ser difícil por causa das restrições de entrada nos EUA...

Não tem problema nenhum, é mais fácil ir para o Estados Unidos do que ir para o México. Se tivéssemos um campeonato com quatro ou cinco times dos EUA, com um de Miami, um de Los Angeles, um de Nova York, um de São Francisco... Mudaria a cara da Libertadores, viraria um campeonato europeu, anual, com mais datas, mais espaço.

É muito mais interessante para o Corinthians ir jogar em Miami do que jogar no interior da Bolívia. Com todo respeito à Bolívia, ela deve ter uma representação, mas uma representação diminuta. Precisamos lutar por isso. O Corinthians tem de participar de campeonato que tenha nível de liga europeia. Não podemos ficar imaginando que a Libertadores, no modelo atual, com Venezuela, vai alterar grande coisa.

L!Net - E os Estaduais? Onde ficam ou com que tamanho ficam nesse modelo?

Os Estaduais vão se transformar no futuro em uma Copa. Que pode ser até eliminatória, essa é a realidade. Os estaduais viraram campeonatos de preparação para o Campeonato Brasileiro. Acho que terá cada vez menos espaço. Ideal seria aumentar a Libertadores. Imagina com a capacidade americana de marketing e de negócio, você ter numa Libertadores quatro ou cinco times dos EUA? E o bom é que eles não iam ganhar nada, pelo menos nos primeiros dez anos (risos).

L!Net - O G4 dos grandes paulistas, a formação da Liga de clubes brasileiros...
É uma boa ideia, acho que há um espaço de interesse conjunto para se discutir assuntos, mas não dá para fazer isso com uma única e obsessiva ideia: "Precisamos unir os clubes para fazer o Corinthians e o Flamengo ganharem dinheiro da TV igual a todos".

Aí não dá para ninguém.
L!Net - Acha justo Corinthians e Flamengo receberem cerca de R$ 120 milhões da TV pelo Brasileirão e o terceiro clube menos de R$ 70 milhões?

Justíssimo. Porque acontece o seguinte: quem define o valor é o mercado. Se paga um valor X, paga querendo um retorno. A Globo ou outra emissora aqui no Brasil faz o que nos outros países não existe: transmissão aberta de futebol. Nos outros países, futebol é TV fechada. Aí é mais fácil. Porque você tem um pacote do Milan (ITA) e vê os jogos do Milan. O mesmo com o Catania (ITA). E cada clube recebe de acordo com o que vende. Então aí tudo bem. Agora, aqui é TV aberta, que precisa do futebol e o futebol ajuda muito. TV aberta não pode pôr para transmitir Sport x Coritiba na Globo às 16h. Se botar, a Globo afunda! Não estou falando bobagem nem desrespeitando os clubes. A Globo ainda bota jogos regionais, para SP, Sul, o Rio de Janeiro, que ela não abandona nunca... Se quiserem mudar o nosso sistema, vai tudo para o pay-per-view com cada um vendendo o seu pacote.

L!Net - Essa regra do mercado para vender direito de TV não vale para jogador também?
Sim, mas quem vai pagar salário alto é o Corinthians e quem tem mais receita. É um contrassenso clube que tem receita menor pagar salário maior do que o nosso. Se acontece, estamos errados em alguma coisa.


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