4/2/2015 07:55
Eleição no Timão: ‘Temos de aprender a trabalhar com essa receita menor’, diz Roberto de Andrade
Candidato da situação e indicado por Andrés, Andrade cita títulos da gestão Gobbi e diz que culpa pelas dívidas que superam os R$ 240 milhões são do cenário econômico ruim do país
oberto de Andrade é candidato à presidência do Corinthians
O LANCE!Net começa publica uma série especial de entrevistas com os candidatos a presidente do Corinthians. Antonio Roque Citadini, pela chapa 11 "Pró-Corinthians", de oposição, e Roberto de Andrade, pela chapa 10 "Renovação e Transparência", da situação, disputam a eleição que acontecerá no próximo sábado, a partir das 9h, no Parque São Jorge.
Na última terça-feira, Citadini foi o personagem da primeira entrevista. Na quinta e na sexta-feira, as entrevistas serão divididas por outros temas importantes, como posicionamento do clube no contexto nacional, incluindo formação da liga de clubes, calendário, Bom Senso F.C. e aspectos econômicos.
PRIMEIRA PARTE
Ex-diretor de futebol da gestão de Mário Gobbi Filho, Roberto de Andrade foi indicado para ser presidente do Corinthians por Andrés Sanchez há mais de um ano e tem se preparado para, como ele diz, dar continuidade à fórmula de sucesso que fez o clube saltar da Série B do Brasileiro para o título mundial de 2012. Para ele, não importa se o déficit em 2014 supera a marca dos R$ 30 milhões nem se o clube está com as contas combalidas. Andrade enumera as conquistas e rechaça a rejeição que o nome de Gobbi pode lhe dar: Libertadores, Mundial, novo estádio, CT moderno, receita que chegou a superar os R$ 300 milhões por ano.
Na primeira parte desta entrevista exclusiva ao LANCE!Net, o candidato também fala sobre sua participação em negociações para contratar jogadores entre dezembro e janeiro, liderando o “poder paralelo” no clube, sem anuência do atual presidente. Andrade afirma apenas que ajudou quando lhe procuraram, com discurso semelhante ao que seu mentor, Andrés, costuma usar para negar que ainda atua nos bastidores.
– Na realidade, não é que eu participo das negociações, é que faço parte do mesmo grupo político que preside o clube hoje. A gente participa com palpite, com orientação, com alguma coisa que ajude – diz o candidato.
LANCE!Net - Mário Gobbi Filho está deixando a presidência muito criticado. O que você, como candidato da situação, faria de diferente do que foi feito por ele nos últimos três anos?
Não acho que faria muito diferente. O que há de diferente são modelos de gestão, a maneira como cada pessoa leva a administração. Eu tenho a minha, o Mário tem a dele, o Andrés tem outra. Mas a gente não tem de mudar muito. O que nós fizemos no clube nos últimos sete anos foram fórmulas de sucesso. Temos de aprimorar e melhorar muita coisa, sabemos que houve erros, mas vamos aprendendo e corrigindo, essa é a ideia.
L!Net - O clube fechou o ano com um déficit de mais de R$ 30 milhões.
É uma soma de fatores. Tínhamos uma receita há três anos bem superior à que temos hoje, até pela economia no país que regrediu. Temos de ajustar e reduzir despesas. Vamos retornar e fazer isso com mais afinco. Precisamos lidar com essa nova receita menor do que era há alguns anos. Vamos trabalhar para fazer crescer a receita também.
L!Net - A gestão do Gobbi antecipou cotas de TV e prorrogou contratos com a Nike, até 2025, e com a SPR, até 2019, e não poderá usar receita com bilheteria que está comprometida para pagamento do estádio. Como se manter ativo no mercado e não perder jogadores como Dudu para o Palmeiras, Jonas [volante do Sampaio Correa] que teve o negócio desfeito, e o goleiro da Chapecoense, que foi contratado sem a diretoria saber?
Vamos por partes: não foram jogadores perdidos porque não eram do Corinthians. Com Jonas havia negociação, mas ele não foi contratado porque não cabia no bolso do Corinthians. E o goleiro não existiu nada com relação a ele. Isso foi criado pela imprensa, nunca conversamos com ele. Então, a gente tem de se adequar as receitas do futebol. A bilheteria vai para o fundo que administra a arena, mas a gente tem outras receitas. O fato de ter antecipado alguma coisa da Globo não diminui a nossa receita porque ela é diluída ao longo dos anos. Ela não afeta em um curto prazo. E temos a camisa e outros licenciamentos para buscar receita.
L!Net - O caso do Jonas é curioso porque, segundo a atual diretoria, saltou de R$ 700 mil no início da negociação, em agosto, para R$ 3 milhões por apenas 50% dos direitos...
Pelo que eu tenho conhecimento nunca saltou de nada para nada. A negociação era para R$ 1,5 milhão. Mas o Mário achou por bem deixar para um futuro próximo, se é que a gente vai ter oportunidade de contratar o atleta. Mas os valores nunca foram esses.
L!Net - Você se afastou da diretoria de futebol para cuidar da campanha. Não acha que os demais candidatos também deveriam participar das negociações para contratar jogadores, já que você tem feito isso?
Na realidade, não é que eu participo das negociações, é que faço parte do mesmo grupo político que preside o clube hoje. A gente participa com palpite, com orientação, com alguma coisa que ajude. Mas eu não faço negociação, quem faz é o presidente, é o diretor, é o Edu Gaspar que comanda, não sou eu que estou à frente. Vamos deixar isso bem claro. O que faço é normal. A única diferença é que sou da situação e estou junto com o Mário.
L!Net - Não há poder paralelo no clube?
De maneira nenhuma. Isso é um desrespeito ao presidente do clube que está lá até o dia 7.
L!Net - Na gestão do Gobbi também houve mal estar em alguns momentos por causa da participação ativa do Andrés Sanchez. Como pretende lidar com essa situação?
Repito: nós somos do mesmo grupo político. Vocês dizem que existe racha, mas não existe racha nenhum. Se tenho de conversar com alguém que tenho abertura maior, como Andrés, eu o procuro. Se ele pode ajudar, ele ajuda, da mesma forma que eu faço.
L!Net - Você disse que o Andrés seria seu diretor de futebol. Como ele poderia conciliar esse cargo sendo deputado federal?
Essa resposta cabe a ele e ele já deu. Disse que não tem tempo, que tem de se dedicar ao cargo dele em Brasília, então não será.
L!Net - Com relação à renovação do Guerrero, deve ficar para o próximo presidente...
Não sei, estamos em janeiro ainda. Pode ser que o Mário converse com ele e se acerte. Eles estão trabalhando. Pode ser que fique para o próximo presidente também.
L!Net - É possível pagar o valor que os empresários dele estão pedindo?
Se você olhar para o atleta, claro que tem de pagar, mas temos de ver a situação do clube também. Vamos conversar e chegar num meio termo. Se couber no bolso do Corinthians, tenha certeza de que o clube vai renovar.
L!Net - O Corinthians tem caixa para pagar o valor das luvas à vista?
Não sei, preciso ver como estão as contas. Acho que é preciso aguardar porque, se tivesse, já teriam renovado com ele.
L!Net - Acha que as dívidas que o Corinthians tem, como com Tite e alguns jogadores, fizeram o Corinthians perder credibilidade e levaram o Guerrero a cobrar as luvas à vista?
Não, acho que não. O jogador costuma ser individualista neste ponto. E também não sei se são cinco jogadores que estão com direitos de imagem atrasados.
L!Net - Sobre as categorias de base... Gobbi disse que a prioridade dele seria reestruturar as categorias de base, até porque ele entendia que o Andrés tinha de priorizar o time profissional. Mas a missão dele não foi cumprida...
Vai ficar para esse próximo mandato, seja quem for o presidente, acabar o CT da base. A gente não conseguiu angariar os recursos da Lei de Incentivo ao Esporte que já foram aprovados, com tudo certinho, mas é preciso recolher os recursos. Mas a base não foi esquecida, tanto é que os resultados deste anos foram expressivos, de vitórias e títulos. O que a gente está sofrendo é com o local de trabalho. Uma parte fica no clube e outro vai para Guarulhos, onde temos parceria com o Flamengo de Guarulhos. E tenho certeza de que quando terminarmos o CT da base, integrado com o profissional, a gente vai ter um acréscimo violento de qualidade. Mas de fato a gente tem de terminar o CT da base e isso vai mudar da água pro vinho com certeza.
L!Net - O que fazer para não perder esse patrimônio da base. Hoje o Corinthians revela muito menos do que revelou em um passado recente...
Mas todo mundo, né? Não adianta achar que vai tirar um Neymar por minuto da base. Nos últimos anos, quem foi revelado? Só Neymar, não tem dois. O resto é tudo bom jogador. O fora de série, que todos querem, é dificil. A Lei do Passe, que acabou, dificultou a missão do clube. O menino desponta, chama atenção, qualquer outro clube pode encostar na família dele e aí vem o agente ou a família pedindo 50%...
L!Net - Não há como evitar isso?
Não tem defesa para isso.
L!Net - A oposição diz que só vai negociar com os pais dos garotos.
Mas normalmente não é o agente que exige, é a família mesmo. Os clubes procuram os pais, oferecem "Vem jogar com a gente porque nós pagamos X milhões". E o clube onde ele joga às vezes não pode pagar aquilo na hora. Foi o caso do Lucas, que foi para o São Paulo. Não conseguimos segurar e o São Paulo levou.
A negociação já começa assim: "Fulano me oferece X por cento". Pode ser feito dizendo: "Só fica no Corinthians se for 100% do clube"? Pode ser feito, mas corre o risco de perder os bons jogadores. Talvez com a nova Lei da Fifa que não permite que empresas tenham direito econômico de jogador pode ser que nos ajude um pouco, mas também não tanto porque o atleta ainda poderá ter. Mas esse assédio até os 16 anos é impossível de você evitar.
E depois dos 16 anos, você faz um contrato de quatro anos, mas no meio do caminho ele não é mais aquilo que você esperava e você tem de continuar pagando. É um momento de difícil decisão e é muito fácil de você errar.
A vida não é tão fácil. Fácil é falar "A base é toda dividida", mas não pense que é assim... Você acha que não chegam a propor 100% para o atleta? A grande maioria dos garotos do Corinthians ainda pertence ao Corinthians. Mas em alguns momentos você tem de ceder.
L!Net - Para pagar uma dívida com Fernando Garcia, o Corinthians cedeu partes de Malcom, Matheus e Arana...
Não, mas aí é diferente, foram vendidos direitos de imagem por opção do clube. A diretoria achou por bem, precisava de dinheiro e fez o negócio.
L!Net - Fernando Garcia diz que era uma dívida que você assumiu, quando diretor de futebol, na negociação para impedir a saída do Ralf para a Fiorentina.
Não, não, não. A dívida sim, mas a forma de pagar não precisava ser essa, podia ter sido outra. Eu não estou lá, não posso responder. Os atletas são ativos do clube. Se você tem de saldar uma dívida, um compromisso, e não tem dinheiro no caixa, você tem de arrumar um jeito. Por isso vendeu partes dos meninos para pagar. Não condeno, já foi feito no Corinthians, outros clubes também fazem, o Santos acabou de fazer isso também... Faz por uma necessidade, não faz por opção.
L!Net - Você comentou sobre a nova medida da Fifa de proibir participação de empresários nos direitos econômicos dos atletas. Como vê o futuro dos clubes com esse novo cenário?
Em um curto prazo, atrapalha um pouco, mas a longo o clube vai se adequar e haverá menos contratações. Porque hoje em dia você contrata com parceiros, com ajuda de investidores, e eles querem lucrar com isso, o mundo gira assim. De uns anos para cá, você vê que os clubes já estão contratando muito menos do que contratavam antes. O caso do Palmeiras foi atípico porque está fazendo reformulação, contratou 14 jogadores, mas não deve existir num futuro próximo.
L!Net - Como será sua relação com as torcidas organizadas do Corinthians, que tem participação ativa dentro do clube?
Não existe participação dentro do clube. Eu fui diretor de futebol do clube por pouco mais de três anos e a gente sempre teve diálogo tranquilo. Elas cobram, querem ver o time ganhando, nós também. Acho que a conversa sempre é o melhor remédio para qualquer problema. Acho que não tenho, nunca tive e espero não ter problema com torcida também.
Nota da redação: Roberto de Andrade era diretor de futebol quando mais de cem integrantes de facções invadiram o CT do clube, agrediram e roubaram funcionários e ameaçaram jogadores, em 1 de fevereiro do ano passado.
L!Net - Andrés terá que participação no clube e na arena, caso você seja eleito?
Será de ex-presidente. Como vai ter o Mário também...
L!Net - Mas Andrés ainda representa o Corinthians no fundo que administra o estádio.
Sim, e continuará. Ele foi nomeado pelo fundo, não foi nomeado pelo Corinthians, e o presidente do Corinthians participa junto. Pelo que me consta ele continua, a não ser que não queira.
L!Net - A política de preço de ingressos do estádio do Corinthians também continuará?
É difícil falar, viu... Sempre cito que estamos com pouquinho mais de seis meses e ainda estamos fazendo testes. Não sei se vamos baixar nem subir. Vamos sempre fazer o melhor para o sócio e sabemos que o melhor é lotar o estádio. Estamos preocupados com isso e antenados para fazer o melhor para os sócios.
L!Net - Você fala sempre "nós", "a gente", como fazendo parte mesmo das decisões...
Não, eu falo "a gente" porque sou corintiano, sou do grupo do Mário e saí da diretoria recentemente. Como aliás todo torcedor se refere ao nosso time, e o time não é de ninguém. Não me sinto nada, a eleição é dia 7. E é normal falar que vou ganhar, você não queria que eu dissesse para você que vou perder, senão não estaria aqui.
L!Net - A questão é como desvincular seu nome da gestão do Gobbi, que está sendo muito criticada por torcedores e sócios?
Mas não vejo necessidade de desvincular imagem nenhuma. Mário fez uma grande gestão, não podemos esquecer. Foi campeão mundial, campeão da Libertadores, brasileiro, da Recopa, paulista... Não é pouco. As melhorias que foram feitas no clube, que está bem mais bonito, foram na gestão do Mário. Nós fazemos parte do mesmo grupo e não tem de desvincular não.
L!Net - Você disse que a sede está bem mais bonita. Mas o que fazer com a Fazendinha, que está abandonada há algum tempo?
A gente vai estudar, há algumas conversas com alguns grupos que querem fazer um investimento junto com o Corinthians e transformar aquilo numa arena para show, vamos sentar e chamar para ouvir os projetos, ou manter o estádio como está e melhorar... Pode ser uma grande oportunidade para conseguir novas receitas. Tudo é possibilidade que vamos estudar.
L!Net - Que outras propostas você tem para a sede, o Parque São Jorge?
As melhorias... É tornar a vida do sócio melhor do que ela já está.
L!Net - De que forma?
Melhorando as instalações sempre. Isso é uma obrigação do clube, deixar o sócio com mais conforto sempre, melhorar o serviço. Para o clube ser uma extensão da casa do sócio.
L!Net - Os naming rights do estádio estão atrasados há três anos. Acha possível fechar o acordo mesmo depois da Copa?
Acho. Na realidade, a gente fala três anos, mas esse timing não estava na nossa mão. Houve várias conversas, mas não se chegou a um acordo. A gente vai continuar discutindo números, mas sabe também que o momento do país não é o melhor. Existe uma crise em todos os seguimentos e a gente vai ter de se adequar. Vamos ver o que virá.
L!Net - Você participou de algumas das reuniões com os empresários dos Emirados Árabes, para onde o Andrés viajou algumas vezes? Porque você chegou a falar com convicção que seria anunciado antes do fim do ano passado.
O que sei é que houve conversas e estamos no aguardo de uma solução da parte deles, se está fechado ou não está fechado, mas parece que essa resposta de concordância ou discordância ainda não houve. Então, acho que não está esgotado ainda. E outras empresas também foram ouvidas. Então, estamos esperançosos que ainda podemos ter um bom contrato com o nome do estádio sim.
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