31/1/2015 08:50

Guia dos estádios: na era das arenas, interior mantém tradição e nostalgia

Os detalhes, as histórias e curiosidades de 15 palcos tradicionais do futebol paulista

Guia dos estádios: na era das arenas, interior mantém tradição e nostalgia
Mapa tem concentração de times no sudeste do estado e algumas regiões carentes (Foto: Arte / Eduardo Teixeira)

A Copa do Mundo de 2014 deixou um legado de novas arenas ao Brasil e revolucionou a maneira de se ver uma partida no estádio no país. Padrão Fifa, cadeiras numeradas, telões e muita modernidade. Já no último Brasileirão, as arenas do mundial tomaram conta: Arena Corinthians, Arena da Baixada, novo Maracanã, novo Mineirão, novo Beira-Rio, entre outros, como os novos campos de Grêmio e Palmeiras, que, mesmo sem Copa, seguem a linha.

Para os saudosistas, há ainda uma fuga para a nostalgia e a manutenção de costumes: os campeonatos estaduais. Mesmo o mais rico deles, o Paulistão, mantém a tradição. As barracas de comida do lado externo, arquibancadas de puro concreto, tubulares ou até mesmo de grama, os "figurões" colados no alambrado, a velha geral e aqueles construídos pelas mãos da própria torcida.

Os 16 times que tentarão passar por cima do favoritismo de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo – como fez o Ituano na última edição – contam com alçapões com a cara do século XX, ajustados para os dias atuais. Alguns deles passaram por reformas para receberem treinos de seleções na Copa, caso de Campinas (Portugal), Itu (Rússia), Ribeirão Preto (França) e Sorocaba (Argélia e Japão), mas não perderam sua cara.

Além de Vila Belmiro, Morumbi, arenas de Corinthians e Palmeiras, e, eventualmente, o Pacaembu, são mais 15 casas oficiais. Com seus times locais nas divisões inferiores do estadual, locais como Brinco de Ouro (Campinas), Alfredo de Castilho (Bauru), Jayme Cintra (Jundiaí), Fonte Luminosa (Araraquara), Martins Pereira (São José dos Campos), Rua Javari (Mooca, capital) e Teixeirão (São José do Rio Preto), em princípio, estão fora da elite, mas podem ser alugados, como é o caso do jogo Santos x RB Brasil, que será no Teixeirão.

Dos 15 estádios no guia, há uma concentração no sudeste do estado. O maior deles, no entanto, fica no norte paulista: o Santa Cruz, em Ribeirão Preto, com capacidade atual para quase 30 mil pessoas. Mas aquele com menos lugares vazios, com o Paulistão 2014 como referência, é o Primeiro de Maio, em São Bernardo do Campo, no ABC, campeão com 66% de ocupação de média.

Algumas regiões são carentes de representantes, como o Vale do Paraíba, Vale do Ribeira e extremo oeste.

Confira a lista:

ESTÁDIO AUGUSTO SCHMIDT (SCHMIDTÃO)



O primeiro jogo do Rio Claro em seu novo estádio, fundado em 1973, foi contra o Corinthians. Apesar da euforia da torcida rioclarense com a nova casa, o Galo Azul acabou derrotado por 2 a 1. No segundo jogo em casa, nova derrota para outro grande da capital. Desta vez, o time do interior perdeu para o São Paulo, por 1 a 0. Mas, apesar das duas derrotas iniciais nos amistosos, a vitória sobre o maior rival, o Velo Clube, na terceira apresentação, por 1 a 0, animou os torcedores e afastou qualquer tipo de pessimismo com a nova casa. Mas, desde que o Rio Claro disputou a principal divisão do futebol paulista pela primeira vez, em 2007, o clube sempre teve que elevar a capacidade de público do Schmidtão e instalar as chamadas arquibancadas tubulares, passando dos atuais 6.400 lugares para 15 mil, o mínimo exigido pela FPF.

ESTÁDIO BARÃO DE SERRA NEGRA



Jubão fica no alambrado do Barão de Serra Negra os 90 minutos de jogo (Foto: Guto Marchiori)

É considerado o alçapão do XV de Piracicaba. A fanática torcida pressiona os adversários nos jogos em casa. Um torcedor em especial tem até uma placa para infernizar os técnicos adversários.

Trata-se de Jubão, que fica atrás do banco de reservas dos visitantes, junto ao alambrado, batendo o tempo inteiro na placa e gritando sem parar. No local também é possível encontrar a tradicional pamonha de Piracicaba, marca registrada da cidade.


ESTÁDIO BENTO DE ABREU sampaio vidal (abreuzão)



O Marília é o que viverá o maior contraste entre as novas arenas e tradicionais estádios nas primeiras rodadas. O Tigrão estreia no Paulistão contra o Corinthians, na arena do Timão, onde ocorreu a abertura da Copa. Na rodada seguinte, recebe o Rio Claro, no popular Abreuzão, que volta a receber jogos do Paulistão após cinco anos, tempo em que o MAC ficou fora da elite. É um estádio versátil. Recentemente abrigava o time na Série A3, em 2012 e 2013, e tem no dia 15 de março o jogo mais esperado na temporada, quando receberá o Santos.

ESTÁDIO CARLOS COLNAGHI



Um dos estádios mais novos da primeira divisão paulista (perde apenas para as arenas de Corinthians e Palmeiras e para o José Liberatti, usado pelo Osasco), o local utilizado pelo Capivariano recebe partidas oficiais desde 1992, mas agora passou por uma grande reforma. Tudo para atingir as exigências feitas pela Federação Paulista de Futebol.

Curioso é que, enquanto os times do interior conservam aspectos antigos em seus estádios, a cidade de Capivari tenta transformar o seu em arena multiuso. Para isso, fez novos lances de arquibancadas, duplicou a capacidade do local (7,5 mil para 15 mil torcedores) e promete adequações para receber modalidades de esportes radicais. As obras só acabarão no fim de 2015.

ESTÁDIO GILBERTO SIQUEIRA LOPES (GILBERTÃO)





O acesso para o Paulistão 2011 deu ao Linense a oportunidade de enfrentar grandes equipes do futebol paulista e bater recordes de público no Gilbertão – o maior deles foi em 2013, quando 13.069 pagantes viram o Elefante bater o Corinthians, que, futuramente, seria campeão daquele ano. O grande "barato" de se ver é uma partida em Lins é o espetáculo formado pelo grande bandeirão que cobre toda a arquibancada tubular atrás de um dos gols.

ESTÁDIO JOSÉ LIBERATTI




O José Liberatti, conhecido em Osasco carinhosamente como "Rochdalão", por ficar no bairro do Jardim Rochdale, é um dos estádios com menos história do Paulistão, até por ser relativamente jovem, uma vez que foi inaugurado em 1996, em um amistoso entre Corinthians e Palmeiras.

O local será casa do Osasco Audax a partir da terceira rodada, já que o time inverteu o mando com o Palmeiras na estreia para receber a renda e conseguir pagar as taxas da federação. Sem grandes partidas oficiais em sua história, o José Liberatti já abrigou jogos de vários outros clubes. Um dos mais curiosos foi a vitória do Juventus por 1 a 0 sobre o Fluminense, em 1998, que colaborou para a queda do clube carioca para a Série C do Brasileirão.


ESTÁDIO MOISÉS LUCARELLI (MAJESTOSO)



O Majestoso tem como diferencial o fato de ter sido construído pelas mãos dos próprios torcedores. Foram os pontepretanos, liderados pelo patrono Moysés Lucarelli, que levantaram o estádio, tijolo a tijolo. Até por isso, é considerado um templo para a nação alvinegra. Outra curiosidade é que a linha de trem que passa atrás do estádio já serviu no passado de arquibancada para quem não conseguia entrar. Passou por recentes obras de modernização para receber a seleção portuguesa durante a Copa do Mundo, mas está com os dias (anos) contados. A Ponte pretende iniciar a construção da sua arena ainda no primeiro semestre de 2015. E projeta mudar de casa em até quatro anos. O local também será casa do RB Brasil, caçula da elite.

ESTÁDIO NABI ABI CHEDID



Pela proximidade com São Paulo, o Nabi Abi Chedid também serve para receber partidas de equipes que estão com o estádio interditado. A equipe também vai receber jogos do Atibaia pela Série A3 do Paulista e da Portuguesa, na segunda rodada do Paulistão. Para 2015, a meta é fazer o estádio voltar a receber um grande número de torcedores. Por isso, o presidente Marco Chedid vai doar os ingressos para a torcida do Braga no primeiro jogo, contra o São Bernardo. Quem for ao local pode conhecer o restaurante do estádio, que fica no nível do gramado. É possível assistir ao jogo comendo o tradicional sanduíche de linguiça de Bragança Paulista.

ESTÁDIO NOVELLI JÚNIOR





Casa do atual campeão paulista e local de treinos da seleção russa última Copa do Mundo, o estádio Novelli Júnior tem bom status e pinta de moderno – todos os assentos são numerados e os espaços para imprensa são bem estruturados. As reformas para o Mundial de 2014 o transformaram em um complexo com prédios para academia, hidroginástica, fisioterapia, centro de mídia, estacionamento e, principalmente, campos exclusivos para treinamento para a seleção russa, herdados pelo Ituano. Apesar de todas as conquistas dentro e fora de campo no último ano, o local ainda mantém o "jeitão" de um estádio interiorano.

ESTÁDIO OSWALDO TEIXEIRA DUARTE (CANINDÉ)



O estádio Osvaldo Teixeira Duarte, mais conhecido como Canindé, fica localizado no bairro homônimo, próximo à Marginal Tietê, na Zona Norte da capital paulista. Com capacidade atual para cerca de 21 mil torcedores, a casa da Portuguesa tem como principal atrativo a culinária. Os bolinhos de bacalhau do quiosque no estacionamento, os tremoços e pastéis de Belém nas arquibancadas fazem sucesso entre os torcedores.

O terreno onde se localiza o Canindé pertencia antes a um clube de colônia alemã, que o acabou repassando ao São Paulo durante a Segunda Guerra. Mais tarde, em 1956, o Tricolor adquiriu o Morumbi e vendeu o estádio para a Portuguesa.

ESTÁDIO PRIMEIRO DE MAIO



Lula, na arquibancada do Primeiro de Maio
(Foto: Gustavo Tilio/Globoesporte.com)


Assim como no ano passado, o Primeiro de Maio
deve estar entre os líderes de público do Campeonato Paulista, já que a torcida do São Bernardo costuma comparecer em bom número ao local. Porém, nos anos 80, era outro tipo de aglomeração que se formava dentro e fora de campo.

Isso porque o estádio se tornou um dos símbolos da luta dos trabalhadores por melhores condições nos anos 80. Era lá que multidões deliberavam suas greves, muitas vezes comandadas pelo então sindicalista e hoje ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, que discursava para milhares de pessoas. Lula chegou a ir ao Primeiro de Maio acompanhar jogos nos últimos tempos.

ESTÁDIO ROMILDO FERREIRA



Inaugurado em 7 de julho de 1981, o estádio que abriga jogos do Mogi Mirim já teve quatro nomes. Começou como Vail Chaves, presidente de uma companhia elétrica na década de 30 e responsável por ceder a área para a construção do campo, então nas mãos do poder municipal. O nome ficou inalterada até o início dos anos 90 (e voltou rapidamente no início de 2013, em curto período que o pentacampeão Rivaldo deixou a presidência).

A primeira mudança partiu de Wilson Fernandes de Barros, que, na função de presidente do Sapo (cargo que ocupou por 27 anos), fez uma auto-homenagem e pôs o próprio nome no estádio. Ainda no poder, o cartola alterou mais uma vez em 2005, para Papa João Paulo II. A quarta e última troca foi feita assim que Rivaldo assumiu o poder, em 2008. O craque decidiu homenagear o pai, Romildo Vitor Gomes Ferreira, nomenclatura que causou discórdia na cidade, mas segue até hoje.

ESTÁDIO SANTA CRUZ





Santa Cruz, palco das finais do Paulistão de 1995 e 2001, recebeu, durante a Copa do Mundo, a delegação francesa. As exigências dos azeuis deixaram o vestiário do mandante, no caso o Botafogo-SP, mais moderno, com duas piscinas com turbilhões e água aquecida, novos chuveiros, armários e pintura. O gramado, com investimento e padrão Fifa, ganhou status de primeiro mundo, mas foi castigado recentemente pelo show do DJ internacional David Guetta, e foi poupado durante a pré-temporada botafoguense.

ESTÁDIO TENENTE CARRIÇO (TENENTÃO)





Penápolis é a cidade-sede do Paulistão mais distante da capital. São quase 500km até São Paulo. A característica plana da geografia do município permite aos moradores atravessarem seus extremos de bicicleta. Por muitos anos, o meio de transporte também foi levado para dentro do estádio Tenente Carriço. Até 2007, quando o Penapolense estava na quarta divisão paulista, o costume se manteve. No entanto, com o time na elite, a diretoria do CAP recorda os torcedores que é proibido entrar com bicicletas nas arquibancadas. O Tenentão será palco da estreia do São Paulo no Paulistão 2015.

ESTÁDIO WALTER RIBEIRO (CIC)





Apesar de ter sido inaugurado na década de 1970, o Walter Ribeiro, ou CIC – Centro de Integração Comunitário, é um dos estádios mais jovens do Paulistão. Antes de mudar para lá, o São Bento atuava em um estádio construído pela própria torcida, o Humberto Reale, que por muitas vezes recebeu Pelé e o time histórico do Santos na década de 1960 e hoje é o centro de treinamento do clube sorocabano. Apesar da ausência do São Bento na elite paulista nas últimas sete temporadas, o CIC recebeu jogos do Paulistão com o rival Atlético Sorocaba.

O Azulão costuma ter excelentes públicos para o padrão do interior. O clube teve as melhores médias nas duas competições que disputou em 2014: a Série A2 e a Copa Paulista. Quando lotam as arquibancadas, é costume em Sorocaba a torcida atrás do gol subir alguns degraus até a grama e ver o jogo de um "barranco" de grama.



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15384 visitas - Fonte: GE

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