Os refletores do Estádio de Itaquera já estavam apagados, e o gramado, praticamente vazio. Cerca de meia hora após o encontro do pai Corinthian com o filho Corinthians, no último sábado, Danny Bracken permanecia parado, no centro do campo, chorando copiosamente.
Não foi o único momento de emoção do goleiro (muito) amador na viagem ao Brasil do Corinthian-Casuals. Chamado assim desde a fusão com o Casuals, em 1939, o time que inspirou a fundação do clube do Parque São Jorge voltou ao país para uma semana que encheu com frequência os olhos do jogador de lágrimas.
A primeira vez foi logo na chegada, com surpreendente festa dos torcedores do Corinthians Paulista no Aeroporto de Cumbica. Recepcionado como ídolo e realizando sonho que não conseguiu na tentativa de se profissionalizar, Bracken entrou no ônibus da delegação e desabou.
“Danny realmente chorou. Queria muito que o pai dele visse aquilo”, explicou Chris Watney, diretor-comercial e dublê de centroavante do Corinthian inglês. O pai do goleiro fez de tudo para tornar o filho jogador de seu amado West Ham e não pôde acompanhar a excursão por problemas de saúde.
De longe, o velho observou pela internet a boa atuação do arqueiro de 24 anos na partida mais importante de sua vida. Com a ajuda de uma defesa firme, o camisa 1 segurou o ataque do Corinthians até os 33 minutos do segundo tempo em um estádio com mais de 25 mil pessoas.
“Acho que fui OK. Um goleiro tem que proteger o gol. Fiz algumas defesas, três acabaram entrando. Era para ser”, disse à Gazeta Esportiva Bracken, que chegou a crer no 0 a 0. “Como um goleiro, você tem que ter essa convicção. Você tem que acreditar que vai proteger aquele gol.”
Ao menos, o guarda-metas do Corinthian-Casuals fez algo que Petr Cech, do também londrino Chelsea, não conseguiu: parou Paolo Guerrero. Só não resistiu a um chute de Danilo desviado na zaga. “A trave é do mesmo tamanho sempre.
As pessoas chutando em mim eram um pouquinho melhores desta vez.”
Se não fechou o gol até o apito final, Danny Brecken teve um desempenho que encheu de orgulho o pai, na experiência mais próxima que teve do futebol profissional. O sonho não foi completamente deixado de lado, mas o inglês sabe que provavelmente o ponto alto de sua carreira será mesmo a derrota para o Corinthians.
“Significou tudo. Em minha vida inteira, desde os cinco anos, meus pais me deram o máximo de treinamento para que eu me tornasse um jogador profissional. Não aconteceu, por um motivo ou outro, mas ter a oportunidade de atuar na frente de tantos fãs... É incrível”, sorriu.
"WELL PLAYED"
O sonho de retornar à Inglaterra com as luvas de Cássio foi realizado com sobras por Danny Brecken. Na conversa após a derrota por 3 a 0 do Corinthian-Casuals para o Corinthians, o arqueiro trocou gentilezas com o herói da conquista alvinegra no Mundial de 2012.
“Ele falou: ‘Really well played’”, orgulhou-se o camisa 1 inglês, mencionando sua partida “muito bem jogada” na avaliação do camisa 12 brasileiro. O elogio foi retribuído, embora os visitantes tenham chegado pouco ao ataque para incomodar os visitantes.
“Tive jogos como o que o Cássio teve. Você não faz defesas, mas precisa estar concentrado o tempo todo. Quando ele teve que fazer algo, fez perfeitamente. É esse o nível a que eu quero chegar. Provavelmente, não vai acontecer, mas vou continuar treinando e trabalhando duro para isso”, disse Bracken.
Provavelmente, não vai acontecer, mas o goleiro seguirá jogando com o amor ao esporte que mostrava nas categorias de base do West Ham. Se o sonho de ser como Cássio ficou distante, ele ao menos pôde viver uma jornada inesquecível.
Por isso, meia hora após o fim do jogo, Danny colocou a camisa do arqueiro famoso no rosto e chorou.
Na incrível semana que viveu, Bracken celebrou aniversário com o companheiro Watney e com corintianos
Terminado o amistoso em Itaquera, Bracken trocou de uniforme com Cássio. Além da camisa e das luvas que pediu ao goleiro brasileiro, ganhou elogios de que não se esquecerá e chegou à Inglaterra com os olhos inchados, cansado de chorar. “Não somos pagos, mas, no fim do dia, o futebol é um jogo. Fiz o melhor que pude.”