Luís Marcelo Morais dos Reis, o Lulinha, tem apenas 24 anos, mas possui uma quantidade incrível de histórias no mundo do futebol. Revelado na base do Corinthians, o meia passou por Bahia, Ceará e Criciúma nos últimos anos, além do futebol português e das seleções brasileiras de base. Nesses times, vivenciou uma série situações inusitadas, como a tocaia preparada por um torcedor logo após o rebaixamento corintiano para a Série B do Brasileirão, em 2007.
Aconteceu em Porto Alegre, pouco depois do empate por 1 a 1 com o Grêmio, que decretou o rebaixamento da equipe alvinegra para a Segundona. Quando os atletas entraram no ônibus, um integrante de torcida organizada estava escondido no banheiro do veículo, pronto para bater em quem aparecesse na frente.
"O cara era daqueles tipo 'armário', gigantesco!", lembrou Lulinha, aos risos, em entrevista à Rádio ESPN.
"No time do rebaixamento tinha o [atacante] Clodoaldo, que era todo metido a valentão. E adivinha quem foi o primeiro jogador que o torcedor viu quando saiu do banheiro? O Clodoaldo! O cara foi pra cima e ele ficou branco, morrendo de medo (risos)! A gente depois conseguiu controlar, mas virou motivo de piada no grupo. A gente falava pro Clodô: 'Ué, cadê sua coragem toda? Você não disse que ia para cima?' (risos)", contou.
Hoje, Lulinha ri do momento tenso, mas, à época, a situação não foi encarada como brincadeira. O torcedor foi preso pela polícia em Porto Alegre, mas acabou liberado no dia seguinte.
Outra boa história do meio-campista no Corinthians é a de sua chegada ao Parque São Jorge. Aos oito anos, o atleta jogava futsal em um time de São Caetano do Sul, no ABC paulista, junto com o amigo Rafael Pipoca. Um dia, o clube alvinegro se impressionou com o talento de Pipoca e o chamou para um teste no campo. Lulinha foi junto para acompanhar o parceiro.
"Estava de calça, sem chuteira nem nada para jogar. O técnico olhou para mim e perguntou se eu não queria fazer um teste, e eu disse que sim. Como eu estava sem nada naquele dia, só fiquei correndo ao redor do campo. Só que o Pipoca foi aprovado, e o treinador mandou eu voltar na semana seguinte. Daí fiquei enchendo o saco do meu pai para me levar, e voltei. Fui super bem no teste e acabei entrando para o Corinthians", recordou.
Na base corintiana, tanto Lulinha quanto Rafael Pipoca, que jogava como lateral esquerdo, tiveram sucesso. No entanto, ambos seguiram rumos bem diferentes na vida.
Lulinha vai disputar o Paulistão pelo Red Bull Brasil
"Nós jogamos juntos um tempão. O Pipoca era craque, foi até campeão da Copinha em 2009 pelo Corinthians, passou pela Itália, mas acabou depois desistindo do futebol e foi trabalhar na NET. Começou instalando TV a cabo, mas hoje está bem e tem um cargo legal lá", revelou o meia, que, recentemente, acertou com o Red Bull Brasil para disputar o Campeonato Paulista.
"Estou impressionado com a seriedade e a estrutura do time. Algumas pessoas ainda não conhecem, mas deixa muito clube de Série A no chinelo. A organização deles e forma como eles trabalham com o futebol é muito boa mesmo, coisa de primeiro mundo", elogiou o ex-corintiano.
Seleção de resenhas
Dos tempos em que jogou nas seleções de base, Lulinha também guarda muitas resenhas das boas. Durante o Sul-Americano sub-17 de 2007, quando o atleta ficou mundialmente famoso ao marcar um gol a la Maradona contra o México, ele passou por um episódio com o meia Bernardo, ex-Cruzeiro e Palmeiras, atualmente no Vasco, que lhe faz gargalhar.
Foi na estreia do torneio, contra o Peru. As equipes empatavam por 1 a 1, com um gol de Lulinha, quando o Brasil teve um pênalti ao seu favor. O corintiano era o bater oficial, mas Bernardo lhe pediu a bola. O vascaíno tinha só 16 anos, mas seu primeiro filho havia acabado de nascer, e ele queria marcar um gol para homenagear o rebento.
Só que Bernardo errou, o Peru marcou e a seleção perdeu o jogo por 2 a 1...
"No vestiário, o técnico estava fumegando de raiva da gente, todo mundo reunido naquela roda após a partida. Ele gritou: 'Quem era para cobrar o pênalti?'. Eu parecia aquele cão arrependido, só levantei a mão, nem tive coragem de falar nada. Aí ele pergunta: 'Por que você não bateu?'.
Eu expliquei que o Bernardo queria fazer uma homenagem e tal. Daí o técnico vira e me solta essa, berrando que nem um louco: 'Eu quero que se dane o filho dele! Eu quero é ganhar o jogo, c... (risos)", narrou Lulinha.
O Brasil, porém, acabaria campeão daquele torneio, com o meia do Corinthians terminanando como artilheiro, com 12 gols em nove jogos.
Com a camisa verde e amarela, Lulinha ainda contou mais uma. Essa foi na volta dos Estados Unidos, após um jogo com a seleção brasileira, e ficou conhecida entre os jogadores como "Esqueceram de mim".
"Nosso avião teve problema, decolou e voltou para o aeroporto. Precisamos esperar outro avião para nos levar e fomos encaminhados para um hotel, mas daí cada um ficou num quarto, a galera foi dispersada. Na hora de ir embora, fizeram aquela contagem e faltava um cara. Todo mundo embarcando no avião já e a comissão tentando achar quem era.
O pessoal já estava ficando impaciente, procurando em tudo quanto é lugar, quando acharam o Marcelo, que era goleiro do Flamengo, no quarto dele, de boa, jogando videogame.
Todo mundo esperando, o avião quase subindo e ele lá, como se nada tivesse acontecendo. Ele tomou um bronca gigante e uma multa (risos)", lembrou.
Lulinha foi artilheiro e campeão do Sul-Americano sub-17 de 2007 com a seleção