Chris Watney planeja lançar o seu documentário na arena de Itaquera, onde já esteve para torcer

A primeira meia hora de voo de Londres para São Paulo, no domingo, foi difícil para Chris Watney. Depois de tanto idealizar uma excursão do Corinthian-Casuals para o Brasil, para um novo amistoso com o Corinthians, o diretor comercial e atacante do time amador inglês foi tomado pela ansiedade com a realização do seu sonho – que pretende levar aos telões de Itaquera em formato de filme. Começou a se sentir muito mal.

Decidiu ir ao banheiro apenas para ficar sozinho, respirar fundo e conter o choro.

“Uau, estávamos em vias de pousar no Brasil para jogar contra o time principal do Corinthians, naquela arena! Isso significa tudo para nós. É algo realmente incrível, emocionante”, empolgou-se Chris, que trabalhou com afinco para satisfazer um desejo cultivado há 14 anos.

Em 2001, ele era centroavante no elenco do Corinthian-Casuals que veio ao Brasil para disputar outro jogo festivo com o Corinthians, na Fazendinha – o primeiro e mais famoso desses amistosos (ao menos até o de 2015) havia ocorrido em 1988, quando Sócrates vestiu a camisa marrom e rosa da equipe britânica por 15 minutos.

Naquela viagem do início do milênio, Chris ainda alimentava a esperança de se profissionalizar como jogador de futebol. “Mas o Corinthians mudou a minha vida. Eu tinha só 20 anos na época. Não acreditei nas coisas que vi no Brasil, na torcida, na história que descobri por trás de tudo. Trata-se da maior história do futebol. Nossa, não queria deixar o Corinthian-Casuals nunca mais. Como poderia?”, perguntou, bem-humorado.

Assim como os demais jogadores do Corinthian-Casuals desde antes de 1910 (quando o Corinthians foi fundado), Chris precisou se dedicar a outra profissão ao escolher fincar raízes no futebol amador. E usou justamente a sua formação em cinema para conseguir trazer de volta o clube inglês a São Paulo, neste ano.

Com a justificativa de produzir o documentário “Vai, Corinthians”, em que pretende exaltar o glorioso passado do Corinthian e os laços com o filho alvinegro do Brasil, Chris Watney convenceu a diretoria do seu clube a tentar viabilizar o amistoso de sábado. “Em 2001, era mais fácil. Vivíamos uma situação diferente e podíamos pagar a viagem. Agora, os nossos jogadores são muito jovens e têm empregos comuns. São operários, encanadores... Eles precisam de apoio. E o Corinthians está oferecendo isso”, agradeceu.

Segundo o documentarista, o Corinthians se convenceu a investir na excursão do Corinthian-Casuals depois de a sua torcida dar algumas provas de amor pelo clube inglês. “Em um site, fizeram uma enquete para ver qual seria o adversário ideal na inauguração da Arena Corinthians. O Corinthian-Casuals ganhou de Real Madrid, Barcelona e Chelsea! Incrível! Na Copa do Mundo, vários brasileiros foram ver o jogo da Inglaterra contra o Uruguai, na arena, com os nossos uniformes. Tudo isso deixou a minha missão mais fácil”, sorriu.

Tamanha empatia fez Chris acreditar que não precisará esperar outros 14 anos para retornar mais uma vez ao Brasil com o Corinthian-Casuals. Ele tem a expectativa de lançar o filme “Vai, Corinthians” em seis meses. E planejou um lugar especial para a estreia.

“O Corinthians está falando em uma grande première, em talvez utilizarmos a arena para isso. Pode imaginar? É claro que me deixaria muito orgulhoso. Vamos fazer acontecer. Será fantástico exibir o filme para milhares de torcedores, em um estádio de futebol”, vislumbrou, empolgado com o assunto a ponto de pedir para não ser incomodado por um colega.

O filme de Chris Watney terá muitas imagens da passagem do Corinthian-Casuals pelo Brasil em 2015. Afinal, não faltam momentos marcantes – festa com torcedores brasileiros desde o desembarque em Guarulhos, jantar em churrascaria, ensaio de Carnaval na Gaviões da Fiel, bate-bola na Praça da Sé, visita ao Cristo Redentor... “E, é claro, o jogo de sábado! Será o final perfeito para o documentário!”, revelou.

Não era para menos, portanto, o sentimento de Chris no avião rumo ao Brasil. Ele acha que só conseguiu segurar as lágrimas durante o voo por vergonha. “Tiraram uma fotografia minha dormindo e jogaram na internet. Se eu me emociono na frente deles, então... Mas o que está acontecendo nesta semana é realmente fantástico. Ainda tenho até domingo para chorar por tudo o que enfrentei para chegar até aqui”, refletiu, com um filme na cabeça novamente.