Quando o atacante Gustavo Tocantins faz gol na Copa São Paulo de Futebol Júnior, toda a torcida corintiana comemora. Mas um dos habitantes de Gurupi, cidade de 83 mil habitantes a 223 km de Palmas, comemora mais do que todo mundo.
E lucra também!
Trata-se de Benedito Lopes, pai da joia corintiana, que viu seu bar "bombar" desde que o filho começou a ficar famoso com os gols na base alvinegra. No ano passado, a fase do garoto era tão boa que o técnico Mano Menezes o convocou até mesmo para o elenco profissional, pelo qual disputou quatro jogos no último Campeonato Brasileiro.
Até agora, Gustavo Tocantins marcou três vezes na Copinha, além de ter dado três assistências, o que ajudou a levar o clube do Parque São Jorge às quartas de final. Nesta terça-feira, o Corinthians encara o São Caetano, às 18h30 (horário de Brasília), com transmissão ao vivo da ESPN, direto da Arena Barueri.
Será que a cerveja vai estar gelada no boteco do Benedito?
"Meu pai é todo boleirão, só veste a camisa do Corinthians o dia todo para ficar mostrando para os clientes, fica todo orgulhoso. O bar está sempre cheio, mas em dia de jogo a lotação dobra, todo mundo se reúne lá, e ele vende muita cerveja. Ele lucra bastante quando eu jogo (risos)", brincou o centroavante, de 19 anos, em entrevista à Rádio ESPN.
Em Gurupi, aliás, Gustavo Tocantins é ídolo, mas seu pai é ainda mais. Nas ruas da cidade do sul do Estado, o atacante alvinegro é parado a todo momento para dar fotos e autógrafos, mas não consegue de maneira alguma bater a popularidade de 'seu' Benedito, que exala carisma e é cheio de histórias curiosas, como a de como conheceu sua mulher.
"Meu pai é ídolo da cidade, atuava no Gurupi e parou de jogar depois de machucar o joelho. Aí virou técnico do time feminino e conheceu minha mãe, que era uma das jogadoras, acredita? Eles têm mais de 20 anos de diferença! Ele brinca que olhava pra minha mãe e pensava: 'Queria casar com aquela branquinha e ter um filho homem'. Ele tinha três filhas de outro casamento, mas queria ter um filho homem para pode jogar bola", contou o atacante, que nasceu em 11 de janeiro de 1996, fruto da improvável união entre técnico e jogadora no interior do Tocantins.
O futebol, aliás, corre nas veias de quase toda a família Barbosa Freira, que são os sobrenomes reais de Gustavo. Segundo o jogador do Corinthians, seu irmão mais novo é o verdadeiro craque na família, e, se depender de sua vontade, chegará em breve ao Parque São Jorge.
"Não tem como ter outra profissão aqui em casa, é todo mundo boleiro. Eu tenho um irmão de 12 anos chamado Gabriel Felipe que é um craque, o maior da família. Ele pegou o melhor de todo mundo daqui de casa e em breve está vindo para o Corinthians jogar. Vai deixar todo mundo para trás. Num futuro próximo, todo mundo ainda vai ouvir falar muito dele!", garantiu.
Dispensado por Palmeiras, Santos, Inter...
Nascido em Gurupi, Gustavo deixou o Tocantins cedo para ir morar com uma tia em Franca-SP e tentar a sorte no futebol. Começou no Inter de Franca, mas depois tentou fazer testes em grandes equipes do Brasil, sendo reprovado em todos.
"Tentei fazer teste no Internacional, no Santos, no Desportivo Brasil, no Palmeiras... No Inter, tinha muito atacante e tentei até como lateral direito pra ver se ficava, mas não deu certo. No Santos, fiquei uns seis dias e fui mandado embora. No Palmeiras e no Desportivo, foi a mesma coisa...", recordou.
No entanto, o Corinthians o quis, e tirou o jogador do Olé Brasil, time extinto de Ribeirão Preto, integrando o centroavante à sua base em fevereiro de 2011. O sucesso foi imediato, com gols e títulos, que renderam inclusive convocações para as seleções brasileiras de base, inclusive com o título da Copa América sub-15.
Em 2013, ele firmou seu primeiro contrato profissional com o clube paulista, até 1º de setembro de 2016. No ano passado, foi um dos destaques da campanha do título corintiano no Campeonato Brasileiro sub-20, conquistado sobre o Atlético-PR.
"O mais gostoso agora é enfrentar essas equipes que você não foi aprovado. Quando você joga bem, o pessoal acaba lembrando e fala: 'Nossa, ele veio aqui e a gente não aprovou...'. Futebol é assim, né? Em alguns lugares dá certo, em outros não", ponderou.
Agora, Gustavo quer dar sequência à boa fase e conquistar o título da Copa São Paulo, para ser lembrado, desta vez por Tite, na hora do técnico da equipe "de cima" escolher quem serão os felizardos da base que irão ajudar a compor o elenco profissional.
"Nosso objetivo é ganhar a Copinha para ficar de vez no elenco dos profissionais. É o que todo garoto sonha: jogar num clube grande como o Corinthians. A gente tem que trabalhar bastante para que nos observem e nos promovam. Eu fiquei muito feliz ainda com a oportunidade de jogar no Brasileiro do ano passado, e quero voltar!", finalizou.