15/1/2015 11:20

Renato Augusto nos Estados Unidos: reencontros, gols e um 2015 "zerado"

Meia projeta melhor temporada do Corinthians após se livrar de lesões e começa ano contra amigos alemães que conhece bem. Tite cobra dele mais finalizações

Renato Augusto nos Estados Unidos: reencontros, gols e um 2015
Após dois anos de altos e baixos no Corinthians, principalmente por causa de problemas físicos, Renato Augusto deu o aviso poucos minutos depois de se sentar à mesa do lobby do hotel em Fort Lauderdale, nos EUA, onde o clube faz pré-temporada.

– Desta vez, começo a temporada zerado. É um grande passo para tudo dar certo.

No mesmo nível físico e técnico dos demais jogadores, o meia consegue se destacar. O talento está ali desde os tempos de Flamengo, clube em que foi criado. As lesões é que atrapalhavam a sequência de jogos.

Agora, após um fim de 2014 em bom ritmo, Renato começa a nova temporada como o “cara” do técnico Tite. O comandante avisou que muito dessa nova versão do Corinthians vai girar em torno do camisa 8.

Renato Augusto, aos 26 anos, nunca se sentiu tão preparado. Com o físico e o técnico em dia, ele é cobrado para fazer além do que sabe. As primeiras conversas com Tite denunciam: ele ainda sente a falta dos gols. Foram oito em 75 jogos pelo Corinthians desde o início de 2013.

– Ele me cobrou para fazer mais gols. Eu também estou me cobrando mais. Às vezes o meia quer dar passes demais e se esquece de chutar a gol. Em 2014 dei muitas assistências, mas poucos gols. Tenho de saber a hora certa de chutar, avançar em direção ao gol. Prometi a ele que daqui a seis meses voltamos a conversar – afirmou o meia.

Em meia hora de conversa com o GloboEsporte.com, Renato ainda falou de seu reencontro com os alemães do Bayer Leverkusen, clube que defendeu por quatro anos e meio. O Timão estreia na temporada contra o Colônia, nesta quinta-feira, às 22h30 (horário de Brasília), em Orlando.

Colônia é a cidade em que Renato viveu na Alemanha. O meia também não fugiu da crise política do clube, nem dos atrasos salariais recentes.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

GloboEsporte.com: Quais têm sido as diferenças de uma pré-temporada fora do país, longe da pressão?

Renato Augusto: Aqui você acaba se esquecendo dos problemas que acontecem no dia a dia de um clube, aqui você só vive mesmo a pré-temporada, o que ela pode te dar. Dentro do clube você acaba vivenciando um pouco mais a eleição, o que está acontecendo, e aqui conseguimos esquecer.

Nesse ponto foi importante. Para outros jogadores que nunca fizeram nada fora do país também é bom, jogar amistosos contra clubes da Alemanha, de futebol diferente, mais agressivo, com mais força, vai ser legal também.



Passear é que fica difícil...
Conhecer a cidade não faz diferença, tenho mil carimbos no passaporte e não conheço uma cidade (risos). Vida de jogador de futebol é assim, ficamos mais trancados no hotel ou treinando.

O período tem sido bom para retomar a convivência com o Tite? Como estão sendo os primeiros dias?

Ele já é um cara que cobra bastante, você tem de estar atento a tudo. Se você não estiver muito ligado, vai passar vergonha. E o cara já é pilhado, imagine depois de um ano só vendo jogos, estudando, pesquisando. Está com tesão de querer trabalhar e mostrar o que aprendeu.

Deu para ver algo diferente?

Acho que ele está tentando ser o mais claro possível nas coisas que pede, principalmente taticamente. Ele tenta deixar bem claro um esquema de jogo para não ter muitas mudanças. Não temos muito tempo até os jogos decisivos da Libertadores, então ele está tentando ser bem claro para termos um pouco mais de confiança.

Há uma urgência maior por causa desses dois jogos da primeira fase? (O Timão enfrenta o Once Caldas nos dias 4 e 11 de fevereiro).

Sem dúvida. Se fosse uma pré-temporada normal, você teria mais tempo. No Paulista você perde um jogo, ganha, empata, mas o mais importante está no final. Agora não podemos vacilar em nenhum momento. Se você empata dentro de casa, tem de ir para a Colômbia buscar o resultado. Estamos focados nesse jogo da Libertadores. Se não nos classificarmos, tudo o que fizemos no ano passado vai pelo ralo. Vencer seria uma forma de coroar o que fizemos ano passado.

O que o Tite tem tentado passar sobre a formação do time?

Ele implantou o 4-2-3-1, mas também uma variação com duas linhas de quatro jogadores. Com as peças que temos, nem precisamos mudar um jogador. Dentro do jogo, você pode mudar o posicionamento de um ou outro e ficar com um esquema diferente. Ele está tentando mostrar essa variação rápida sem precisar mexer demais ou explicar demais. Entrar no jogo sabendo dessas variações é fundamental.

Com você, especificamente, quais têm sido as orientações do Tite?

Conversamos sobre a parte tática, de como ele quer fazer, mas já me cobrou algumas coisas. Gostei do que ouvi. Tite me cobrou para fazer mais gols. Eu também estou me cobrando mais.

Às vezes o meia quer dar passes demais e se esquece de chutar a gol. Em 2014 dei muitas assistências, mas poucos gols. Tenho de saber a hora certa de chutar, avançar em direção ao gol. Prometi a ele que daqui a seis meses voltamos a conversar.


Renato Augusto comemora um de seus oito gols em 75 jogos pelo Corinthians


Você sente muito a falta dos gols?

Nunca fui um cara de fazer muitos gols, mas fiz gols importantes. No Flamengo fiz gol de título, de vaga na Libertadores... O gol que fica marcado mesmo é o decisivo. Em 2007 fiz o gol do título da Taça Guanabara, o que levou para os pênaltis no Campeonato Carioca... Fiz gols mais bonitos, mas esses ficam marcados. Espero manter esse lado decisivo, mas agora fazendo mais gols. Mas sempre penso que o mais importante é vencer.

Essa sua terceira temporada no Corinthians pode ser a melhor da carreira?

Pela sequência de jogos que tive do meio do ano passado para cá, eu começo a temporada zerado. Começar assim já é um grande passo para mim. Você já vem com uma segurança um pouco maior na parte técnica, parte física. Vou tentar levar isso em 2015.

Você ainda tem feito uma preparação especial para evitar lesões?

Continuo fazendo antes do treino, não tão forte porque estamos treinando bastante. Água demais mata a planta. À noite continuo fazendo meu tratamento, ajeitando o que está errado. Mas o trabalho maior vem depois da pré-temporada, agora é mais manutenção.

Estou me sentindo bem, à vontade, temos muito tempo para treinar. O grupo todo vai estar bem.

Com jogos tão decisivos no começo da temporada, qual a importância desses primeiros amistosos?

Vai ser um aprendizado, joguei quatro anos e meio na Alemanha, vi a diferença que é. Vai ser diferente jogar em um clube brasileiro contra um alemão. Se soubermos aproveitar e aprender, acredito que teremos algo bastante produtivo nessa pré-temporada.


Você é um especialista em futebol alemão, não?

Um é o time que joguei, o outro é o clássico, era Bayer x Colônia. Eu morava em Colônia, fica a 20 minutos de Leverkusen. Acabou ficando engraçado para mim.

Dos jogadores que estão no Bayer, pelo menos seis titulares eu conheço. Tenho amigos lá, na comissão, entre os jogadores. Fui até lá no final do ano, é bom reencontrar os amigos.

Tem alguém com contato maior?

Quando fui lá conversei bastante. Meu amigo mesmo é o Gonzalo Castro, um cara que me ajudou muito quando cheguei. Ele é alemão, mas os pais são espanhóis, fala muito bem a língua. Ele me deu um suporte muito bom. Também tem um cara na comissão técnica, o Giba, que era do Flamengo e o levei para lá. Está no Bayer até hoje. Vou aproveitar para dar um abraço neles.

O que chega até vocês sobre a crise política no Corinthians?

Leio o que vejo na internet, mas o foco principal não é esse. Tem de focar numa boa pré-temporada. A parte política do clube eu deixo um pouco de lado. Sempre que tem alguma coisa, procuro ler.

Alguns jogadores já citaram os atrasos de salários. Ainda há algo a ser pago? E o quanto isso afeta o trabalho?

Não afeta o nosso trabalho, não é de agora que ficou atrasado. Não é uma coisa que afeta. É uma coisa que nem gostamos de ficar comentando, realmente não está em dia, mas não vai atrapalhar a gente. Conversamos bastante com o Edu e o Alessandro, eles nos passam uma tranquilidade.

Sempre que tem alguma coisa, conversamos com eles, até como amigos. Temos de entender o momento que o futebol brasileiro vive, não só o Corinthians.

Estava num momento econômico muito bom e deu uma queda muito grande. Tem jogadores hoje no Brasil ganhando salário de Europa, salário bom de Europa, então sabíamos que isso podia acontecer a qualquer momento. Por isso tentamos manter o respeito, aguardar um pouco mais, sabemos que não é fácil.

O futebol brasileiro saiu um pouco do controle nessa questão dos valores?

Quando saí do Brasil, em 2008, você não via jogador ganhando mais de R$ 250 mil, um ano antes, R$ 100 mil já era um grande salário. Hoje você vê jogadores ganhando R$ 700 mil, R$ 800 mil. Teve um boom muito grande, não sei se por causa da Copa, mas todo mundo sabia que uma hora a fonte ia secar.

Não só no futebol brasileiro, mas em muitos lugares acontece isso. Vi muitos problemas na Espanha quando joguei na Europa. Tem de ter paciência.

A situação financeira dificulta a chegada de reforços. Hoje, o elenco do Corinthians tem condições de vencer campeonatos?

Temos um elenco muito, muito bom. Pelo menos dois jogadores por posição, de muita qualidade. O que não tínhamos ano passado, temos agora, que são jogadores de velocidade. Tem o Malcom, que é novo, mas correspondeu muito bem. Agora temos a volta do Sheik, o Mendoza é muito rápido.

Fica diferente. O Atlético-MG é assim. Maicosuel cansava, entrava o Marion, um mais rápido do que o outro. Uma hora você não aguenta. Agora nosso elenco tem esse tipo de jogador e está mais equilibrado. Mesmo com os problemas financeiros, nosso elenco é bem forte.


Renato Augusto Corinthians

Falando no Sheik, o que representa a volta dele ao Corinthians?

Difícil dizer, pois sou muito amigo dele. É um cara que ganhou tudo no clube, conhece muito, as pessoas respeitam. É muito experiente. Ele tem um papel importante dentro do elenco. Ainda é muito rápido, apesar da idade.

Campeão mundial, experiência internacional. Ele ficou um tempo fora, o contrato está acabando, ele está realmente querendo jogo. Ele quer mostrar que pode ficar. Quem ganha com isso é o grupo.

Como tem sido a convivência tão próxima com torcedores que pagaram caro para ficar perto de vocês?

Eu gosto disso, de ficar nessa resenha. No jantar que tivemos com torcedores, eu e Fábio Santos ficamos até tarde, saiu um torcedor de uma mesa, outro de outra, quando vimos tinha uns 15 em volta. Fomos ficando, soltando piadas, ficamos até tarde. Gosto muito disso e me sinto bem. O torcedor veio mesmo para curtir.

Foi um lado bem positivo. As pessoas acham que não somos seres humanos, a gente faz xixi, passa mal, chora, tudo igual, como qualquer outro ser humano. Às vezes acham que estamos muito distantes. Aí o cara senta na mesa e vê que somos pessoas comuns. Foi bom para isso, mostrar ao torcedor que somos iguais a eles.


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