3/1/2015 08:30

Cabeça de jogador, time ofensivo: a receita de Roberto Carlos para triunfar

Ex-lateral, anunciado pelo Akhisar, da Turquia, quer trabalhar no futebol brasileiro e na Seleção, critica diretoria do Palmeiras e diz ter deixado legado no Corinthians

Cabeça de jogador, time ofensivo: a receita de Roberto Carlos para triunfar
Roberto Carlos abre o sorriso durante a entrevista; Ex-jogador diz estar "felizão" como técnico (Foto: Ulisses Neto)

Roberto Carlos conquistou o mundo pelas beiradas. Fez da lateral esquerda seu caminho para a história do futebol mundial. Marcou época, principalmente, na seleção brasileira, no Real Madrid e no Palmeiras. Durante um ano e meio, exerceu a função de técnico do Sivasspor, da primeira divisão da Turquia, e foi eleito o melhor técnico da competição em sua temporada debutante. No fim de dezembro, deixou o clube, que está na zona do rebaixamento, e foi anunciado nesta sexta-feira pelo Akhisar Belediyespor, também da elite turca.

Ao se definir como técnico, Roberto Carlos usa as palavras moderno e ofensivo. Ao relembrar dos bons resultados da temporada passada, valoriza também o futebol apresentado por seu time. O estilo, alega, é uma mescla das características de seus ex-treinadores. De Fabio Capello a Vicente Del Bosque, passando por Zagallo, Felipão, Parreira e Luxemburgo.

O ex-jogador, pentacampeão com o Brasil em 2002, recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em um hotel de Istambul quando ainda treinava o Sivasspor, antes do duelo de sua equipe contra o Fenerbahçe. Falou dos tempos de lateral e da nova vida, no banco de reservas. Admitiu que sonha em comandar um clube brasileiro e a Seleção. Palmeiras, Corinthians, Tite, Real Madrid e Cristiano Ronaldo também estiveram em pauta.


Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Como está sendo essa nova fase, como técnico?

Estou há um ano e meio como treinador principal. Mas, antes trabalhei com Guus Hiddink no Anzhi, da Rússia. Foram dois anos lá e aprendi muito com ele. Aqui no futebol turco se aprende muito também. É lógico que aprendi muito com os treinadores que tive. Mas, eu procuro ser um treinador moderno. Isso inclui a minha mentalidade: controle de bola, passe, velocidade e muita finalização. Boto muita coisa diferente nos treinamentos. Na Turquia, as pessoas estão acompanhando muito e, por isso, me elogiam bastante pela maneira de jogar do meu time. Estou felizão, super bem. É uma experiência incrível. Não temos jogadores top, mas no ano passado fizemos uma temporada sensacional, com um time bem ofensivo. Aí, descobriram a minha maneira de trabalhar, e eu tive que mudar um pouco, ser mais defensivo. Acho que sou mais psicólogo dos jogadores do que treinador.

Roberto Carlos foi eleito o melhor técnico do futebol turco em 2013/2014 (Foto: Divulgação)

Quem são as suas referências?
Trabalhei com muita gente boa: Capello, Luxemburgo, Parreira, Zagallo, Guus Hiddink, Vicente Del Bosque. Então, peguei um pouco de cada um e trouxe para mim. Quando tem que ser sério, sou um Felipão, um Capello ou até mesmo um pouco do Vanderlei. E quando tem que ser amigo do jogador, sou mais um Guus Hiddink ou Del Bosque. Então, procuro adaptar essas coisas. As pessoas me chamam de ‘mister’. Eu não gosto. Sou o Roberto Carlos. ‘Mister’ é para algum cara maior, com muita experiência como treinador. Eu estou começando. Ainda penso como jogador e, por causa disso, sei o que meu time precisa. Mas as minhas referências são boas, né?

Você, que foi um dos melhores do mundo como jogador... (interrompe a pergunta)
Jogava legalzinho, jogava legalzinho (risos).

Traça metas como treinador?
Dificilmente eu vou fazer uma carreira igual a que tive como jogador. Foram 26 títulos. Se eu ganhar seis títulos, de expressão, minha carreira (como técnico) será boa. Posso um dia ganhar uma liga turca, posso um dia ser campeão trabalhando numa seleção, brasileira ou até mesmo europeia, e ser campeão europeu ou mundial, e assim vai. Estou levando tudo na maior tranquilidade do mundo, mas agora eu penso mais no futebol do que antes. Vivo o futebol 24 horas por dia.

Mas, esse peso de ter ganhado muito como atleta, atrapalha?
Consegui muito como jogador porque era fácil jogar com todo mundo que eu joguei. O Roberto Carlos não foi considerado um dos melhores do mundo na época por ser bom. É que eu tinha ao meu lado muita qualidade. Então, eu só dava o passe, chutava, entendia como meu companheiro jogava. Na seleção brasileira e no Real Madrid era muito fácil. Você aprende muito rápido no mundo do futebol trabalhando com grandes feras. Mas, a minha carreira como treinador, vou devagar, semana a semana, melhorando; ano a ano, trabalhando e aprendendo e vendo os campeonatos inglês, brasileiro, italiano, espanhol e alemão, que é aquela coisa mais defensiva. Deixou de ser robotizado, mas continua aquela coisa do treinador alemão de que o cara faz a função dele e é aquilo lá. Eu faço isso no meu time, na parte defensiva, com muita pressão e muita marcação.

"Jogador legalzinho" em sua opinião, Roberto diz que está aprendendo dia a dia como técnico (Foto: Ulisses Neto)

O Zidane também segue esse caminho. Tem acompanhando o trabalho dele?
Pelo que tenho visto lá no Real Madrid, todos têm falado muito bem da maneira dele de trabalhar. Dificilmente, você vai ver o Zidane estressado. Aquele treinador que vai apontar para o jogador. Mas quando ele se fecha no vestiário com os jogadores, ele dá uma bronquinha básica. Desejo toda a sorte do mundo a ele. Nós estamos tentando mudar aquela coisa de que os grandes jogadores não dão certo como treinador, não conseguem fazer história. Estamos conseguindo mudar isso, ele no Real Madrid e eu aqui na Turquia. E, além disso, fazendo nosso time jogar futebol, colocar o torcedor no estádio para ver um bom jogo de futebol, é isso que estamos conseguindo fazer.

Quem você acha que merece levar a Bola de Ouro agora em janeiro?
Eu gosto muito do Messi, mas o show que o Cristiano tem dado tem uma repercussão maior. O Cristiano está numa forma impressionante. Tudo o que faz dá certo. Ele é um líder. Não é porque é do Real Madrid, isso não tem nada a ver. O Messi é um jogador sensacional, está fazendo história no futebol. Mas, se é para escolher o melhor do ano, acho que o Cristiano fez um pouco mais.

Roberto Carlos escolheu Marcelo como melhor lateral-esquerdo (Foto: Ulisses Neto)

Na lateral esquerda, quem é o melhor do mundo na atualidade?
Ainda acho que o Marcelo, né? Por mais que não esteja indo para a Seleção, porque tem o Filipe (Luís), que é um jogador sensacional. O Filipe parece muito o Maldini, um jogador clássico, habilidoso, mais lentão. O Marcelo é o Roberto Carlos, que ia e voltava, ia e voltava. O Marcelo melhorou muito na parte defensiva e, na minha opinião, poderia estar entre os três melhores do mundo. Acho que ele merece a mesma coisa que eu passei: fui três vezes eleito um dos cinco melhores do mundo, e acho que o Marcelo, por tudo o que fez no Real Madrid e, um pouquinho menos na Seleção do que na minha época, é o número um da posição. Não desrespeitando o Filipe, mas o Marcelo eu vi jogar mais tempo e parece muito comigo jogando, acho que o Marcelo é o número um.

Sobre a Seleção, está gostando do trabalho do Dunga?
Dificilmente farão uma Seleção como na época que eu jogava com Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Kaká, aquela época nossa, né? Mas essa Seleção atual, com a referência do Neymar, com Thiago Silva, David Luiz, Willian, tem que ser formada. É isso que o Dunga está fazendo. Dunga está dando uma seguradinha na defesa e botando os meninos para correr. Muita calma. Depois da Copa, todo mundo falou que a Alemanha evoluiu. Não é que a Alemanha evoluiu, o futebol que se igualou. O Brasil chegou a três finais seguidas, foram 12 anos chegando à final, e a Alemanha chegou agora. Nós brasileiros valorizamos muito os outros.

Pensa em comandar um time brasileiro? Se o Palmeiras tivesse te procurado, você aceitaria um convite?
Sabia que você iria me perguntar isso (risos). Eu prometo que sentaria para ouvir. Penso em voltar um dia para o Brasil, como treinador. Neste momento, penso muito na minha filha, no estudo na Europa, educação na Europa. Mas ela vai aonde eu vou. Se o papai amanhã for trabalhar no Palmeiras, ela vai ter que morar no Brasil. Tudo tem que ser pensado. E o Palmeiras, onde joguei dois anos e meio, foi um dos melhores momentos da minha vida.

Roberto Carlos cogita a possibilidade de treinar um time brasileiro no futuro (Foto: Ulisses Neto)

Tem acompanhando o clube?
O Palmeiras vive uma situação muito difícil, de organização, de planejamento, não segura o treinador. No Real Madrid eu também sofri no ano do centenário. Não ganhamos nada. E começaram a chamar a gente de "sem ter nada".

E no Corinthians, faltaram os títulos, né?
No Corinthians, tive um ano muito legal, muito bom mesmo. Mas no Palmeiras marcou porque eu ganhei. Foram dois Paulistas, dois Brasileiros e um Rio-São Paulo. E no Corinthians, quase. E essa coisa de quase não me serve muito. Ao mesmo tempo, eu falo poxa: eu e o Ronaldo saímos, mas pelo menos ensinamos como chegar a uma final de Libertadores. Então, tem o lado ruim pelo que aconteceu no Corinthians, mas tem o lado bom que a gente levou a nossa bagagem, nossos títulos e nossa experiência. E os meninos maravilhosos que estavam lá aprenderam com isso e, no ano seguinte, foram campeões da Libertadores

O Tite voltou ao comando. Acha que foi um erro ele ter saído?
Não precisava ter saído, mas o Corinthians também é uma vitrine. Todo mundo sabe o que é o Corinthians. Ele tentou fazer alguma coisa por aqui (Europa), não sei o que deu. Seria muito bom ele vir para cá. Mas pode voltar para o Corinthians porque lá é a casa dele. Ganhar uma Libertadores e um Mundial não é para qualquer treinador. O Mano também fez um bom trabalho no Corinthians, sou fã do Mano e ele sabe disso.

Por que o treinador brasileiro não tem conseguido espaço no futebol europeu?
É que no Brasil a gente não tem muito tempo para trabalhar. Você perde dois jogos e já é ruim. Já tem que ouvir o grito de burro da torcida. Faz uma mudança e é burro. E a diretoria não aguenta muito. A imprensa, às vezes, dá muito espaço para torcedor falar. Então, essas coisas a gente tem que mudar, a nossa cultura, a nossa educação em relação futebol e ao esporte em geral, temos que mudar um pouquinho.


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10758 visitas - Fonte: GE

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