De Reizinho do Parque a Ruinzinho do Parque. Grande ídolo do Corinthians entre os anos 1960 e 1970, Roberto Rivellino é apontado por muitos torcedores como o melhor jogador que já vestiu a camisa alvinegra. Mas a falta de um título de impacto pelo Timão ficou marcada na sua carreira. Assim como a conturbada saída do clube, após o vice-campeonato paulista em 22 de dezembro de 1974, há 40 anos
Cerca de 100 mil corintianos estiveram no Morumbi naquela noite, confiantes no título paulista contra o Palmeiras e no fim do jejum que já durava 20 anos. No jogo de ida, no Pacaembu, um empate por 1 a 1. A decisão, então, seria três dias antes do Natal. A derrota por 1 a 0 para o rival, com gol de Ronaldo, porém, manteria a agonia alvinegra até 1977. O Verdão de Dudu, Ademir da Guia e Cia. ficou com o título. E Rivellino se tornou vilão.
Matéria do jornal O Estado de S.Paulo em fevereiro de 1975
começou nas reportagens, com J. Hawilla me dando tiros. Tinha acabado o futebol, eram férias, não tinha o que se falar, então o foco era Rivellino. Foi um absurdo tão grande que o presidente (Vicente Matheus) achou realmente que eu era o culpado - lembra Riva.
Palmeirense na infância, o meia estava no Timão desde 1964, quando passou a jogar pelos aspirantes. No clube, dividiu um Torneio Rio-São Paulo com outros três clubes em 1966 e ganhou um Torneio do Povo, em 1971, e um Laudo Natel, em 1973. A falta de um Paulistão, que tinha enorme peso, acabou jogando um peso enorme nas costas do craque.
Que, em fevereiro de 1975, após muita polêmica, seria comprado pelo Fluminense. E marcaria gols contra o próprio Timão, em amistosos no Maracanã e no Pacaembu.
POLÊMICA NO VESTIÁRIO
Quem viveu o ano de 1974 garante: o time do Palmeiras era mesmo melhor que o do Corinthians. Treinado por Oswaldo Brandão, o Verdão venceu o segundo turno, enquanto o Timão havia sido o campeão do primeiro. E do campeonato.
Rivelino durante a decisão de 1974: faltou o título
Mas tudo poderia ter sido diferente. Segundo Tião, ex-volante do Corinthians, uma grande confusão aconteceu no vestiário de a equipe subir ao gramado. Tudo por conta de uma decisão tomada pelo técnico Sylvio Pirillo.
- Pouca gente sabe, mas antes do jogo teve a prelação e nosso time já saiu perdendo ali. Existia uma dúvida de quem ia no gol. Ou jogava Buttice ou jogava Ado. Sylvio Pirillo estava em dúvida, mas escalou Buttice. Ado, então, pegou uma cadeira e atirou no Sylvio. O emocional foi lá embaixo - relata o ex-jogador.
DURAS CRÍTICAS
Repórter esportivo no período, J. Hawilla é apontado por Riva como um dos causadores da reação negativa contra o seu nome. Hoje nos Estados Unidos, ele admite os excessos:
- Passei do ponto nas críticas, era jovem, a gente acaba errando. Isso foi fator decisivo para ele se indispor com o Corinthians, com a torcida e acabar deixando o clube.
Peço desculpas a ele, sei que não adianta nada porque já foi, já aconteceu, mas acho que ele acabou sendo feliz no Fluminense e na sequência da carreira. Isso conforta - diz Hawilla, hoje empresário.
Raul Corrêa e Rivellino colocaram um ponto final nas polêmicas de 1974
As vaias vieram das arquibancadas também. Líder da torcida organizada Camisa 12 à época, Raúl Corrêa da Silva escreveu uma carta de seu próprio punho que acabou sendo publicada por um jornal. As críticas pesadas repercutiram.
Quarenta anos depois, o SporTV News deu a ele a oportunidade de reencontrar seu ídolo. Raul, hoje, é diretor financeiro do Timão.
- Eu era diretor da camisa 12 e fiz uma carta com todo o nosso sentimento naquele momento, nossa tristeza. É bom estar aqui pedindo desculpas. Era o sentimento do corintiano - diz Raul, emocionado.
- Nunca na vida é tarde. E é bom em vida ter esse reconhecimento - diz Riva, sem revelar mágoas e colocando um ponto final no passado.