"Caso Petros". O termo bastante utilizado para retratar duas situações que envolveram o meia do Corinthians em 2014 não é suficiente para apagar a ótima temporada do baiano de Juazeiro, que curte férias em sua terra natal e assimila as mudanças repentinas que teve em menos de um ano.
Do pequeno Penapolense ao fim de temporada como titular do Timão, Petros teve seus altos e baixos, mas se diz realizado e com planos para 2015: a disputa da Libertadores, a manutenção de seu posto no meio-campo corintiano e a meta de pelo menos seis gols na temporada.
Em oito meses de clube, Petros passou por tudo. Começou muito bem, teve contrato estendido até dezembro de 2018 e parecia viver num mundo ideal. A trombada no árbitro Raphael Claus em clássico contra o Santos, pelo Brasileirão, e sua inscrição supostamente irregular na CBF, que poderia até tirar pontos do Corinthians, quase derrubaram o jogador.
– Vivi a pior fase da minha vida. Pelo menos profissional. Eu tinha de mostrar que estava forte, estava bem, mesmo com o mundo caindo nos meus ombros. Serviu de aprendizado. Pode ter certeza de que vocês não vão mais ver meu nome ligado a um fato negativo – contou Petros.
Inicialmente punido com seis meses de gancho, acusado de agressão, Petros sofreu em silêncio entre os dias 18 de agosto e 11 de setembro, datas dos dois julgamentos no STJD. Não deu entrevistas para não prejudicar a estratégia de defesa, e viu o pesadelo terminar quando a suspensão caiu para quatro jogos. No segundo “caso Petros”, o Corinthians foi absolvido do erro na inscrição do jogador – a CBF foi responsabilizada.
Em entrevista ao GloboEsporte.com, o meia falou sobre os dias difíceis que teve no clube, mas também lembrou do apoio da torcida e da comemoração após a vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-MG, em setembro: ele tirou o chapéu para os quatro cantos da Arena Corinthians. Em 2015, Petros quer melhorar suas estatísticas, que lembra de cabeça.
Por enquanto, ele só quer descanso no interior da Bahia.
– É bom ficar perto da família, aproveitar um pouco minha cidade. Em 2015 voltarei recarregado.
Confira abaixo a íntegra da conversa:
Você começou o ano no Penapolense e terminou como titular no Corinthians.
Como viveu essa reviravolta em sua carreira?
Profissionalmente, foi o ano mais feliz da minha vida. Pude mostrar meu valor no cenário nacional. Comecei no Penapolense, onde havia certa desconfiança, mas fomos campeões do interior desbancando grandes clubes.
Cheguei no Corinthians por empréstimo, mas rapidamente pude convencer a diretoria a comprar meus direitos e fazer contrato até 2018. Estou feliz por conseguir ser titular logo em minha primeira temporada. O grande exemplo, para mim, é o Paulinho. Um dos maiores ídolos recentes do Corinthians demorou um ano e meio para ser titular. Eu consegui isso agora. Estou muito feliz.
Como administrar um ano tão agitado e com sucesso repentino?
Eu tenho um trunfo: sempre tive uma base familiar espetacular, nunca me faltou nada, esse é meu grande diferencial. Sou um cara muito centrado e tranquilo. Não é sucesso, fama ou dinheiro que vão tirar meus pés do chão.
Procuro ser um cara bacana, humilde e que não se contenta com tudo que aconteceu. Estou em busca de mais.
Claro que o Corinthians tem uma dimensão muito grande, tudo toma uma proporção absurda, mas é o preço que temos de pagar.
Petros reverencia torcida após gol contra o Atlético-MG e deixa dias difíceis para trás
Falando em proporção absurda, como você lidou com dois "casos Petros" neste ano? Primeiro teve a trombada com o árbitro, depois a história da inscrição. Você parecia tranquilo...
Sou um cara de personalidade forte. Aí, com certeza, vivi a pior fase da minha vida. Pelo menos profissional.
Eu tinha de mostrar que estava forte, estava bem, mesmo com o mundo caindo nos meus ombros.
Tinha de trabalhar todos os dias com a mesma felicidade, ter um bom desempenho nos treinos, mas foi uma fase muito ruim. Serviu de aprendizado. Pode ter certeza de que vocês não vão mais ver meu nome ligado a um fato negativo.
Isso é passado, passei uma borracha e vou seguir em frente.
E o caso da inscrição na CBF?
Em relação ao outro julgamento não tive culpa alguma, porque é uma questão jurídica, virou um segundo caso Petros. Mas a torcida do Corinthians me abraçou de uma forma tão maravilhosa, mesmo quando muitos não sabiam do que se tratava esse novo caso Petros. Recebi muitas mensagens dos torcedores. Foi uma situação ruim, mas foi tudo superado.
O apoio da torcida foi tanto que você até agradeceu após um gol, não é?
Por isso fiz aquela comemoração de reverenciar a torcida, tirar o chapéu para ela. Nunca tinha visto uma comemoração desse tipo, mas fiz porque eles também fizeram muito por mim. É um carinho recíproco.
A reverência, porém, só vem com gols. Esse ano foram só dois. Promete mais para 2015?
É muito bom fazer gols. Tenho a meta de seis gols na próxima temporada. Para a posição em que jogo, é um numero muito bom, pela forma agressiva de marcação que tenho. Nos últimos jogos, tive algumas oportunidades, mas o goleiro sempre salva, sempre esbarro em alguma coisa. Tenho certeza de que os gols saem no ano que vem.
Agora você está prestes a disputar sua primeira Taça Libertadores. Acha que a competição combina com seu estilo de jogo?
Já estou sonhando com essa Libertadores. É uma competição que tem minha cara, é do jeito que eu gosto, brigada, com poucas faltas. Vou trabalhar para brigar por esse título. Não vou me acomodar, porque quando isso acontece outras pessoas tomam seu espaço. Tenho muito a aprender com o treinador que vai chegar.
O que você achou da contratação do Tite?
Como corintiano, eu sempre gostei do Tite. Conhecendo as pessoas que trabalharam com ele, sei que é uma pessoa espetacular. Será um enorme prazer.
Em sua primeira coletiva, ele falou uma coisa que me marcou muito: foi questionado sobre o que ele iria fazer com o novo plantel, ainda mais sem dinheiro para contratar.
Ele foi muito sensato e ganhou mais um admirador quando disse que vai jogar quem estiver melhor, vai jogar quem merece mais.
É assim que se forma um campeão. Ele ganhou um admirador por essa fala. Ele é um cara muito bacana
Não teme perder espaço com a chegada do novo técnico?
Não temo nada, sou um pouco teimoso e corajoso na minha vida. Se fizer as coisas certas, vou continuar jogando. Agradeço também ao Mano pela oportunidade, pela confiança, porque não é fácil chegar do Penapolense e agradar a um treinador que passou pela seleção brasileira. O Tite tem filosofia diferente, mas sou muito adaptável. Vou absorver tudo o que ele passar.
Você é bastante atencioso com os próprios números. Continua de olho nas suas estatísticas?
Sim, e elas são muito boas. Fui o melhor da equipe em desarmes, cinco por jogo, fora as interceptações, que são jogadas em que roubo a bola e não há sequência. Tenho um índice de 92% de acerto nos passes.
O Corinthians tem 70% de aproveitamento comigo em campo, superior ao do Cruzeiro campeão. Comigo, o Corinthians leva meio gol por jogo, sem mim toma 1,5. Vejo meu scout jogo após jogo e tento melhorar em cima dos números apresentados.