A decisão de não renovar o contrato de Mano Menezes está bem distante dos resultados obtidos dentro de campo pelo Corinthians em 2014. Terminar o Campeonato Brasileiro em quarto lugar, com uma vaga na fase prévia da Taça Libertadores e boa parte do elenco renovado, foi pouco para superar a crise que se instalou internamente desde a chegada do treinador.
Para compreender a saída é preciso entender a contratação de Mano Menezes, os passos que desencadearam uma divisão política na situação. A guerra interna vivida pelo Corinthians começou nos últimos meses de 2013. Mário Gobbi, presidente e soberano nas decisões, decidiu que era a hora de findar o trabalho de Tite, campeão da Libertadores, do Mundial de Clubes, do Brasileiro, do Paulista, da Recopa Sul-Americana e amado pela torcida.
Gobbi entendia que os títulos conquistados por Tite tinham como base a equipe montada por Mano a partir de 2008. Campeão da Série B, Paulista e da Copa do Brasil, o técnico só deixou o cargo para comandar a seleção brasileira. Na visão do presidente, apenas ele teria forças para afastar estrelas em decadência, como Emerson, Chicão e Douglas. Tite, para ele, era grato demais o grupo que bateu Boca Juniors e Chelsea em 2012.
Gobbi rompeu com Roberto de Andrade e Duílio Monteiro Alves, responsáveis pelo futebol, ao procurar Mano quando ele ainda dirigia o Flamengo. Segundo pessoas próximas, o treinador pediu demissão do Rubro-Negro, em 19 de setembro, já sabendo do interesse do Corinthians. À época, após perder por 4 a 2 para o Atlético-PR, no Maracanã, alegou que não conseguia passar para o grupo de jogadores aquilo que pensava sobre futebol.
As semanas seguintes transformaram os dias no Parque São Jorge e no CT Joaquim Grava. Os resultados ruins obtidos por Tite foram a chave para a mudança que Gobbi planejava. Roberto de Andrade e Duílio Monteiro Alves foram voto vencido. Eram contra a demissão, mas não tiveram poder para impedir que o presidente fizesse valer seu maior poder no clube.
- Quando eu quis trazer o Mano, pessoas não queriam. Eu banquei – admitiu Gobbi na entrevista de sábado em que anunciou a saída do técnico.
As semanas seguintes foram de um clima muito carregado no Timão. Na despedida de Tite do Pacaembu, contra o Inter, em 30 de novembro, apenas Andrade, Alves e o gerente Edu Gaspar foram ao gramado entregar uma placa de homenagem ao treinador. Gobbi não apareceu. Tite queria ficar, declarou isso publicamente. Foi embora se sentindo traído.
Roberto de Andrade despontava na ocasião como provável candidato da situação à presidência, nas eleições de fevereiro de 2015. Como previsto no estatuto, Gobbi não poderia concorrer. Andrés Sanchez também não, já que as normas exigem dois pleitos de afastamento para concorrer novamente.
O departamento de futebol foi desfeito com os pedidos de afastamento de Andrade e Alves, em 16 de janeiro de 2014. E a “situação” se rompeu ainda mais. Gobbi, também em atrito com Sanchez, se isolou e acabou perdendo força para combater os desejos de uma nova troca de treinador depois do Brasileirão.
Mano Menezes também foi perdendo força gradativamente ao longo da temporada. A relação com o grupo não era ruim, mas alguns jogadores chegaram a reclamar do tom irônico do treinador e das constantes mudanças nas escalações. A comissão técnica, sempre aliada a Tite nos últimos anos, também não morria de amores pelo trabalho dele.
Com o processo eleitoral avançado, Gobbi não conseguiu impedir que a insatisfação com Mano Menezes se tornasse pública. Por causa do rompimento entre os próprios membros da situação, isso ficou impossível. Com o Corinthians brigando pelo título da Copa do Brasil e lutando para entrar no G-4 do Brasileirão, a saída do treinador parecia só uma questão de tempo.
- Ele (processo) foi mal conduzido nos bastidores, na maneira como algumas coisas foram tratadas – disse o técnico.
Mano se esforça para mostrar que entende a saída, mas nem sempre foi assim. Internamente, chegou a sondar algumas pessoas para saber se Tite, com quem nunca teve uma relação próxima, estava negociando o retorno ao clube. Hoje, não fala publicamente, mas acredita cegamente nisso.
O novo treinador do Corinthians sairá em breve. O clube quer anunciá-lo até o dia 15 de dezembro para que ele possa se apresentar com o grupo, em 5 de janeiro. Tite e Oswaldo de Oliveira são os favoritos. Abel Braga corre por fora.