5/12/2014 09:04
Conmebol cogita Libertadores o ano todo e vê entraves para times dos EUA
Presidente da entidade, Juan Ángel Napout fala sobre planos para o futuro nas competições sul-americanas e vê dificuldade em alcançar o nível de organização do futebol europeu
Juan Angel Napout, presidente da Conmebol desde agosto
O paraguaio Juan Ángel Napout tem em mente repaginar a Conmebol, cuja presidência ele assumiu em agosto. Após os mandatos de Nicolás Leoz, que parecia ser eterno, e Eugenio Figueredo (mais do mesmo), Napout tem planos de estreitar relações com a Concacaf, fortalecer as competições do continente, como a Sul-Americana, e até avaliar a possibilidade de fazer com que a Copa Libertadores dure a temporada toda, tal qual a Liga dos Campeões da Uefa. Mas, nesta entrevista exclusiva ao LANCE!Net, ele considera que chegar ao nível organizacional europeu não será tarefa simples.
Como foram esses primeiros meses à frente da Conmebol, substituindo Leoz e Figueredo?
NAPOUT: São quatro meses. Dia 8 de agosto foi o dia em que eu cheguei à presidência da Conmebol e tem sido um período muito ativo. Muito trabalho, viagens, com objetivos a curto e médio prazo. Estamos a caminho de uma Copa América maravilhosa, conseguimos incluir no calendário internacional a Copa América do Centenário, nos Estados Unidos, e outras coisas.
Temos uma Sul-Americana que está terminando de uma forma maravilhosa. Depois da Copa América, teremos Eliminatórias, com a volta do Brasil, Sul-Americano Sub-20 no Uruguai... Será muito trabalho de futebol.
Tem sido notada a iniciativa de tentar modernizar a gestão, interagir mais com a Concacaf...
NAPOUT: Sonhamos com essa aproximação com a Concacaf. Fizemos amizade com Jeffrey Webb (presidente da Concacaf) e introduzimos isso. Temos uma turma nova, alguns presidentes que estavam antes e entraram em 2007. É muito saudável ter sangue novo, muitas ideias.
Temos que fortalecer relações com a Fifa e outras confederações. Uma das coisas que vamos fazer em 2016 é uma Libertadores Sub-20, que foi feita no Peru antes, mas não sob o controle da Conmebol.
Vamos fortalecer o futsal, futebol feminino... E as Copas Libertadores e América.
Pretende fazer algum tipo de mudança na fórmula de disputa da Libertadores?
NAPOUT: Como está hoje, 38 participantes, com uma primeira fase antes dos grupos, é o ideal. E, se olhar como é o tempo no ano, vai ver como é complicado mudar isso aí. É uma copa exitosa. A mesma coisa com a Sul-Americana, mas nesta pensamos em trazer mais times, mas vamos estudar. Neste ano, a Sul-Americana fez sucesso, está dobrando os números do ano passado.
O senhor uma vez falou sobre o desejo de ter times da Major League Soccer na Libertadores. Essa meta ainda existe?
NAPOUT: Sempre respeitando a Concacaf, se eles tiverem de acordo, talvez poderíamos fazer. Sonhar, podemos. Mas tem que haver um cronograma de trabalho e ser possível.
Para trazer times dos Estados Unidos, se você joga de semana em semana, tem um problema de visto, viagens e voos. Fica apertado também para a torcida. Não é tão fácil assim.
Temos que estudar. Se há uma coisa que fazemos na Conmebol é estudar bem, sentar no Comitê Executivo para ver se é possível ou não e, depois, tomar a melhor decisão.
A Liga dos Campeões da Uefa dura a temporada inteira. Pensa em fazer o mesmo com a Libertadores, aumentando a duração da competição?
NAPOUT: Pode ser. Temos o Sergio Jadue, que é o nosso novo presidente de competições e está estudando isso. E vamos ver o que ele traz à mesa, se tem algo interessante. Se mudar, tem que ser para melhor. Não quero me aventurar para dizer em quanto tempo, mas vamos primeiro ver o que vai ser feito. Hoje digo que não tenho opinião formada sobre isso.
O critério adotado pela CBF de classificação dos times à Sul-Americana é um pouco controverso, porque acaba sendo prêmio à incompetência dos times na Copa do Brasil ou acaba levando times nem tão fortes assim à competição...
NAPOUT: O regulamento diz que cada federação toma a sua decisão. Cada um decide, e temos que respeitar. Mas uma coisa que temos que falar para todos os países é que fortaleçam os times também. Não vai ser a Libertadores, que é uma copa de campeões.
E a Sul-Americana é uma copa de oportunidades. Mas é para um time que quer crescer também.
Chegou a falar diretamente com a CBF sobre isso?
NAPOUT: Não falei desse jeito ainda porque temos que respeitar. Vai chegar o momento, mas não será uma abordagem individual. Vamos dizer o que todos temos que fazer.
Em abril, a presidência da CBF sai de Marin para Del Nero. Como vê essa transição?
NAPOUT: Eles estão trabalhando juntos, e isso é bom. Tem uma boa relação entre eles, a transição é boa. Acho que vamos continuar trabalhando bem.
Muitos clubes no Brasil já reclamaram que recebem mais nos Estaduais do que na Libertadores. O que pode ser feito quanto a isso?
NAPOUT: Isso aí é um problema, porque o Brasil está economicamente muito forte. É uma área difícil de contornar. Está acontecendo com o Chile também, que está com um nível grande.
Mas, para os demais clubes dos outros países, é muito importante entrar na Libertadores e na Sul-Americana. Se comparar quanto estão ganhando jogadores e técnicos no Brasil, a diferença é muito grande. Mas a cota de TV já melhorou ano passado.
A Federação de Jogadores Profissionais (FIFPro) tem uma proposta de tirar das competições sul-americanas os clubes que tiverem dívidas. Em que pé está essa discussão?
NAPOUT: É sentar à mesa e ver o que pode para melhorar. Vamos marcar uma data com a FIFPro. Provavelmente vai ser no começo do ano, no Uruguai. Temos que trabalhar, ver se dá para fazer mesmo ou não.
Qual é a expectativa para a Copa América do Chile?
NAPOUT: Vai ser uma grande Copa América, uma organização maravilhosa. O Chile, com uma direção madura, vai fazer uma grande competição, não só por causa do país, maravilhoso, mas pelo futebol também. O melhor nível em muito tempo. O atraso em Concepción, eles vão resolver. Teve atraso também no Brasil, mas a Copa foi maravilhosa.
Tem um problema de calendário: final da Liga dos Campeões será no dia 6 de junho e a Copa América começa em 11 de junho...
NAPOUT: A Conmebol vai respeitar a final da Champions. Sempre fizemos isso e vamos fazer. Sem discussão. Compensação financeira aos clubes?
Estamos tratando isso ainda.
E sobre os rumores de que a Fifa pretende diminuir as vagas da Conmebol na Copa do Mundo?
NAPOUT: A Fifa não quer tirar a vaga, pode ser uma outra confederação. Mas não vou falar isso agora, vamos esperar ser votado na mesa. Isso é normal. Mas é só ver como terminou a Copa e o respeito que tem que haver com o futebol sul-americano.
Algum dia chegaremos à organização dos europeus?
NAPOUT: A América do Sul tem uma coisa maravilhosa, que é o futebol. Vamos continuar a melhorar, tem que ter mais organização, infraestrutura melhor. Mas as coisas podem nunca chegar ao nível de um país rico da Europa, porque é complicado. Por exemplo: transporte. Se jogam dois times alemães em Londres, dá para mover 35 mil pessoas em 24 horas. Isso não vai chegar à América do Sul.
Mesmo no Brasil não tem um trem que dê para levar de uma cidade a outra em dois dias. E eles têm. Isso não vai chegar aqui de um dia para o outro. Temos que ter paciência, trabalhar para melhorar.
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