Imagine ser corinthiano, morar em Itaquera e ajudar a realizar um sonho antigo da Fiel. Se tem alguém que atende a esses requisitos é Francisco Assis de Maio, 47 anos, conhecido na Arena Corinthians apenas como Kiko. Com muitas histórias para contar, trabalha no estádio desde o início das obras, quando ainda não havia quase nada do que se vê hoje na casa alvinegra. Mais do que participar da construção e da operação da Arena, ele deu um recomeço à vida dele.

Recomeço porque durante um longo tempo, Kiko desempenhou uma única função. "Sempre trabalhei no mercado financeiro, como operador de pregão. Trabalhei 23 anos na Bolsa de Valores de São Paulo", contou. Antigamente, negociações da Bovespa e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) eram feitas por diversos operadores, com o telefone em punho, aos gritos. A partir de 2009, a mão de obra humana nas transações foi substituída por um sistema eletrônico, usado nos tempos atuais, seguindo a tendência mundial.

Era o fim da carreira de Kiko como operador de pregões. Mas o primeiro passo para um recomeço. "A gente teve de se adequar ao mercado de trabalho novo, porque trabalhei a minha vida inteira no mercado financeiro. Minha vida toda foi lá. De 2009 até 2011, eu trabalhei em vários segmentos diferentes", explicou. E aí apareceu uma chance na Arena Corinthians.

Kiko conhecia pessoas que trabalhavam nas obras do estádio e pediu para mandar um currículo. Depois de enviado, foi chamado para fazer entrevista e contratado. Começando por baixo, subindo degrau a degrau. "Comecei aqui como ajudante, um mês depois me puxaram como apontador, que conferia holerite do pessoal da obra. Quando fui ver, estava conferindo holerite de 21 equipes. Todas as equipes de acabamento passavam por mim", relembrou.

Hoje, é operador técnico e faz parte da administração da Arena Corinthians. "Tudo o que você pensar, a gente faz aqui. Tenho de deixar tudo em ordem, os vestiários, os camarotes, ver se está tudo ok. Eu que recebo os times adversários, para mostrar os vestiários deles. Vejo tudo o que eles precisam aqui, como se fosse um suporte", comentou.

Além disso, Kiko orgulha-se de ter sido um dos primeiros campeões da história do estádio. Foi no segundo evento-teste, em um jogo realizado com funcionários da obra. "O primeiro campeão na Arena Corinthians foi o meu time, após vencer a primeira partida. Desfilei com a réplica da Taça Libertadores da América depois que acabou o jogo", falou.

Na Arena do início ao fim, Kiko diz que é gratificante ver o que estádio se tornou e ter vivido todas as etapas da construção. Corinthiano fanático, vê um sonho que foi realizado, não só para a Fiel, mas também para a população de Itaquera, onde foi criado. "No início, você via a luta de todo mundo. Pessoal carregando ferros pesados, concreto. Todo mundo chega e fica admirado com o estádio do Corinthians. Quando cheguei aqui, não tinha nada. O estádio trouxe grandes benefícios para a região de Itaquera."

Kiko acredita que faz parte da história da Arena Corinthians. E mais do que isso: a Arena Corinthians o ajudou a redescobrir o que ser na vida. "Eu aprendi muito desde quando vim para cá. Agradeço a todo mundo que me deu a oportunidade. Aqui foi um recomeço para mim. Foi um recomeço maravilhoso."