O "Na estrada com Galvão" está de volta. O episódio deste domingo traz uma entrevista do narrador Galvão Bueno com o técnico Tite . Ele, que passou um ano apenas estudando e analisando as novidades do futebol no Brasil e no exterior, diz estar pronto para retornar ao comando de um clube brasileiro. Tite conta também que ainda não desistiu de comandar a seleção brasileira e afirma que não se sente seduzido por trabalhar na Europa em virtude das dificuldades da língua estrangeira (clique no vídeo e confira a entrevista completa)
O papo começou no estádio do Caxias, passou pela churrascaria dos sogros do técnico e se estendeu até a um parque da cidade onde Galvão e Tite jogaram uma partida de bocha com os moradores locais. Leia aqui embaixo os trechos mais interessantes da entrevista.
Se decepcionou por não ser sido o técnico escolhido para a seleção brasileira?
-Não sei se decepção, mas me preparei pra isso. Antes de tudo pra minha qualificação profissional. Eu sou um cara pilhado na busca do melhor, do meu aprimoramento. Independente de todos os títulos que eu tenho, e tenho muito orgulho disso, da forma com que foram conquistados,me orgulha muito. Mas sei que tem uma margem de crescimento muito grande. Em 2006, fui ver a Juventus, que era o time do momento. Eu sou inquieto. A minha literatura, que tenho guardada, elas são importantes. Fui falar com o Carlos Bianchi, o cara que é três vezes campeão mundial, quatro títulos de libertadores, ele sempre tem alguma coisa. Falei com o Zagallo, tenho pelo Parreira uma admiração especial, um cara extremamente leal. Então tenho essa busca incessante desse conhecimento.
Mas lá no fundo esperava ser escolhido?
-Sim esperava ser escolhido sim. Esperava, passava na rua e de alguma forma as pessoas colocavam. Claro que eu não estou isento, sou um ser humano. Ouvia todas as enquetes e possibilidades. Profissionalmente todos são iguais, mas eu vejo momentos profissionais importantes de cada um. E entendia que o momento me oportunizava a criar essa expectativa, como esses outros profissionais. Não é demérito nenhum de agora reiniciar o trabalho com o Dunga pra que ele possa mostrar o seu melhor.
Galvão Bueno e Tite conversaram no gramado do Caxias (Foto: Sidney Garambone)
Porquê o Tite está desempregado até hoje?
- Galvão, a gente faz escolhas. Quando terminou uma fase importante, são três anos e meio no Corinthians. A atividade profissional é gratificante, mas é muita pressão. Entendi que era o momento de reciclar, observar, momento de olhar outros clubes, um momento de família. Momento de eu me oportunizar pra uma seleção brasileira. onde uma outra seleção que viesse...isso veio no contexto todo.
Você foi a Espanha encontrar o Carlo Ancelotti. Por quê?
- O Mourinho é um técnico extraordinário, fascinado pelo resultado. O Guardiola, pelo espetáculo. E quem consegue equilibrar esses dois aspectos. Competitivo e qualidade chama-se Ancelotti, no meu entender. E o Real Madri hoje é o que melhor representa isso. E eu quero ter acesso com ele dessa montagem, dessa estrutura ofensiva que ele tem, com quatro jogadores extraordinários. Trocou o Di Maria agora pelo James e mantem uma estrutura extremamente criativa. Esse equilíbrio dele me fascina.
Você se identifica com ele?
- Um pouquinho do jeito de ser, mais discreto. Não cauteloso, mas ponderado. Na Liga dos Campeões...40 do segundo tempo ele se mantém equilibrado, claro que está fervendo por dentro, mas focado, atento, voltado ao jogo. Essa capacidade de concentração, de estar dentro do jogo é exemplar dele. Talvez um pouquinho desse perfil. Eu sou um pouquinho diferente. Já fico mais elétrico. Esse perfil, esse modelo, ele cativa!
É verdade que você tem um estudo feito dos 64 jogos da Copa do Mundo?
-Tenho. Eu fiquei em casa, aqueles jogos que eram concomitantes, que eu não consegui ir eu acompanhei ou com vídeo tape, ou com os principais momentos. Mas os outros todos eles tem o aspecto tático da equipe, as movimentações, a estratégia do jogo, pressão alta, média ou baixa. Se era transição rápida, se era um time mais de posse de bola, Tenho esses 64 jogos anotados.
Você negociou com a seleção japonesa?
-Eu não apressei esperando pela brasileira.
Hoje você não é o técnico do Japão porque esperou pela seleção brasileira. Se arrepende?
-Não! Eu acredito que a gente paga o preço das nossas escolhas. Eu tenho muito claro as minhas escolhas. A minha escolha é de qualificação profissional, de crescimento.Tem um tempo para o próprio tempo...sem ser filósofo!
Você não aposentou o sonho de ser técnico da seleção brasileira?
-Não aposentei não. É um objetivo meu profissional. Meu objetivo é dar segmento à minha carreira profissional no Brasil. Em função da língua não crio um sonho maior.
Não sonha em estar num time top europeu?
-Não posso imaginar top se não tenho a fluência da língua. A preparação do técnico e da equipe é tem que ser muito clara e limpa. Eu não posso me iludir.
Como é que a Rosi te aguenta em casa?
- (Risos) Eu fui ver o City, Arsenal, Champions, final da Libertadores. É uma parte importante do meu trabalho.
E a adrenalina? Sente falta?
-Não aguento mais também. Quero voltar. Estou pensando exatamente isso, estou num tesão desgraçado para voltar.