14/10/2014 10:41

Bandeirão sofre despejo da “maloca” e enfrenta o gelo de Itaquera

Bandeirão que cobria todo o tobogã do Pacaembu foi parar na casa de Rogério Bassetto no ABC

Bandeirão sofre despejo da “maloca” e enfrenta o gelo de Itaquera
O Corinthians perdeu o seu último resquício no Pacaembu. No início do mês, a administração do estádio municipal entrou em contato com Rogério Bassetto para avisar que seria necessário despejá-lo de uma sala sob o tobogã. Lá dentro, aquele torcedor, artista e sociólogo guardava um bandeirão de aproximadamente 70 metros de altura por 91 de largura, com o distintivo corintiano pintado com mais de meia tonelada de tintas acima da inscrição “Time do Povo”.

O medo era de que o adereço provocasse uma revolta nos novos frequentadores do local, os palmeirenses.

“Esse bandeirão foi feito para a arena de Itaquera. O Andrés (Sanchez, ex-presidente do Corinthians) me disse: ‘Pode tacar o pau, que vamos abrir no setor leste’.

Aí, caiu o guindaste na época da construção, houve aquela tragédia toda, e me pediram para esperar. Mas a assombração do padrão Fifa nunca mais saiu de lá.

Aquele estádio ainda é gelado. Só abri a bandeira no Pacaembu no jogo contra o Vasco porque estava ansioso para ver o maior símbolo já pintado no mundo – foi feito para o Guinness Book – ali, cobrindo todo o tobogã”, contou Rogério.

Criador de muitos dos bandeirões das torcidas organizadas, o artista despejado do Pacaembu começou a trabalhar também em parceria com o clube do coração a partir de 2009. Foi ele quem produziu os mosaicos que marcaram a conquista da Copa Libertadores da América de 2012, as faixas institucionais penduradas no estádio paulistano e a bandeira da República Popular do Corinthians (com o lema “Uma nação com mais de 30 milhões de loucos”), tradicional no tobogã.

Ao contrário de todas essas ações, o “bandeirão do povo” – como Rogério batizou a sua última criação –, não contou com suporte financeiro do Corinthians. Ele decidiu confeccionar a bandeira com o maior distintivo do mundo quando aquela da República Popular começou a esgarçar e até chegou a buscar apoio no clube para a iniciativa.

“Mas os caras cascaram o bico. Acharam que eu estava meio doido”, gargalhou. “Resolvi que seria um presente meu para o Corinthians. Eu faria de qualquer jeito.” E fez.
Rogério vendeu o seu carro, uma picape, por R$ 10.500 para comprar o pano quilométrico do bandeirão do povo.

Também se desfez da cama onde dormia. “Era muito louca, cara, retratava o bandeirão cinco dos gaviões”, contou. Coçando a cabeça, pensativo, lembrou ainda que fez algumas rifas e estilizou camisetas para a despedida do Pacaembu para aumentar o montante acumulado, além de ter contado com a doação das tintas. “O dono da empresa é corintiano fanático.

Corintiano é f...”, afirmou, agradecido. Restava, no entanto, juntar dinheiro para pagar as costureiras envolvidas no projeto.



“Foi aí que veio uma corincidência”, disse, em uma das dez vezes em que utilizou o neologismo para falar sobre a sua trajetória de vida. “A Ponte Preta é um primo distante, mas que já foi bastante íntimo da gente. Ela esteve presente no título de 1977 e nos proporcionou coisas maravilhosas, como a substituição do frangueiro Julio Cesar (falhou justamente contra o time de Campinas) pelo Cássio.

Bom, a Ponte me ligou. Eles queriam um mosaico para a final da Copa Sul-americana, mas sem pagar mais de R$ 5 mil por isso. Cobrei R$ 4 mil e pedi para depositarem direto na conta das costureiras. E foi essa doideira... O bandeirão saiu”, sorriu.

O adereço gigante acabou aberto no tobogã pela última vez em 27 de abril, quando o Corinthians se despediu do Pacaembu com uma vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo.

Naquela partida, o clube deu adeus à sua antiga casa ao ritmo de “Saudosa Maloca”, do sambista corintiano Adoniran Barbosa. Houve até um bandeirão temático de Rogério para homenagear o local dim dim donde o clube festejou boa parte de suas glórias.

O adereço circulou por quase todos os setores – apenas a Gaviões da Fiel não quis tremular o pano, onde estava desenhada a fachada do estádio, porque havia verde (cor do rival Palmeiras) em uma pequena bandeira do Brasil.



Da Saudosa Maloca, o bandeirão do povo seguiu para o Saudoso Cafofo. É assim que Rogério Bassetto chama a sua casa, em Santo André. Ele colocou até um letreiro para identificá-la logo na entrada, acima dos portões com escudos do Corinthians e abaixo de um relógio (semelhante ao do Pacaembu) que marca 11 horas, em provável alusão ao “Trem das Onze” de Adoniran. “Eram duas casas.

Em 2009, a Gaviões alugou a casa do fundo para a gente fazer aquele bandeirão gigante deles”, lembrou o corintiano, que investe todo o seu dinheiro para caracterizar o imóvel. Já espalhou quadros de seus inúmeros bandeirões nas paredes, possui mesas de pingue-pongue e de pebolim (com jogadores alvinegros) e mantém ativos o bar e as churrasqueiras – principalmente em dias de jogo.

“Foram quase R$ 50 mil aqui dentro. Gasto tudo em fogos, em cerveja e em carne. Nunca ostentei a pobreza, mas posso dizer que ela sempre fez parte da minha vida por algum mistério que remete à minha essência”, riu.

Rogério também não gosta de ostentação de riqueza. Com a simplicidade de quem produzia bandeirões para organizadas de graça ou em troca de ingressos, de camisetas e até de uma sacola com cervejas (que bebeu enquanto trabalhava), ele estranhou a arena de Itaquera em sua primeira visita.

“Fui lá por causa da festa de aniversário do Corinthians, quando aconteceria um show da Ivete Sangalo, para preparar um bandeirão. Entrei ali, pisei naquele chão luxuoso de mármore – dizem que era granito, na verdade – e senti tudo meio... Falei: ‘Putz, esse estádio é gelado’”, constatou.



Disposto a mudar a primeira impressão, Rogério tentou esquentar Itaquera com mosaicos e bandeiras nas partidas inaugurais. O departamento de marketing do Corinthians teve o seu quadro de funcionários alterado e, sem recursos no momento, deixou de lado aquelas ideias tal qual foi feito com o bandeirão do povo.

“O espírito ruim ainda não saiu de lá. Existe a assombração do padrão Fifa, mas não podemos nos esquecer de que temos uma torcida humana. O próprio marketing deve estar percebendo que a arquibancada começou a ficar fria. E é uma viadagem... A relação dos clubes com as torcidas passou a ser plastificada, como se o torcedor fosse um Playmobil”, lamentou.

A longa conversa com a Gazeta Esportiva conseguiu reanimar Rogério Bassetto. Pouco depois de ir a Itaquera para pendurar uma faixa de publicidade para a AACD, ele ouviu de um amigo que ainda chegaria a hora ideal de acalentar a moderna arena com as suas ações mais ousadas.

E, por uma corincidência, seu telefone celular tocou em seguida. “Não é que vocês me ligaram para perguntar do bandeirão? Na minha vida, as coisas são assim. Essa matéria poderá servir para chamar a atenção para o bandeirão do povo, que está esquecido aqui.

Havia ficado órfão do Corinthians no Pacaembu. Eu ainda não tinha ido muito atrás dessas coisas porque senti que aquele estádio não tinha nada a ver com o povo. Existia uma energia escura. Mas quem sabe não está chegando a hora de fazer festa? Isso é inevitável”, entusiasmou-se, de olho em uma eventual semifinal de Copa do Brasil com o Flamengo.

Segundo ele, o encontro das massas seria a ocasião perfeita para mostrar, com mosaico e bandeirões, que o Time do Povo sobrevive em um cafofo da Zona Leste de São Paulo.


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4851 visitas - Fonte: GazetaEsportiva.Net

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