Kaká, 32 anos, entra na sala para a entrevista, sorriso no rosto, cumprimenta a todos com desenvoltura. Pouco tempo depois, com o bate-papo exclusivo com o LANCE!Net iniciado, passa Muricy Ramalho. Kaká faz uma brincadeira, indicando que vai se atrasar para a concentração, e arranca uma gargalhada singela do professor.
Não demora e aparece Rogério Ceni. O encontro é por acaso. Kaká reclama que o capitão está atrapalhando passando por ali.
– Pô, desculpa, gente! – brinca Ceni, outra “vítima” do amigo.
Mais do que um brincalhão, as cenas após o treino de sexta-feira refletem o ser humano maduro e feliz a que o torcedor são-paulino vê agora com deleite e que volta ao time neste domingo, no clássico contra o Corinthians, após cumprir suspensão na derrota de 3 a 1 para o Coritiba.
Maturidade que atrai respeito das figuras mais importantes do clube. Felicidade que o faz conduzir o Tricolor sonhando com o título brasileiro. Após 11 anos na Europa, Kaká voltou melhor e mais decisivo do que o garoto vítima do Corinthians em três decisões de campeonato (veja abaixo).
A análise é do meia e o faz crer que tudo pode ser diferente neste domingo, no reencontro com o algoz.
– É completamente diferente. Tenho uma bagagem no futebol muito maior, experiência, e nesse clássico vou ter uma visão completamente diferente da que eu tive na época – declarou o camisa 8.
Kaká disputa bola com zagueiro Anderson, em duelo decisivo contra o Corinthians
– As experiências foram ótimas, muitas difíceis e me dão a tranquilidade. Claro que no campo você nunca sabe o resultado final, mas hoje sei o quanto posso render.
Se vai ganhar ou perder depende de outros fatores, mas no que depende de mim, posso fazer – completou o meia, melhor do mundo em 2007.
Essa confiança e visão diferente de jogo fez falta lá atrás, admite.
– Isso contribui. Meu jogo era muito mais intuitivo, que também é legal, a genialidade. Fazia umas jogadas que nem sabia. Hoje sei o momento que tenho de arrancar, fazer o time tocar a bola, o momento de segurar, da pressão. Toda essa leitura de jogo ajuda – argumenta.
Machucado, Kaká não atuou em dois jogos das decisões contra o Corinthians, mas ainda assim foi criticado pela torcida numa época em que o time foi chamado de “amarelão”. Sem ressentimento, porém.
– Não fica nenhuma marca de amargura ou constrangimento. Acontece. A fase do Corinthians era muito boa. O Parreira arrumou o time - relembra o meia tricolor.
São oito Majestosos na carreira, com duas vitórias, três empates e três derrotas. Iguala tudo? Kaká parece ter certeza de que sim.
CAIU PARA O RIVAL
Copa do Brasil 2002
São Paulo perdeu o primeiro jogo por 2 a 0 e precisava no mínimo devolver o placar para decidir a vaga à final nos pênaltis. Kaká jogava no sacrifício com problemas físicos e até fez um gol. Mas a vitória por 2 a 1 não foi suficiente. Primeira queda.
Meia tenta se livrar da marcação em outro duelo decisivo, e é observado por Vampeta
Rio-São Paulo 2002
Na semana seguinte, outra decisão contra o rival, agora na final. O São Paulo perdeu o primeiro jogo, ainda sem o lesionado Kaká, por 3 a 2. Ficou a um gol do título no segundo duelo, com o meia, mas sofreu o empate por 1 a 1 no fim e ganhou fama de “amarelão”.
Paulista 2003
Duas derrotas por 3 a 2, ambas no Morumbi. Sem marcar gol, Kaká saiu do primeiro jogo lesionado e não conseguiu se recuperar para o segundo duelo. Meia deixaria o clube meses depois, criticado por parte da torcida.