12/9/2014 13:14

Projeto de Sheik: para não sumir, Romarinho quer ser ídolo no Catar

Ex-atacante do Corinthians estreia pelo El-Jaish neste sábado e já faz planos de voltar: "Vou sentir falta até das vezes que invadiam o CT, quebrando carro..."

Projeto de Sheik: para não sumir, Romarinho quer ser ídolo no Catar
Não faz nem uma semana que Romarinho desembarcou em Doha, no Catar, para assinar contrato de quatro anos e se apresentar ao seu novo clube, o El-Jaish. E de cara já conheceu um inimigo.

- Tirando o calor, é tudo muito bom. Tive dois treinos aqui e sofri bastante. Quase vomitei (risos).

De fato a temperatura não costuma dar trégua na terra da Copa do Mundo de 2022. Nessa época do ano, os termômetros marcam 40ºC, com sensação térmica ainda maior.

Apresentado pelo El-Jaish, o ex-atacante do Corinthians vai estrear sábado, contra o Al-Arabi. Cercado por expectativa, como ocorre com quase todos os brasileiros que chegam ao Catar, ele dá início ao projeto de Sheik: fazer muitos gols e conquistar os árabes.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, Romarinho fez um balanço dos três anos de Corinthians, falou dos excessos que cometeu fora de campo, das surpresas com a cultura da sua nova casa e reconheceu que tem medo de sumir do mapa. Foi por isso que relutou ao receber a proposta. Aos 23 anos, foi negociado por cerca de 8 milhões de euros (R$ 23,4 milhões).

- Meu sonho sempre foi jogar na Europa, jogar a Champions League. E aqui eu sei que o jogador some. Aqui a gente vem por causa do dinheiro mesmo. Futebol é bem abaixo do Brasil e da Europa. Coloquei na cabeça que vou ficar três aninhos aqui, quatro, juntar um dinheiro e voltar.


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Confira a íntegra da entrevista:

Quais são suas primeiras impressões sobre Doha, sua nova casa?

É legal. Tirando o calor, é tudo muito bom. É tudo muito novo para mim. A gente andou pouco, foi mais no shopping, saímos para jantar num lugar que eu não sei o nome (Katara – espaço cultural e gastronômico), mas é muito bonito. Tiramos muitas fotos. Está sendo incrível, uma experiência nova e tomara que dê certo.

Está realmente impressionado com o calor que faz aqui? Já tinha visitado um lugar tão quente?

Não, não. A gente foi para Dubai com o Corinthians, treinamos lá. Sabia que era muito calor, mas tive dois treinos aqui e sofri bastante. Quase vomitei (risos). Toda hora com a mão no joelho, mas com o tempo, daqui a um mês, já me acostumo e vai ser bem melhor.

Como é que foi o primeiro contato com os novos companheiros, dirigentes. E torcedor, viu algum?

Torcedor é invisível aqui (gargalhadas). Tá louco. Não vi nenhum torcedor ainda, não. Só esses caras com negócio na cabeça (turbantes). Mas tive contato com dirigentes, diretores, com jogadores. Bem legal. Tem dirigente que já chama você de “viado”. Eles aprendem besteira. Primeira coisa que eles aprendem aqui é falar besteira. Jogador então, fala um monte de palavrão. Os brasileiros que passam por aqui só ensinam besteiras para os caras.


Romarinho em passeio noturno por Doha

Já tem previsão de estreia?

Sábado eu estreio (contra o Al-Arabi).

Está pronto?

Vou te falar a verdade. Não pronto, pronto. O calor vai ser complicado. Do resto, estou bem, não estou 100% fisicamente, mas estou pronto para jogar, estou querendo, acho que isso supera tudo.

O Anderson Martins, que está lá no Corinthians, deve ter falado alguma coisa do clube. O que você ouviu dele?

Ele falou para fazer gol. Que com o brasileiro a cobrança é maior, tem que ir para resolver. Falou mais isso. Falou que a cidade é boa, que eu vou gostar, que vou me sair bem aqui. Foram os conselhos dele. Falou que era para vir se tivesse oportunidade, que vou me dar bem.

Sobre os costumes, ele disse algo? Porque aqui existem algumas restrições, hábitos curiosos...

Então, ele falou que você não pode ficar pelado no vestiário (risos). Lá no Brasil, a gente é tudo largado, brinca, à vontade, e aqui eles têm os costumes deles e tem que respeitar. Ou então a gente vai preso. Daqui a pouco está na cadeia e não sabe nada (risos).

E essa questão de resolver para o time. Chega com muita pressão, né? Muitos brasileiros já passaram por aqui, fizeram sucesso, mas outros não vingaram.

Sempre com a expectativa de fazer muitos gols. O brasileiro tem que fazer isso, porque ele vem para resolver. Mas eu estou pronto. Tenho na cabeça que vou fazer muitos gols aqui. Eles me contrataram, me viram, apostaram em mim, pelo futebol que mostrei no Brasil, no Corinthians. Vou fazer o que estava fazendo lá e, se tiver a chance, balançar as redes.

Como foi a decisão de vir para cá? No início você relutou, mas depois mudou de ideia. Foi difícil?

Pensei bastante. Muita gente que ficou sabendo que eu viria para cá disse para não vir. Outros falavam para aceitar, mas a maioria dizia que era para não vir. Pensei, falei com minha família, sentei com meu empresário. Foi difícil. Fui sincero com ele, falei o que estava acontecendo, que não queria ir. Mas acho que foi bom para mim e para minha família. Decidi vir.

Qual era o receio? Sumir?
Também. Mais por isso mesmo. Meu sonho sempre foi jogar na Europa, jogar a Champions League. E aqui eu sei que o jogador some. Aqui a gente vem por causa do dinheiro mesmo. Futebol é bem abaixo do Brasil e da Europa. Coloquei na cabeça que vou ficar três aninhos aqui, quatro, juntar um dinheiro e voltar. É o meu pensamento. Mas (longa pausa) é isso, pai (risos).

Você está com 23 anos, é jovem, dá tempo de aproveitar o momento aqui e tentar retomar o sonho europeu?

É o meu pensamento. Vou aproveitar aqui da melhor maneira. Se for para jogar na Europa, que é meu sonho, acho que vai se realizar um dia.

Você está acostumado a jogar para a torcida do Corinthians. E aqui as partidas geralmente ocorrem com estádios vazios. Vai estranhar muito isso?

Acho que vou, não tem jeito. Tinha aquela pressão de ter que ganhar, da torcida cantando. Ainda mais a torcida corintiana, que se você não ganha tem até a música que o bicho vai pegar, né? (risos). E aqui não tem isso. Vou ter que me acostumar com isso. Acho que vou sentir falta do calor da torcida. Vou sentir falta até das vezes que invadiam o CT, quebrando carro (gargalhadas). Vou sentir bastante falta mesmo do Brasil.


Romarinho durante sua apresentação oficial ao clube

Sobre o nível técnico daqui, o Anderson Martins explicou como é?

Falou que os caras daqui, sem ser os estrangeiros, jogam bem abaixo. Falou para ter paciência, bastante paciência, que é complicado. Estamos acostumados com futebol mais rápido, toque de bola, e aqui ele falou que você toca, espera a jogada na frente, no um-dois, uma tabela, mas esquece. Ele falou: esquece. Disse para ter paciência e procurar sempre o gol.

Aqui você deve ter que ensinar um pouquinho. Está pronto?

Para ensinar? Vai ser meio difícil ensinar, viu? Mas estou aqui para ajudar se precisar. Vou fazer minha parte e aqui tudo vai dar certo.

Entre um momento e outro no Corinthians, ganhou fama principalmente pelos gols marcados sobre o Palmeiras. Foram cinco em cinco jogos. E aqui não tem clássico, não tem rivalidade...

Então, eles disseram que não tem rivalidade entre times aqui. Fiquei meio triste (risos). Vou sentir muita falta de jogar contra o Palmeiras, jogar contra times grandes do Brasil. De ter um clássico, essa cobrança.

Você está aqui com seu empresário (Renato Costa), mas daqui a pouco ele volta para o Brasil. Fica bem sozinho ou precisa de muita gente por perto?

Rapaz, não gosto de ficar sozinho, não. Vou trazer todo mundo. Mãe, pai, tio, irmão, cachorro, gato. Não gosto de ficar sozinho. Já falei que quero uma casa bem grande para não ter esse problema. Aqui a gente vê que é bem difícil. Estava falando com o Domingos (ex-zagueiro do Santos), e ele falou que não dá para ficar sozinho, que é para trazer quem eu quiser, porque é complicado mesmo.

Mas tem muito brasileiro aqui. Dá para contar com eles nesse início, né?

Bom que tem vários brasileiros. Vai no shopping e encontra um. Bom é isso. Vou procurar me enturmar, falar o inglês também, né? Aprender. Você sofre um pouco. Só balança a cabeça (risos). Não dá. Não falo nada. Tem um intérprete.


Romarinho diz que tem a ajuda de um intérprete em Doha

Você está acostumado com a vida agitada de São Paulo. E aqui talvez só o trânsito de Doha lembre um pouco o de lá. Acha que consegue se adaptar?

Vou sentir falta de tudo. Da cidade, do barulho. Você sai na rua aqui e os caras são bem tranquilos. No Brasil é aquela bagunça, o trânsito de São Paulo. Você vai no shopping e é parado, mas aqui ninguém te conhece. Vai ser uma experiência boa, uma experiência nova. Espero ficar aqui um pouquinho e voltar para o Brasil.

Nós temos exemplos de jogadores que fizeram muito sucesso aqui. Você jogou com o Emerson, que tem até o apelido de Sheik, e era idolatrado. Você falou do sonho da Europa, mas acha que um novo caminho pode se abrir?

Pode ser outro caminho. Sonhei uma coisa, o sonho era outra, de fazer sucesso na Europa, e hoje estou aqui. É um lugar totalmente diferente, o futebol não é muito conhecido, mas acho que vou continuar sonhando com a Europa, não vou desistir. Fazendo meu trabalho bem feito aqui, se não for de Deus, espero ser muito feliz aqui também.

Como você vê essa coisa do uso da burca, muitas mulheres andam completamente cobertas. Os homens também com um traje típico. O que achou?

Engraçado demais. As mulheres só com o olhinho para fora. A maioria dos homens vestidos assim, de tobi, né? E as mulheres, nossa... No Brasil, as mulheres andam com tudo de fora e aqui totalmente ao contrário (gargalhadas). A gente sente falta do Brasil nesse momento, cara (risos).

No segundo semestre do ano passado você caiu de rendimento e reconheceu que estava abusando um pouco da noite. Pensando na vida aqui, que não tem tantas opções, acaba juntando o útil ao agradável? Fica mais quieto, jogando bola...

Com certeza (risos). Ficar mais quietinho, né? Recuperar um pouco as energias (gargalhadas). Mas foi mais boato aquela época. As pessoas falam muito. A gente faz uma coisa, mas aumentam para caramba. Sou tranquilo, pode falar à vontade. Está certo que exagerei em ter saído, mas naquela fase era todo mundo. A fase em que fomos campeões da Libertadores, campeão mundial. Aí a corda estourou para o lado mais fraco.

Dona Vera, sua mãe, foi até morar contigo em São Paulo para ajudar a segurar a onda. Ela vem para cá quando? Já sabe?

Lá em São Paulo minha mãe já estava comigo quando cheguei no Corinthians. E aqui eu já chamei, pedi para tirar o passaporte, mas ela falou que não gosta de andar de avião, que tem medo. Acho que vai ser difícil ela vir.

Qual o balanço da sua passagem pelo Corinthians?

Foi uma coisa que aconteceu muito rápido na minha vida. Cheguei e já tive aquele sucesso todo. Aí depois fiquei naqueles altos e baixos. Mas é um clube que nunca vou esquecer, tenho carinho, é meu time de coração. Quem sabe um dia eu volto? Só tenho a agradecer, abriu as portas para mim, acreditou, então agradeço muito a eles?

E a relação com a torcida?

É amor e ódio, né?

Foi mais amado ou odiado?

Acho que as pessoas de fora conseguem ver melhor. Eu procurava focar mais no meu trabalho no Corinthians. Lógico que você tem as pessoas que postam na rede social xingando, mas tinha fãs que apoiavam. Não tenho que falar nada da torcida. Só tenho a falar do time, que agradeço muito.

Com 23 anos, está feliz com o rumo que sua carreira tomou?

Estou feliz, bastante feliz mesmo. Foram três anos de Corinthians, quatro títulos importantes, que vão ficar para a história. Eu faço parte de tudo isso. Está acontecendo de vir para cá, estou feliz, mas eu quero chegar mais longe ainda.

O que mudou do Romarinho que chegou ao Corinthians para o que chega ao Catar?

Chegando aqui nos treinos, vejo que tenho muito mais experiência. Você vê a diferença dos outros jogadores. A cabeça está mais tranquila. Aqui tem que aprender a ser mais tranquilo. Não tem barzinho, não tem nada. Então, você tem que ser tranquilo (risos). Amadureci bastante, estou quase um árabe já, pô (gargalhadas). Comendo com a mão e tudo (risos).




Comeu o quê?

Cordeiro e o arroz deles (confira o vídeo ao lado).

Achou ruim?

Não. É diferente. Arroz com um monte de coisas, o nosso é aquele branco. Mas o cordeiro é bom, gostoso.

Soube que aqui, quando o clube ganha um título, na comemoração o sheik oferece carne de camelo aos jogadores. Comeria?

Rapaz, nunca comi, não. Mas eu gosto de experimentar as coisas. Eu como.
Comi coisa pior, cara. Não vou comer camelo?

Comeu o quê?

Comi terra, barro, não vou comer camelo?

E tem que dar uma volta de camelo, conhecer o deserto...

Não, isso não. Conhecer deserto nenhum. Melhor ficar no hotel, geladinho. Sair na rua só para treinar e enfrentar esse calor.

Não sei se já te falaram, mas alguns torcedores aqui são contratados pelos clubes. E se o outro clube faz uma proposta melhor eles mudam dele lado.

É mesmo? Então meu clube tem que contratar a Gaviões (risos).

E o que você teria a dizer para a torcida do Corinthians? Uma despedida.

Vou estar torcendo de longe. Agradeço a todos, de coração. Ao Corinthians também. A torcida corintiana nunca vai mudar esse jeito louco. É o que faz a gente torcer mais pelo Corinthians. Espero voltar um dia, se Deus quiser. Torcendo para que o time seja campeão brasileiro, da Copa do Brasil, estou acompanhando. E um “vai, Corinthians!”, obrigado por tudo.


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