6/9/2014 12:57

Ex-corintiano virou palestino, rejeitou São Paulo e se afastou até de seleção por 'pé de meia'

Ex-corintiano virou palestino, rejeitou São Paulo e se afastou até de seleção por 'pé de meia'
Jucilei, ex-Corinthians e Anzhi, está atualmente no Al Jazira, dos Emirados Árabes

Jucilei chegou ao Corinthians em 2009 ainda garoto. Logo na estreia, contra o Internacional, no Pacaembu, quase marcou um golaço. Virou titular absoluto no ano do centenário. E deixou a equipe já no início da temporada seguinte, rumo ao distante futebol russo. Três anos e meio depois, por telefone diretamente do mundo árabe, falou ao ESPN.com.br sobre suas escolhas na carreira, motivadas principalmente pelo aspecto financeiro.

Atualmente com 26 anos, Jucilei está no Al Jazira, onde virou cidadão palestino e é um dos principais nomes da Liga dos Emirados Árabes Unidos. Rejeitou uma proposta boa do São Paulo no começo do ano. Também recusou ir para o Napoli e outra oferta do futebol inglês. Mas colocou em primeiro lugar o lado econômico motivado principalmente pelo bem estar de sua família - ele mora com a esposa e seus filhos no Oriente Médio. "E meu futuro, como fica? Então tudo é pensado. Não posso fazer coisas agindo com a emoção. Tem que ser com a razão", explicou.


Jucilei é um dos principais nomes do Al Jazira

"Estava quase certa a minha ida ao São Paulo. Só que a proposta do Al Jazira foi melhor. No Brasil teria visibilidade maior, mas preciso fazer meu pé de meia, não adianta eu voltar e não pensar no meu futuro, no futuro da minha família. Preciso garantir o futuro meu e da minha família. Vou para onde tiver a melhor proposta, entendeu? Quem chegar com a melhor proposta, eu vou. Senão, não tem negócio. E a proposta do São Paulo era boa. Só que a do Al Jazira era melhor, e resolvi vir para cá", disse o atleta.

Em conversa de meia hora por telefone nesta segunda-feira, Jucilei falou sobre o Al Jazira, relembrou a passagem pelo time russo Anzhi e negou ter sido procurado pelo Corinthians no começo do ano. No clube, o volante teve ótima passagem e foi titular absoluto em todo o ano de 2010, criando vínculos com a torcida alvinegra. O atleta também comentou a respeito de seleção brasileira e admitiu que suas chances são bem menores por causa da escolha de atuar nos Emirados Árabes Unidos.

"Eu tenho a consciência que jogando aqui fica difícil. Como sabia que saindo do Corinthians e indo ao futebol russo eu ia entrar no esquecimento. Eu sabia disso. E eu voltando para o Brasil a possibilidade de 1% vai para 50%, 60%. E aqui ninguém está vendo. O Dunga não está vendo, o auxiliar do Dunga não está vendo. Então eu posso arrebentar aqui, que é difícil, eu sei disso. Eu acredito no meu potencial e acredito que posso jogar na seleção, mas aqui fica difícil eu ser convocado. Se for convocado à seleção, o Dunga vai ser questionado", definiu.

O volante ainda opinou sobre o recente caso de racismo sofrido pelo goleiro Aranha, do Santos, que foi xingado de macado por um grupo de torcedores do Grêmio. "Acho que tem que ter uma lei, criar uma lei para isso. Pagar multa. Se não pagar multa, tem que ser preso. Senão isso não acaba nunca. Vai no estádio, chama de macaco e fica por isso mesmo. Vai lá depor, e aí acabou. Então não adianta de nada. E a pessoa sente muito. Posso até imaginar o que o Aranha sentiu. É chato isso. Então é muito complicado", analisou Jucilei.

DIVULGAÇÃO

Jucilei foi contratado pelo Al Jazira no começo do ano e recebeu camisa de número 11

Confira, a seguir, a entrevista de Jucilei ao ESPN.com.br, na íntegra:

ESPN - Como anda a vida por aí?

Jucilei - Aqui tudo certo, tudo bem, faltam duas semanas para começar o campeonato. Estreamos dia 15 de setembro, fizemos um amistoso hoje, chegou na fase final da pré-temporada e vai começar o campeonato. O time está bem, está tudo indo bem graças a Deus. Fiquei 20 dias na Suíça fazendo a pré-temporada agora, voltei tem uma semana. Fico mais em casa, a vida está boa, faz muito calor. Uns 42, 43 graus. Está mantendo essa temperatura, às vezes faz 33, 32 graus, não passa disso.

ESPN - Comida, tratamento do povo local, como são essas coisas?
Jucilei - Trago comida do Brasil mesmo. Feijão, arroz, farofa, essas coisas que eu gosto mais. O restante a gente compra aqui mesmo. Carne, tudo. Tem Carrefour e vende carne do Brasil. Como comida brasileira. Os estrangeiros dão um tratamento muito bom, tratam a gente muito bem, nossos familiares, dão assistência fora e dentro de campo, a respeito disso não tenho nada a reclamar, só a agradecer ao Al Jazira.

ESPN - Por que a decisão de ir jogar nos Emirados Árabes? O São Paulo também tinha te procurado, não é?
Jucilei - Vim para cá pois a proposta foi melhor. Estava quase certa a minha ida ao São Paulo. Só que a proposta do Al Jazira foi melhor, fiz um contrato de três anos e meio e quem sabe depois desse contato eu volto.

ESPN - O Corinthians te procurou também?
Jucilei - Corinthians não me procurou, só São Paulo e Cruzeiro.

ESPN - Se tivesse sido o Corinthians que te procurou, você teria voltado?
Jucilei - Eu gosto do Corinthians, pois me deu a oportunidade de mostrar meu futebol ao Brasil e para o mundo. Por isso, gosto do Corinthians. Mas vou voltar quando a proposta for melhor. Quando isso acontecer eu volto para o time que a proposta for melhor em termos financeiros, de dinheiro. Quando for do Corinthians, eu vou.

ESPN - Mas no Brasil você não acha que a visibilidade seria maior do que nos Emirados Árabes, que é um centro menos conhecido no futebol mundial?
Jucilei - No Brasil teria visibilidade maior, mas preciso fazer meu pé de meia, não adianta eu voltar e não pensar no meu futuro, no futuro da minha família. Preciso garantir o futuro meu e da minha família.

ESPN - E se fosse o Flamengo, que é seu time de infância?
Jucilei - Vou para onde tiver a melhor proposta, entendeu? Quem chegar com a melhor proposta, eu vou. Senão, não tem negócio. E a proposta do São Paulo era boa. Só que a do Al Jazira era melhor, e resolvi vir para cá.

ESPN - Seu contrato é de três anos e meio. Pretende cumprir ou sai antes?
Jucilei - Penso em ficar até o final do contrato, que vai até o meio de 2017. Se chegar uma proposta para ganhar melhor, eu fico aqui mais um ou dois anos, e depois eu voltaria.

ESPN - Recentemente você virou cidadão palestino. Por que?
Jucilei - O clube ofereceu e eu aceitei. É bom para mim e para o clube, jogo como asiático aqui. Aqui você pode jogar três estrangeiros e um asiático. Agora eu jogo como asiático. Aí o clube ofereceu, aceitei, é bom para mim e para o clube. Caso eu não fique aqui daqui a dois anos e meio posso jogar em outro time aqui como asiático. Posso ir para Arábia Saudita, Emirados, Catar, sempre como asiático. Acho que foi bom para mim e para o clube.

ESPN - Mas por que palestino?
Jucilei - Não sei bem porque foi que escolheram logo a Palestina. Perguntaram se eu aceitava, aceitei, passei os documentos e fizeram o passaporte.


Jucilei durante jogo no Catar

ESPN - E se te convocarem à seleção palestina, você vai?

Jucilei - Não aceitaria. Meu foco, sei que é difícil, mas meu foco é a seleção brasileira. Esse é meu negócio. Aqui nunca teve um jogador na história da CBF que foi convocado. Não me lembro. Então acho que é difícil, mas não impossível. Tenho esperanças ainda. Sei que o nível do futebol aqui não é igual ao Brasil ou à Europa, mas o Brasil me conhece, conhece meu futebol. Tenho esperanças nessa pré-temporada ir bem, quem sabe?

ESPN - Em entrevista à Placar no ano passado você disse que pensava em ir para Espanha ou na Itália. O que mudou? Nesses lugares você acha que não ganharia tão bem quanto nos Emirados Árabes?

Jucilei - Teve uma proposta do Napoli, mas não foi boa. Teve uma também de um time da Inglaterra, um que caiu até, se é que caiu. Ah, o Fulham. Queria me levar, mas a proposta era muito baixa e não aceitei.

ESPN - Os árabes, então, pagam bem acima do que não apenas o futebol brasileiro, mas também o resto do mundo?

Jucilei - O árabe, o russo, o ucraniano, o chinês. Pagam bem, cara. É um país onde o futebol não é tão alto, e nem tão visto, mas pagam bem. Então é difícil de recusar uma proposta assim. Claro que a gente pensa em seleção, mas é difícil recusar uma proposta quando ela é muito boa. Não podemos rasgar dinheiro, não é (risos)?

ESPN - Pela sua linha de pensamento, então, a seleção é seu segundo plano? Se vier, ótimo, mas o foco é fazer o pé de meia mesmo?

Jucilei - Eu tenho a consciência que jogando aqui fica difícil. Como sabia que saindo do Corinthians e indo ao futebol russo eu ia entrar no esquecimento. Eu sabia disso. E eu voltando para o Brasil a possibilidade de 1% vai para 50%, 60%. Sei que no Brasil, em um campeonato como o Brasileiro, ficando entre os primeiros, beliscando vaga na Libertadores e indo bem nos jogos, a imprensa começa a falar. Então, você está no Brasil, a imprensa começa a insistir 'o cara é seleção, está merecendo uma oportunidade', então daqui a pouco ele é convocado. Assim que funciona. E aqui ninguém está vendo. O Dunga não está vendo, o auxiliar do Dunga não está vendo, ninguém está vendo. Então eu posso arrebentar aqui, que é difícil, eu sei disso.

ESPN - Você acha que jogando aí, mesmo sem destaque, você consegue atuar em nível de seleção?

Jucilei - Mas por que não? Aí eu pergunto a vocês. Tem que ter a oportunidade. Por que não? Eu tive a oportunidade de jogar cinco minutos. Nunca tive a oportunidade de jogar 45 minutos e mostrar meu potencial, o que eu posso fazer. O restante teve essa oportunidade e eu não tive. Fui convocado duas vezes e não pude mostrar meu trabalho. Então como é que vou saber 'ah, Jucilei tem nível de seleção'. Eu acredito no meu potencial e acredito que posso jogar na seleção, mas aqui fica difícil eu ser convocado. Se for convocado à seleção, o Dunga vai ser questionado. Eu sei que é difícil, tenho consciência. Mas também não posso abrir mão de um monte de coisa para voltar ao Brasil ou ir à Europa. E meu futuro, como fica? Então tudo é pensado. Não posso fazer coisas agindo com a emoção. Tem que ser com a razão.

ESPN - Alguns jogadores que atuam em centros menores do futebol, como Emirados Árabes, acabam voltando abaixo da média. O Bruno César, por exemplo, voltou abaixo do nível que ele apresentava no Brasil antes de ir.

Jucilei - Fiquei sabendo que o Bruno César voltou pesado, não se cuidou, isso tudo conta. Aí depois o jogador começam a falar que é ruim, que é isso ou aquilo. Não estou falando que é o caso do Bruno César. Estou falando de um modo geral. Que isso é ruim, aquilo é ruim, mas o cara não se dedica. Não rende o que os diretores esperam, o que o presidente espera, não cuida do corpo. Então, aí depois quer meter a boca de que aqui é ruim, só que é o que eu já falei. Aqui o nível do futebol não é igual Brasil e Europa, mas os caras não são cegos. Sabem jogar, entendeu? Você viu a Argélia, foi até as oitavas na Copa do Mundo. Hoje em dia não tem mais ninguém bobo no futebol, essa é a realidade. Passou essa época. Agora não tem, se igualou muito.


Quando deixou Corinthians, Jucilei jogou no Anzhi

ESPN - Vamos falar um pouco do Anzhi. Você pegou a época boa e a ruim do clube. Você foi capitão, os investimentos pararam, o time caiu de produção, também tinham os conflitos. Pode falar um pouco disso?

Jucilei - Fiquei cinco meses como capitão, depois da saída dos medalhões, e aí fui capitão. Depois que saíram os medalhões mudou tudo. Uma coisa era com eles, depois foi outra coisa. Todo mundo que era estrangeiro queria sair depois disso, teve corte de gastos, diminuiu os custos e aí todo mundo optou por sair. Falaram que iam mudar de lá, a gente morava em Moscou, e queriam mudar a gente para o Daguestão, mas lá não tem condição de morar, era muito perigoso.

ESPN - Passou por alguma situação perigosa?

Jucilei - No Daguestão era perigoso. Em Moscou era tranquilo, mas no Daguestão estava com o conflito entre polícia, ficava sempre atento, polícia contra bandido na guerra deles lá. Eu viajava para jogar no sábado, aí jogava domingo, pegava o voo e ia para Moscou. Voltava sempre no dia seguinte.

ESPN - A Rússia também é conhecida por alguns casos de xenofobia, racismo. O Roberto Carlos, inclusive, passou por isso. Você já viveu algo assim?

Jucilei - Graças a Deus nunca passei por isso. Lá acontece muito isso, mas comigo não aconteceu não. Nesse dia do Roberto Carlos eu estava machucado, mas jogaram a banana lá para ele. Eu só vi no vídeo, não vi do estádio, vi do vídeo.

ESPN - No Brasil, essa semana, o goleiro Aranha foi alvo de racismo por parte da torcida do Grêmio. Você viu? Como um jogador negro que atuou no Brasil, na Rússia e nos Emirados, como acha que isso pode chegar ao fim?

Jucilei - Vi mais ou menos, teve uns gritos da arquibancada eu acho. Para mudar isso tem que haver punição, uma punição rígida. Estamos em 2014 já, não temos necessidade de passar por isso. Somos todos iguais. Não é ofender o outro, somos todos seres humanos. Tem que haver punição, senão isso não vai acabar nunca, tem que ter punição. Sempre vai chamar o outro de macaco e a lei não vai agir como tem que ser. Punindo essa pessoa. Então se não tiver uma lei rígida para isso, nunca vai acabar, sem punição a pessoa vai lá e fazer de novo, em outro jogo acontece mais uma vez. Acho então que esse tipo de pessoa, que comete esse erro grave, tem que ter alguma punição.

ESPN - O clube tem que ser punido ou só as pessoas?

Jucilei - Acho que tem que ter uma lei, criar uma lei para isso. Pagar multa. Se não pagar multa, tem que ser preso. Senão isso não acaba nunca. Vai no estádio, chama de macaco e fica por isso mesmo. Vai lá depor, e aí acabou. Então não adianta de nada. E a pessoa sente muito. Posso até imaginar o que o Aranha sentiu. É chato isso. Então é muito complicado.

ESPN - Para fechar, então, você tem acompanhado o futebol brasileiro?

Jucilei - Quando dá eu acompanho. O jogo de domingo, que é 16h aí, aqui é 23h, aí consigo ver. O de quarta não dá, pois é 5h da manhã aqui, aí estou dormindo. Mas sempre vejo notícias.

ESPN - Tem algum clube que você acompanha mais?

Jucilei - Gosto do Corinthians, então acompanho o Corinthians. O Cruzeiro está bem e manteve a base, é um time muito entrosado.

ESPN - O Corinthians joga pela Copa do Brasil amanhã. Dá para reverter?

Jucilei - Dá para o Corinthians fazer os dois gols. Na minha opinião vai passar pelo Bragantino. A torcida vai incentivar, vai empurrar o time, então acho que vai passar.


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