Dois garotos de origem humilde, da periferia de Assunção, nascidos no mesmo 4 de julho que o Corinthians venceu a Copa Libertadores da América pela primeira vez, mas 20 anos antes. É de 1992 que data a certidão dos irmãos Romero, inseparáveis desde que saíram do útero da dona María Lucia. Grudados por toda a infância na casa da avó Dora Pacuá.

Até em Buenos Aires, quando passaram pela base do Boca Juniors antes de seguirem ao Cerro Porteño. E quase em Madri, não fossem os e-mails trocados com o Real não terem vingado. Uma família unida, que superou o abandono do pai. Mas que, a partir dessa semana, deve ganhar uma baixa: Ángel. El Melli ("O Gêmeo", em espanhol) aceitou a oferta salarial e está a um passo de ser oficializado como novo reforço no Parque São Jorge - falta só o "sim" paraguaio.

Romero aceita proposta, e Corinthians espera apenas "sim" do Cerro para fechar

Ángel Rodrigo Romero Villamayor, 21 anos, começou a disputar competições de futebol ainda aos sete anos de idade, na escolinha do Sport Primavera. Atacante, desde pequeno mostrava facilidade para fazer gols. Sempre ao lado do irmão gêmeo, Óscar, que atua no meio de campo. Foram duas temporadas que os deixaram como destaques da Liga Luquenha juvenil. Logo, chegaram a um time maior, o Sport Colombia, que disputa atualmente a segunda divisão paraguaia. Ali, Adolfino Cañete -ex-jogador da seleção local que disputou a Copa do Mundo de 1986 - viu a dupla em ação e prometeu levá-los ao exterior.

Passagem pelo Boca Juniors, time do avô e tio "vira-casaca"


Ángel e Óscar Romero: inseparáveis no Cerro Porteño


Um ano e meio morando em Buenos Aires jogando nada menos que no Boca Juniors. Não assinaram contrato e disputavam a Liga Argentina pela segunda vez quando quiseram voltar a Assunção para ficar com a família - a saudade da terra natal pesou. Eram três propostas, de Cerro Porteño, Olímpia e Libertad. Não pensaram duas vezes: o "Ciclón" era o time do avô Silvestre, falecido anos antes. E substituto da presença do pai, que abandonou os meninos ainda bebês. "Os Gêmeos" não gostam de tocar no assunto. Costumam dizer até que dona Maria Lucia "fez o papel de mãe e pai". Eles ainda têm outro irmão, Fernando, que também é jogador.

Falando em família e infância dos Romero Villamayor, não tem como não citar a presença da avó Dora, dona da casa onde foram criados. "Eram muito travessos, destruíam todas as plantas do meu jardim com a bola quando eram mais novos. Quando viajavam eu chorava bastante e não sei o que vai acontecer quando forem embora", contou, em entrevista ao jornal paraguaio Última Hora em 2013. Foi graças à união da família Romero que os irmãos conseguiram se manter centrados e superar a ausência paterna. O tio Luís, por exemplo, até deixou de torcer para o Olímpia quando "Os Gêmeos" acertaram com o Cerro.

Apoio de irmãos Salcedo e dois pênaltis perdidos contra o Corinthians



Um jogo pela seleção: vitória contra Bolívia (4 a 0, 2013)


Chegaram ao Ciclón em 2008. Foram destaque da base por anos até a estreia entre os profissionais, três anos depois. A partir daí, o apoio dos irmãos Santiago e José Domingo Salcedo, então experientes jogadores do Cerro Porteño, foi crucial. Os Salcedos assumiram diversos papéis. Conselheiros, padrinhos e até motoristas. É porque era no carro deles que os meninos iam e voltavam diariamente dos treinos para a casa da avó Dora durante todo o início da vida profissional. Ángel estreou em 22 de maio de 2011, contra o Sol de América, e já balançou as redes pela primeira vez.

No ano seguinte, uma curiosidade é que "O Gêmeo" enfrentou o Corinthians pelas quartas de final da Copa Libertadores da América. O empate por 0 a 0 no tempo normal levou a decisão para os pênaltis. Ángel bateu o terceiro do Cerro e desperdiçou. O árbitro mandou voltar a cobrança, mas o goleiro Matheus defendeu novamente e foi o herói da classificação alvinegra. Retornou aos profissionais com a chegada do técnico Jorge Fossati, mas foi com Francisco Arce - ex-lateral ídolo do Palmeiras - que passou a ser mais utilizado. Tanto que, em 2013, foi considerado pelo jornal ABC Color o melhor jogador do ano no Paraguai.

E-mails com o Real Madrid e à espera do "sim" do Cerro Porteño

O sucesso foi tanto que o título nacional invicto chamou a atenção do Real Madrid. Uma série de e-mails foram trocados entre as partes por quase todo o mês de dezembro do ano passado até que o gigante espanhol enviou representantes a Assunção para contratar os Romeros por 7 milhões de dólares - o irmão Óscar também era interesse. A negociação, entretanto, não vingou, e o Cerro Porteño contou com os dois por mais um semestre. Com eles, o time paraguaio foi bem na Libertadores 2014, mas deu azar e caiu nas oitavas contra o Cruzeiro.

O Cerro Porteño vai dar a resposta definitiva da negociação de Ángel na manhã desta terça-feira. E o diretor Dani Prieto adiantou ao ESPN.com.br nesta segunda que está tudo bem encaminhado para o "sim" dos paraguaios. Entre jogador e clube brasileiro, tudo certo, conforme confirmado pelo próprio atleta à reportagem. O Corinthians espera só a confirmação para agilizar a papelada necessária e poder oficializar a contratação, que vai custar 3 milhões de dólares (R$ 6,7 milhões), pagos por meio de investidores. Caso o clube de Assunção aceite a oferta, "O Gêmeo" vem já nesta quarta ao Brasil. Para iniciar uma nova trajetória dos Romero no futebol.