A delegação do Irã chega ao Brasil para a disputa da Copa do Mundo nesta terça-feira. Estabelecido no CT do Corinthians, o time comandado pelo português Carlos Queiroz vem recebendo ajuda do clube do Parque São Jorge em sua preparação há aproximadamente sete meses. O fisioterapeuta Bruno Mazziotti, por exemplo, conversa diariamente com o técnico da seleção asiática, e chegou a viajar à África do Sul neste ano para conhecer o elenco e dar início a um trabalho específico para o Mundial. O objetivo? Surpreender todos que tratam a equipe como "carta fora do baralho".

Em parceria com o analista biomecânico Luciano Moreira Rosa, Mazziotti viajará a Curitiba, Belo Horizonte e Salvador junto do elenco iraniano, para as partidas contra Nigéria, Argentina e Bósnia, respectivamente, pela primeira fase da Copa. Participará diretamente do dia a dia dos jogadores. Ao contrário do trabalho desenvolvido no Corinthians, focado na recuperação dos atletas, o fisioterapeuta será responsável por aumentar a competitividade do Irã.

É um trabalho mais amplo, porque terei controle maior de outras áreas. Como é um pedido específico do treinador, vou recuperar a parte de performance. Assim, tenho de estar atento a uma demanda que envolve treinamentos, recuperações, auxílio na suplementação... A equipe conta com americanos, um armênio, um finlandês, portugueses, iranianos e um argentino. A linguagem precisa ser clara e fechada, para que não saia da rota que estamos traçando. A Copa é um tiro curto, e qualquer erro pode tirar as chances de classificação - explicou o profissional.

Mesmo antes da chegada dos atletas e da comissão técnica, representantes da delegação já circulam no CT Joaquim Grava. Mazziotti oscila entre três idiomas diferentes: além do português, utiliza o espanhol para se comunicar com o argentino Diego Giacchino e o inglês para falar com Mikko Kujala, natural da Finlândia. Assim como o fisioterapeuta corintiano, ambos serão responsáveis por dar as condições fisiológicas adequadas ao elenco antes da Copa do Mundo e durante a competição.

A estrutura do Timão foi oficializada como sede do Irã no fim do ano passado, mas a convivência entre o técnico Carlos Queiroz e o gerente de futebol do clube, Edu Gaspar, é antiga. Ambos se conhecem desde a época em que o treinador trabalhava no Real Madrid (entre 2003 e 2004) e o então jogador atuava pelo Arsenal. Mazziotti também conhece o português da época na Espanha. Após as visitas de diversos representantes das seleções que disputarão a Copa ao CT, o acordo com o Irã e a sequência do trabalho aconteceram naturalmente.

A preparação até a estreia contra a Nigéria, dia 16 de junho, na Arena da Baixada, em Curitiba, dividirá o grupo em duas frentes: os que atuam no futebol europeu e os que jogam no Irã ou países próximos. As preocupações comuns, como clima, nutrição e desgaste de viagens, também foram pensadas previamente, a fim de evitar quaisquer efeitos inesperados.

CT Corinthians Irã (Foto: Divulgação / Corinthians)
CT do Corinthians receberá a delegação do
Irã (Foto: Divulgação / Corinthians)
- São demandas físicas diferentes dentro do grupo. Todo esse processo começou quando eu enviei ao Queiroz uma elaboração inicial. Ele gostou e me pediu para ajudar nos campings que aconteceriam na sequência. Enviei um fisiologista a Teerã (capital do Irã), viajei à África do Sul para a segunda parte e designei outro representante para o último período, na Áustria - afirmou Mazziotti.

Tudo foi levado em consideração pelos profissionais brasileiros. De hábitos alimentares - que incluem maiores quantidades de frutas ressecadas e iogurte, por exemplo - ao fator religioso. De acordo com o fisioterapeuta, a influência cultural em nada atrapalhou o trabalho. Com dois tradutores à disposição, já que parte do elenco não fala inglês, somente persa, os representantes brasileiros estão prontos para as demandas da Copa do Mundo.

- O grande desafio é ver como sistemas de trabalho são diferentes em cada parte do mundo. Esses jogadores não estão acostumados à nossa maneira de trabalhar no Brasil. Quando eles tinham dores nas pernas, por exemplo, diziam que eram "dores do Bruno", por causa do meu nome. Eu costumo brincar com o Carlos (Queiroz) e com os jogadores que não aceito nada abaixo de semifinal - brincou, entre risos.

Em três participações na Copa do Mundo, o Irã nunca passou da primeira fase. Na estreia, em 1978, caiu após derrotas para Holanda e Peru, além de um empate com a Escócia. 20 anos depois, fez história ao vencer os Estados Unidos por 2 a 1, mas não foi adiante por conta das derrotas para Iugoslávia e Alemanha. Em 2006, nada de vitória: o time asiático perdeu para México e Portugal, e se despediu empatando com Angola.