17/5/2014 12:43
Filhos de Itaquera lembram da rotina no CT que deu lugar à Arena do Timão
Fagner, Betão, Julio Cesar, Dentinho, Marquinhos e Willian relembram do local onde foram formados e que se transformou no grande sonho dos corintianos
Fagner treinou em Itaquera dos 14 aos 17 anos
(Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Único jogador formado na base a ser titular na estreia do clube na Arena Corinthians, o lateral-direito Fagner fará uma viagem no tempo em sua memória assim que o ônibus com a delegação alvinegra estacionar na garagem do estádio, na tarde deste domingo, horas antes da partida contra o Figueirense, pelo Campeonato Brasileiro.
No terreno onde foi erguido o tão aguardado estádio corintiano, funcionou o centro de treinamentos das categorias de base do Timão.
- Dos meus 14 aos 17, treinei praticamente só em Itaquera. Minha lembrança maior é a de pegar metrô para ir treinar. E de subir aquela rampa para chegar ao CT com o pessoal que jogava comigo. É bonito ver um clube tão grande como o Corinthians conseguir fazer algo tão bacana. Espero que lá consigamos muitas vitórias e conquistas - disse o jogador.
Cedido pela Prefeitura de São Paulo em 1978 para abrigar o tão sonhado estádio corintiano ainda na administração de Vicente Matheus, o terreno de Itaquera passou a abrigar as categorias de base do clube após várias tentativas frustradas de construção de uma Arena, ganhando um investimento maior no início dos anos 2000, quando a parceria com o grupo norte-americano HMTF (Hicks, Muse, Tate & Furst) injetou cerca de R$ 2 milhões no projeto de modernização.
- O terreno era ruim, um buraco. Foi preciso fazer uma grande obra de nivelamento com caminhões de pedra. Passamos a ter alojamento, piscina, departamento de fisioterapia. O profissional chegou a usar algumas vezes, mas era muito longe. Todos preferiam treinar no Parque São Jorge - lembra Antônio Roque Citadini, membro da diretoria na época.
Desde que o terreno foi desocupado para a construção da Arena, as categorias de base do Timão têm utilizado o Parque São Jorge e o campo do Flamengo de Guarulhos.
DE ITAQUERA PARA... ITAQUERA
Dois jogadores da Seleção, que estarão no estádio no dia 12 de junho para o jogo contra a Croácia, na abertura da Copa do Mundo, cresceram exatamente nos campos de Itaquera: o atacante Jô, hoje no Atlético-MG, e o meia Willian, do Chelsea, da Inglaterra. A volta para casa, portanto, será mais do que especial:
- Fui criado no Corinthians e cresci dentro do clube. Na base, treinei naquele mesmo espaço onde hoje é o estádio. Vai ser uma sensação diferente e muito especial fazer o caminho até lá em uma abertura de Copa do Mundo vestindo a camisa da Seleção - afirma o jogador.
SUSTOS NA VIZINHANÇA
Nenhum dos jogadores revelados na base do Corinthians e que foram ouvidos pela reportagem relatam experiências negativas treinando no local, mas todos admitiram que sentiam um pouco de medo de serem vítimas da violência no bairro localizado na Zona Leste de São Paulo. Na época, a fama do local não era boa.
- Vivi bons momentos naquele CT, mas às vezes achava um pouco perigoso subir aquele morro sozinho. Por isso, a gente sempre se juntava em uns dez meninos para chegar até a estação do Metrô (Corinthians-Itaquera). Íamos eu, Fininho, Edson, Bobô, Jô, Rosinei...Enfim, uma galera boa - se recorda Julio Cesar, que pode ser opção no banco de reservas neste domingo.
Betão, da mesma geração do goleiro, lembra de situações inusitadas que aconteciam durante os treinos das categorias de base. Após treinar no terrão (no Parque São Jorge, onde ficava a base antes do CT de Itaquera) entre os 10 e os 14 anos, o defensor passou o que considera dois bons anos em Itaquera, até os 16.
- Tinha só um alambrado em volta dos campos. Então, às vezes, a bola passava e sumia, porque já tinha uns moleques esperando lá do outro lado. Teve caso de jogador que pulou lá e foi ameaçado com faca também, mas nada além - relata o zagueiro, hoje sem clube.
- Mais tarde, cheguei a ir como profissional treinar em Itaquera, com o Vanderlei Luxemburgo. Lembro que a gente brincava que o treino tinha que acabar cedo para não ter de "pagar pedágio" no farol - completa.
Dentinho, de 25 anos, hoje no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, também lembra que tomava cuidados especiais com a sua segurança. No Timão desde os 16, o atacante passou cerca de dois anos realizando trabalhos com o técnico Zé augusto no CT de Itaquera antes de virar profissional.
- As pessoas comentavam na época que tinha gente que ficava roubando na região, principalmente tênis dos meninos da base. Tínhamos um pouco de medo. Então, ficávamos ligados. Qualquer coisa corria, metia o pé. Não dava para ficar vacilando, né? - diz o jogador.
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
Apesar dos riscos corridos, a maioria das lembranças de quem foi revelado em Itaquera é de momentos de descontração e alegria. Zagueiro do Paris Saint-Germain, da França, Marquinhos dava trabalho aos treinadores e, principalmente, à nutricionista do clube.
- Ele ficou alojado lá dos 12 aos 16 anos. A principal diversão deles, além das brincadeiras de esconde-esconde à noite, era comprar doces de um tiozinho que vendia as guloseimas na porta do CT. Tudo o que não era permitido pela nutricionista - acusa a mãe do jogador de 20 anos, Alina Aoás.
Dentinho, sempre provocador, também se recorda de boas risadas proporcionadas por piadas com os companheiros. Lulinha, que chegou junto com ele ao profissional em 2007, era uma das principais vítimas.
- Eu brincava muito com todo mundo. E lembro que, às vezes, os meninos se enfezavam comigo e gritavam: "Pega o Dentinho". Aí eu saía correndo, me trancava no banheiro para não apanhar deles (risos). Tinha dia que nem aparecia no refeitório para o lanche para não apanhar (risos). As histórias de lá são boas. Não peguei o terrão, mas peguei Itaquera, onde hoje tem o estádio do Coringão - comenta.
SONHO (QUASE) IMPOSSÍVEL
Que o Corinthians sonhava construir um estádio no lugar daquele CT de três campos todo mundo sabia. Mas nenhum dos meninos, é bem verdade, colocava a menor fé nas conversas ambiciosas.
- Assim, dava para imaginar porque o buraco do estádio já tinha há anos. Entre o CT e a Cohab (conjunto habitacional vizinho) tinha uma escavação e diziam que ali seria o estádio. Só que ninguém nunca acreditou. O vale sempre esteve ali. Mas era só um vale - lembra Betão.
- Para a falar a verdade, nunca imaginei que pudesse acontecer da maneira que aconteceu - afirma Fagner.
- Diziam que seria ali, mas eu não conseguia enxergar essa chance. Para mim, ia ser sempre um CT. Fico feliz que estava errado. O Corinthians merecia ter a sua própria casa - sustenta Julio Cesar.
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