14/5/2014 17:56

Opinião: Brasil e Fifa caminham para realizar a Copa da Verdade

País e entidade estão se vendo no espelho neste momento crucial

Opinião: Brasil e Fifa caminham para realizar a Copa da Verdade
Brasil está se mostrando desnudado para o mundo e pode ensinar algo para a Fifa
Reprodução

O Brasil vive um momento ímpar de irritação. Irritação pelo custo de vida, irritação pela corrupção e pela falta de boas condições de Saúde, Educação, Segurança e Transportes. Dá até para imaginar que a irritação é geral quando o tema é Copa do Mundo. Até a Fifa se irritou com a irritação brasileira.

Nunca antes na história deste país, o povo esteve tão irritado. E, na história Fifa, organização tradicional e inatingível, nunca antes a entidade realizou uma competição de uma maneira tão alvoroçada, surpreendendo-se tanto a cada dia.

O que, no entanto, parece ser um conflito de interesses, nesta união que muitos chamam de engodo, nada mais é do que a oportunidade que ambos, país e instituição, estão tendo de realizar, não a mais organizada, nem a mais cibernética, mas a melhor Copa de todos os tempos. Justamente por ser a mais problemática.

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil está se mostrando a Copa da Verdade. A verdade do superfaturamento, da corrupção, do atraso, mas também da indignação, do desejo de mudança. Uma verdade estampada no rosto sem maquiagem que o Brasil está mostrando, para si e para os outros.

O Brasil expõe ao mundo, neste momento, sua face abatida, ensanguentada, marcada. Alquebrada pelo peso de seu sofrimento. Mas determinada. Exatamente no estágio em que ela está. Toda a crise tem algo de saudável, mesmo que ela assuste, em meio a uma ebulição social, recheada com violência, contratempos, conflitos entre diferentes esferas de poder, miseráveis pedindo esmolas em cada canto de nossas cidades, consequência de uma linha de produção de pobreza que urge ser transformada.

Acontece que todo esse cenário, aparentemente caótico, pode ganhar contornos assim que começar a se perceber que ele aponta para um caminho de evolução. Pela primeira vez o gigante adormecido parece estar acordando, não apenas pelo ribombar dos sinos da economia, mas pela movimentação gradativa de sua gente, que, depois de um tempo paralisada, começa, em sua maioria, a usar os instrumentos da democracia.

Problemas à tona

Seria irreal exigir do país o cumprimento irrestrito dos prazos, uma pontualidade britânica, uma frieza alemã, um organograma americano. O Brasil não seria o Brasil se entregasse as obras no prazo, apenas para inglês ver, mas falsificando e ocultando muitas das próprias mazelas. Seria o Brazil. A conta, bem mais alta do que a da Copa, viria mais à frente.

Por outro lado, não seria corajoso desistir de realizar o evento, que não necessariamente desvia gastos da Saúde, Educação e de outras áreas prioritárias, já que as verbas estão destinadas previamente pelo orçamento. Os gastos, sem a Copa, em uma engrenagem viciada em corrupção, iriam para outras iniciativas e com muito menos visibilidade, o que aumentaria ainda mais a possibilidade de desvios. O país perderia a chance de se ver no espelho.

A vinda dos problemas à tona é a melhor maneira para que eles sejam solucionados. À moda do Brasil, é claro. Depois de sete anos em marcha lenta, é claro. Se a população está se revoltando agora, é porque agora vislumbra com ansiedade algo positivo à frente, é porque está despertando de uma letargia de anos, neste momento em que nossa democracia apenas começa a deixar de engatinhar. Esta Copa, bendita Copa, foi a maneira de o país revelar-se desnudado no palco da história contemporânea. Que milagres não faz o futebol...

Enquanto isso alguns brasileiros preveem o apocalipse. Estupefatos, muitos dirigentes europeus, com presunção, torcem o nariz para a nossa realidade e não percebem que esta incandescência pode ser uma importante oportunidade para a Fifa também.

Para o Brasil esta é a chance de aprender algo sobre a organização da entidade que rege o futebol mundial. Conhecer a importância de um bom modelo de gestão, de um planejamento eficiente, de serviços de qualidade (como na entrega precisa dos ingressos) e prazos respeitados. Geralmente, estes aprendizados ficam incubados nos organismos do país e demoram alguns anos para maturar. Mas de nenhuma maneira serão perdidos.

A Fifa, por sua vez, está tendo a possibilidade única de conhecer uma realidade diferente, carnavalesca até, feita de filas e de "sim que nem sempre significa sim". Mas também acompanhada de criatividade, de interação com a natureza, de contato físico e também...de churrascarias.

Por estes pontos, citados na cartilha da entidade sobre o Brasil, a Fifa se depara com um mundo novo e dinâmico. Está perdendo algumas amarras para, em vez de dialogar com com um interlocutor estagnado e robotizado, conforme sua preferência, conversar com um país borbulhante e que faz questão de abrir suas feridas diante de sua cúpula estarrecida. A entidade já passou por fortes emoções na preparação para a Copa da África do Sul, mas agora o momento de apreensão é mais intenso.

A Fifa está conhecendo um lado diferente. Ótimo para ela, porque lhe traz mais versatilidade, ajuda a ampliar técnicas administrativas, fortalece a noção de recursos humanos e aumenta a visão global. A entidade precisou perder a pompa, lidando com problemas reais, ganhando mais malícia, intuição e improviso, necessários para dar mais flexibilidade e ampliar os recursos operacionais da instituição. Até a "chute no traseiro" ela chegou a se referir...

Algo em comum

A nação vive uma fase semelhante aos anos 50, quando verdadeiramente entrou para o século XX, com o povo indo para a rua após o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Naquele ano de 1954, a Fifa estava organizando o Mundial em sua sede, a Suíça, justamente porque o país não foi prejudicado na Segunda Guerra, devido a uma dita neutralidade.

O Brasil de agora se bate justamente por causa deste tipo de neutralidade. Que neutralidade é essa que, apesar de ter o privilégio de não se envolver em guerras, permite a abertura de contas de dinheiro sujo do mundo inteiro, inclusive dos corruptos brasileiros? Ou que ainda mantém bens de vítimas roubadas pelos nazistas? Ou, no nosso exemplo, que não vê a miséria e não coloca os corruptos na cadeia?

Ultimamente, o Brasil também se tornou um país pacífico, distante de guerras. Neste jogo de espelhos, propiciados pela Copa, pode-se dizer que o Brasil é uma Suíça que deu certo, pelo calor de seu povo. Ou o contrário. A Suíça, e por conseguinte a Fifa, é um Brasil que deu certo, por suas insituições que funcionam como um relógio. Ouso dizer até que esta Copa está também servindo como um espelho para toda a geopolítica mundial.

Como nos anos 50, a sociedade brasileira parece estar passando por um momento de evolução. É inegável que a Copa do Mundo aqui começará com aeroportos e estádios inacabados, assim como o Maracanã sediou a Copa de 50 ainda sem estar pronto, e outras coisas mais importantes ficaram marcadas. Por outro lado, a Copa brasileira não oferece riscos como o do Setembro Negro ou da crise na Crimeia, que ameaça a Rússia de receber o próximo Mundial em estado de guerra.

Um black bloc suíço dos anos 50 poderia apedrejar a sede da entidade em Zurique, revoltado com a cínica neutralidade de algumas instituições. O que prevaleceu, porém, foi uma linda festa, para brindar a reconstrução da Europa, que ajudou a reintegrar a Alemanha Ocidental na comunidade mundial. Apesar da tal neutralidade. O mesmo poderá acontecer por aqui, mesmo que o resultado demore alguns anos para aparecer.

O certo é que cada local tem seus defeitos e qualidades. E o Brasil tem mais qualidades. Terá uma Copa com opinião, com resmungo, mas democrática. Sem deixar de lado a velha ginga. O povo brasileiro, afinal, não perdeu seu amor pela seleção. Ela também ajuda a mostrar sua face, de uma maneira mais bonita. Sem dizer amém para tudo, a não ser que seja gol do Neymar.


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