Inaugurado o estádio do Corinthians, vem a pergunta: como pagar por ele? É o tema de matéria da
Folha de S. Paulo. O jornal mostra que a construção alcançou a fantástica cifra de R$ 1,17 bilhão. E que o clube espera pagar R$ 50 milhões a cada 12 meses para quitar a dívida em 15 anos. Mas até aqui sem vender camarotes, lojas, lanchonetes, restaurantes e principalmente "naming rights", alcançar tal quantia regularmente fica bem mais difícil. O ex-presidente Andres Sanchez, que está à frente da "arena", prometeu em fevereiro de 2012 que em 30 a 40 dias teria definido o nome da empresa que pagaria para colocar seu nome no estádio. Mas até hoje isso não aconteceu — clique
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Ms até que ponto é viável arrecadar toda essa grana apenas com a força das bilheterias? Em 2013 o Corinthians fez 32 jogos no Pacaembu. Já em 2014, na despedida do estádio, nos 2 a 0 sobre o Flamengo, os 36.402 pagantes adquiriram mais de 99,5% dos bilhetes colocados à venda. Eles proporcionatam uma renda líquida de R$ 1.060.577,44. Para arrecadar os 50 milhões no mesmo número de pelejas em casa, cada uma precisa gerar, em média, renda líquida de R$ 1.562.500. Com o mesmo preço médio do ingresso, R$ 29, seria preciso o time corintiano jogar as mesmas 32 vezes numa temporada em Itaquera para 53.879 pagantes. Média européia! Que é superior à capacidade do estádio sem as estruturas provisórias.
Lucas Borges/ESPN.com.br
Torcedores fazem festa na inauguração do estádio do Corinthians: conta bem superior a R$ 1 bilhão
Em 2011, quando foi campeão brasileiro, o Corinthians teve média de 26.715 pagantes por jogo em casa na Série A. Em 2012, ano dos títulos da Libertadores e do torneio Mundial da Fifa, 25.212. No ano passado, 24.441 com o time em décimo lugar. Nos três últimos campeonatos nacionais a média corintiana foi de 25.456. Para chegar aos quase 54 mil por cotejo o crescimento deverá beirar os 48%. Outra opção, sem contar com as arquibancadas instaladas especificamente para a Copa do Mundo, seria vender 45 mil tíquetes por jogo ao preço médio de quase R$ 35, ou seja, reajuste acima de 20%.
Números factíveis, em tese, pelo gigantismo da torcida corintiana. Mas difíceis de serem alcançados, se considerarmos, por exemplo, que as zonas leste e oeste estão geografica e economicamente em lados opostos na maior cidade do Brasil. Em 2012 a Folha de S. Paulo publicou pesquisa do Instituto Datafolha esmiuçando a capital paulista. Ela ajuda a entender a diferença entre teoria e prática, sonho e realidade, e os obstáculos existentes. Na série, denominada "DNA Paulistano", a renda familiar de 29% dos habitantes da Zona Leste, onde fica o novo estádio corintiano, era de até R$ 1.244 naquela época. E 23% ganhavam de R$ 1.245,00 até R$ 1.866,00.
Ou seja, 52% das famílias e Itaquera e adjacências não ganhavam, há dois anos, sequer R$ 1.900 mensais. Já na Zona Oeste, onde fica o Pacaembu, palco dos jogos da equipe alvinegra até então, apenas 23% das famílias registravam ganhos até tal patamar. Os outros 77% faturam mais, ou bem mais. A diferença de poder aquisitivo entre as duas regiões de São Paulo é visível e induscutível. Como elevar ainda mais os preços dos ingressos em tal cenário?
Claro que jogando em casa o Corinthians irá se livrar de despesas como o aluguel do Pacaembu, pode vender os espaços ainda livres e até o "naming rights". Mas além de pagar a dívida, o clube tem que fazer a manutenção do estádio. A propria matéria da Folha cita como exemplo outra "arena" de Copa, o Maracanã, que em 2013 teve custo mensal de manutenção superior a R$ 700 mil. Estádio "padrão Fifa" é bem mais caro, para erguer e manter. Com uma estutura mais sofisticada do que a apresentada no projeto original, conseqüentemente essa despesa não será das menores. E isso entra na conta.
Se você é corintiano e quer ajudar seu clube, aprenda o caminho até Itaquera. E freqüente o estádio.
Reportagem da Folha de S. Paulo do sábado, 10 de maio de 2014: contas elevadas para pagar o estádio