A seleção brasileira vive um dia importante nesta quarta-feira rumo à Copa do Mundo, com o anúncio dos 23 jogadores que vão representar o país no Mundial. Restam pouco vagas em aberto (o terceiro goleiro, um zagueiro, um lateral, um nome para o meio-campo, um atacante). Mas o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira admitiu a possibilidade de surpresas na lista. Surpresas que ocorreram em várias listas finais para outros Mundiais.
Em 50, na Copa anterior dipustada no país, Flávio Costa desagradou aos torcedores do Corinthians ao deixar fora da relação o ponta-direita Cláudio Pinho, ídolo corintiano. E o treinador surpreendeu ao convocar para a posição Alfredo II, que, polivalente, costumava atuar como lateral no Vasco, clube comandado por Costa. E que estava fora da Seleção desde 1945. E que no ano da Copa 50 disputou só dois jogos não oficiais, contra a Seleção do Rio Grande do Sul e a de Novos de São Paulo.
Alfredo foi titular em apenas em um jogo na Copa de 50: exatamente no único disputado em São Paulo, no empate em 2 a 2 com a Suíça. E foi um dos alvos da insatisfação de muitos torcedores paulistas, que já insatisfeitos com a ausência de Cláudio, não perdoaram a má atuação da Seleção, vaiando o time ao final do jogo. Mas Alfredo mostrou sua capacidade, abrindo o marcador aos três minutos de jogo.
Em 58, a lista de Vicente Feola também teve um nome que chegou a ser considerado uma carta fora do baralho por boa parte da imprensa. Jogador do Flamengo, Zagallo somente vestiu pela primeira vez a "amarelinha" pouco mais de um mês antes da estreia do Brasil na Copa disputada na Suécia. O ponta-esquerda do Flamengo agradou no amistoso contra o Paraguai, em 4 de maio, marcando um dos gols da vitória por 5 a 1. Atuou novamnete contra o Paraguai três dias depois e contra a Bulgária, garantindo o seu nome na lista. Superando Canhoteiro, destaque do São Paulo, que também entrou em campo contra o Paraguai e Bulgária, mas perdeu a concorrência para Zagallo. Que não só foi à Suécia, como foi titular em todos os jogos da Copa após Pepe se machucar no amistoso contra a Internazionale, uma semana antes da estreia na Copa.
Quatro anos depois, a surpresa na lista final foi o nome do ponta Jair da Costa. O jogador da Portuguesa foi chamado para a relação de 41 atletas que realizaram um período de treinamento em Campo de Jordão. E ficou na lista final, com apenas um jogo pela Seleção em seu currículo: a vitória por 3 a 1 sobre País de Gales, em 16 de maio de 62, no último amistoso antes do Mundial. Ou melhor: um tempo. Porque foi deu lugar a Garrincha no segundo tempo da partida. Apesar da pequena experiência, foi ao Chile e, mesmo sem entrar em campo, tem no currículo o título de campeão mundial. Após o Mundial, foi negociado com a Inter de Milão, o que o afastou da Seleção.
Em 70, uma das novidades de Zagallo após substituir João Saldanha três meses antes da Copa foi chamar o atacante Dario. O camisa 9 do Atlético-MG foi alvo de polêmica na gestão de Saldanha, após o presidente Emílio Médici elogiar o centroavante e defender a sua presença na Seleção. O treinador teria dado a famosa resposta que ele não escalava ministros e que o presidente não deveria escalar o time.
Dadá Maravilha foi titular no amistoso contra o Paraguai (0 a 0), em 12 de abril, e entrou durante a partida contra a Áustria (1 a 0), no dia 29. Não balançou a rede, mas garantiu a viagem para o México. Onde não atuou nem um minuto sequer na campanha do tri.
Para a Copa de 78, a grande ausência da lista do treinador Cláudio Coutinho foi Falcão, bicampeão brasileiro pelo Inter em 75 e 76. E na relação de convocados para jogar na Argentina, estava o nome de um jogador de estilo oposto ao do refinado jogador do Inter: Chicão (foto), mais conhecido pela marcação e disposição do que pela técnica. E o volante do São Paulo acabou se destacando na "Batalha de Rosário", contra a Argentina.
Telê Santana também apresentou uma surpresa na lista para a Copa de 82. Um dos destaques do Brasil no Mundial de 78, o ponta-esquerda Dirceu ficou ausente da Seleção até um mês e meio antes da abertura do Mundial, quando foi chamado por Telê para os amistosos contra Portugal e Eire. E carimbou uma vaga no grupo. E foi titular na estreia contra a União Soviética. Em mais uma decisão surpreendente, o treinador escalou Dirceu na ponta-direita, fora das características do atacante.
O resultado da experiência não foi boa. o Brasil jogou mal na etapa inicial, foi para o intervalo perdendo por 1 a 0, e Telê decidiu colocar Paulo Isidoro, bem mais acostumado a jogar na posição. Dirceu não atuou mais no Mundial.
Em 86, a surpresa não surgiu na lista, mas no dia do embarque da Seleção para o México. Leandro não se apresentou para a viagem, em solidariedade a Renato Gaúcho, que ficou fora da convocação. E Telê recorreu a Josimar (na foto, à direita), que nunca tinha jogado pela Seleção. E o lateral-direito do Botafogo foi um dos destaques do Brasil, marcando gols nas vitórias sobre a Irlanda do Norte e Polônia.
Caso semelhante ao ocorrido em 98. Durante a fase de treinos, na Granja Comary, Flávio Conceição foi cortado por lesão. O meio-campista era a opção para a reserva de Cafu, titular absoluto da lateral-direito. E Zagallo optou por um especialista na posição como substituto: Zé Carlos. A questão era que o lateral do São Paulo nunca havia disputado um jogo sequer pela Seleção. E teve que entrar em campo em um jogo decisivo: a semifinal contra a Holanda, quando Cafu estava suspenso. Zé Carlos teve atuação apagada, sofrendo com a marcação da ponta holandês Overmars.
Já na França, Zagallo teve que fazer uma nova substituição no grupo. Romário também foi dispensado por lesão. E o treinador preferiu não chamar um novo atacante, como seria o natural. E escolheu o volante Emerson, que herdou a camisa 11 do Baixinho.
Em 2002, Emerson foi novamente personagem. Mas de forma contrária. Na véspera da estreia contra a Turquia, o então capitão da equipe machucou o ombro ao atuar como goleiro em um treino recreativo. E foi cortado. Felipão decidiu chamar Ricardinho, deixando no Brasil meias com maior experiência na Seleção, como Alex, Juninho Pernambucano e Zé Roberto.
Na lista dos 23 convocados, a surpresa de Felipão foi a presença de Vampeta, que só havia sido chamado uma vez nos amistosos antes da Copa e acabou herdando a vaga que seria de Djalminha, afastado pelo treinador pela cabeçada que aplicou no treinador do La Coruña, Javier Irureta, em um treino do time espanhol.
Na última Copa do Mundo, o nome que chamou atenção na lista do treinador Dunga foi Grafite. O atacante foi chamado para o último amistoso antes da convocação final, contra a Irlanda. Atuou por 27 minutos, agradou ao treinador e conquistou de forma surpreendente uma vaga entre os 23 que foram à África do Sul.