2/5/2014 08:40
Dispensado por problema cardíaco, jogador detona o Corinthians
Adílson, hoje no Santa Cruz, também não poupa críticas ao Sindicato dos Atletas
Nos últimos anos, o atacante Adílson, de 27 anos, ex-XV de Piracicaba, Corinthians e atualmente emprestado pelo XV ao Santa Cruz, parou por duas vezes de jogar futebol. Depois de uma curta passagem pelo Corinthians, no início de 2013, ele teve de pegar fila do SUS para ser atendido no HCor, em São Paulo. E reclama do tratamento que recebeu no Parque São Jorge.
Em entrevista exclusiva para o R7, Adilson revelou os momentos de apreensão que enfrentou e detonou a falta de ajuda nos tempos em que passou pelo Timão.
— Me deram apoio por um mês e depois se afastaram. Não consegui falar com mais ninguém no Corinthians. Só me indicaram o HCor e sumiram. O clube poderia ter me apoiado mais. Não me deram nem ajuda de custo. Fiquei abandonado. Nem mesmo assinaram um documento comprovando que eu estava incapacitado para o trabalho, para poder receber do INSS. Resolvi fazer tudo por minha conta própria.
O jogador soube que teria de parar pela segunda vez no início de dezembro de 2012, período próximo ao fim do seu contrato com o clube. Ciente de que não seria aproveitado, inclusive por não ter sido relacionado para o Mundial Interclubes no Japão, ele negociou sua ida para o Ceará. Dias depois, em exame períodico, foi constatado que seu problema cardíaco havia retornado.
— Não entendi a causa da reação do Corinthians. Ouvi comentários de que o Joaquim Grava (consultor médico) me chamou de oportunista. Não foi assim. Me apalavrei com o Ceará sabendo que não iria continuar, mas não assinei nada.
Ele conta que passou por uma situação difícil. Acordava de madrugada para ir de Piracicaba, onde morava com a família, a São Paulo para fazer os exames. Às vezes ia de jejum. Eram exames complexos, segundo conta. E ele esperava várias horas na fila. "Peguei chuva, sol, passei pelo que muitos brasileiros passam para serem atendidos em hospitais", conta.
O Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, segundo ele, não o ajudou.
— Liguei três vezes, eles falaram que iriam analisar meu caso, saber que direitos eu tinha, mas não fizeram nada. Não deram retorno algum, até que desisti. Foi uma atitude bem diferente do que vejo nas palestras, quando eles dizem que fazem de tudo para defender os direitos dos jogadores. Comigo não mostraram o menor interesse.
Jogador do Enfartados
O grande alívio para ele foi jogar, neste período, por um time amador de um clube em Piracicaba, para passar o tempo, coincidentemente chamado de Enfartados. Disputaram uma das mais fortes Ligas Amadoras da América Latina, com 160 equipes.
— Estava angustiado em ficar parado. Não aguentava mais. Estava sem jogar há 3 meses, só vendo partidas pela televisão. Então meus amigos de infância me chamaram. Eu não aguentei e fui. Pensei: se tiver de morrer, vou morrer feliz, fazendo o que gosto que é jogar futebol.
Mas ele confessa que fez um pedido, logo que chegou.
— Não dá para trocar o nome? Vocês querem me matar antes do tempo?
Para ele, foi um período em que pode se aliviar da tensão.
— Foi divertido, fazia exame durante a semana e jogava nos fins de semana. No meu time atuava o volante Amaral, que, aos 42 anos, ainda está na ativa. O pessoal sabia que jogávamos e muita gente ia ver as partidas. Tinha muita reclamação também, falavam que não era justo e que iríamos desequilibrar os jogos por termos atuado entre profissionais.
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A trajetória do jogador, que no início da carreira teve passagens pelo Lausanne (SUI) e Benfica (POR), está muito ligada ao XV de Piracicaba, cidade em que morou desde a infância. Ele é natural de Barra do Rocha (BA). Atuou pelo XV em 2008, 2009, 2011, 2012 e 2013. Neste período foi emprestado duas vezes: para o Noroeste e para o Corinthians. Na passagem pelo Noroeste, teve a primeira má notícia. Um inchaço em seu coração o fez parar por seis meses. Quando teve permissão para retornar, voltou para o XV e permaneceu por duas temporadas, ajudando, com dois gols na final contra o Guarani, o clube a subir para a Divisão A1 do Paulista em 2011.
Gratidão ao Noroeste
A performance no XV despertou o interesse do Corinthians, que o contratou para um período de experiências. Adílson cita o Noroeste, clube paulista para onde foi emprestado em 2010, como um contraponto ao Corinthians.
— No Noroeste também soube que teria de ficar parado. Eles, no entanto, me ajudaram, sou muito grato a este clube.
Segundo Adílson, o Noroeste arcou inicialmente com o salário do jogador, pagando os R$ 7 mil que ele recebia. Depois, assinou o documento que foi entregue ao INSS, quando ele passou a receber R$ 2 mil mensais do governo, enquanto estava parado.
— E o Noroeste, de tão decente que foi, continuou pagando os R$ 5 mil restantes, até que eu estivesse liberado para jogar.
Ele lamenta o fato de o Corinthians não ter feito nada disso.
— Nem o documento eles assinaram. E eu poderia ter recebido R$ 3 mil mensais, que já seria ótimo, pois estava sem dinheiro. Tudo o que havia ganho no Corinthians investi na compra de um imóvel e na troca do carro, sem saber o que me esperaria depois.
O jogador diz que superou o problema e pode continuar jogando.
— Brinco com os meus colegas dizendo que estou melhor que eles, porque fiz todo o tipo de exame e constatei que não tenho mais nada. Ninguém fez tantos exames como eu e pode ter essa convicção.
Para ele, os dramas fazem parte do passado.
— Por tudo o que passei, estou muito satisfeito com o que tenho hoje. Pude voltar a jogar, estou em um clube de repercussão, como o Santa Cruz. As coisas não poderiam estar melhor para mim.
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