Quem vê este professor na sala de aula ou nos corredores da faculdade provavelmente não sabe que no passado ele foi ídolo nos gramados. Trata-se de Hergos Couto, de 41 anos, ex-meio-campo do Corinthians que hoje dá aulas no Instituto de Ciências da Educação (ICED) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém.
Longe do futebol profissional há 14 anos, Hergos não esquece sua trajetória no esporte e a grande oportunidade de ter defendido o Timão ao lado de vários craques na década de 90. Ainda menino, deu seus primeiros passos no futebol amador de Santarém, oeste do Pará, no extinto Americano Futebol Clube, e logo ganhou chance em um dos maiores clubes do Brasil. Em busca do grande sonho de ser jogador profissional, ele foi para São Paulo aos 16 anos e ingressou nos Juniores do Corinthians, em 1989. No ano seguinte, o clube conquistou o primeiro titulo do Campeonato Brasileiro de sua história e Hergos, ainda nas categorias de base, acompanhou de perto a campanha vitoriosa.

- Nelsinho Batista, treinador vencedor com o Corinthians em 90, solicitava que os atletas do time de juniores, do qual eu fazia parte, fossem treinar com o elenco profissional. Por isso, me considero campeão brasileiro com o clube naquele ano. Apesar de não ter jogado, fiz parte daquela atmosfera que resultou no titulo.

O contato com Tupãzinho, Neto, o goleiro Ronaldo e outros ídolos daquela geração que fez história no Parque São Jorge foi fundamental na trajetória do craque. Foi uma questão de tempo para que os ídolos virassem colegas de trabalho e para que Hergos virasse o xodó do time.




Tupãzinho logo que chegou de Sorocaba, morava conosco com alojamento do clube e o contato era diário. Já com o Neto, fizemos tratamento juntos no departamento médico durante algum tempo e eu tive a oportunidade de conhecê-lo. Quando se é da equipe dos juniores, você acaba tratando com um determinado respeito os jogadores do profissional e o Neto fez questão de quebrar esse protocolo e me acolheu de uma forma muito especial. Certa vez, em uma danceteria, ele me avistou e pergunto ‘e ai craque não vai me cumprimentar?’ Eu disse a ele que talvez estivesse se confundindo e ele foi enfático em dizer que se lembrava de mim de que era o garoto de Santarém que ele apostava que seria craque. Eu fiquei surpreso pela lembrança e desde então a gente tem uma amizade.

Em 1993, com a subida definitiva para o time profissional, Hergos obteve bons resultados com o clube que foi vice-campeão do torneio Rio São Paulo e do Campeonato Paulista. Naquele ano, no Campeonato Brasileiro, ele marcou um dos gols mais importantes da carreira. Foi no Maracanã lotado diante do Flamengo de craques como Renato Gaúcho, Marcelinho Carioca e Casagrande. O Rubro-negro vencia por 1 a 0, quando Rivaldo achou Hergos na grande área, no final do primeiro tempo. O meia balançou as redes do adversário e deixou tudo igual no clássico entre os times de maiores torcidas do país.

O atleta ficou no Corinthians até 1997, mas nesse tempo foi emprestado para outras equipes. Hergos passou por clubes do interior paulista- São Bento, Comercial de Ribeirão Preto e o Noroeste – além do Paysandu, do Desportiva Capixaba e do Independiente Petrolero (BOL) - onde ficou marcado por um golaço quase do meio campo contra o Bolivar pelo campeonato nacional - antes de encerrar sua carreira, em 2000. Hergos tinha apenas 27 anos e alega ter parado por desilusões no mercado do futebol profissional.

- Algumas situações que passei em clubes, já desvinculado do Corinthians, foram me desmotivando. Em determinados casos, passava até 90 dias com salário atrasado e isso era normal. As cobranças continuavam a mesma, como se estivéssemos recebendo em dia. Esses problemas extracampo foram o principal motivo que me levaram a ter uma carreira tão curta.