25/4/2014 14:38
Do City ao Timão: conheça Gabby Fernando, a aposta do Corinthians
Formado no futebol europeu, meio-campista canhoto voltou ao Brasil em 2013, aos 17 anos, quando assinou contrato profissional com o Alvinegro
Gabriel Fernando Morais de Almeida somava apenas três anos quando, no Natal de 1999, ganhou a primeira bola. Morava em Lisboa, capital de Portugal, para onde tinha se mudado havia poucos meses. Marcelo, o pai, carioca de sotaque arrastado e do metiê do futebol, suava frio minutos antes de dar-lhe o presente: “É duro pensar que seu filho pode não ter talento. Se ele pegar a bola com a mão, amigo, esquece: não tem o dom”, garantiu. A criança, como se fosse natural, correu pela casa com a redonda nos pés e, conta a mãe e registra a fotografia, fez embaixadinha já no mesmo dia. 14 carnavais depois, o meio-campista franzino e de penteado da moda, daqueles raspados nos lados e cheios no topo da cabeça, faz parte, desde novembro de 2013, do futuro do Corinthians. Fechou contrato até 2016.
“Ele chegou até nós por indicação do empresário a um diretor do clube”, disse o superintendente das categorias de base do Timão, o gaúcho Marcelo Rospide. “Nossas expectativas sobre o garoto, até pelas direções que temos do exterior, mercado em que se fala muito do atleta, são boas, de ter retorno”, completou. Gabriel é pauta no cenário estrangeiro por ter sido formado, desde os seis anos, no futebol europeu. “É um time que me dá tudo o que preciso e tem boa estrutura, tão boa quanto as lá de fora”, atestou o rapaz tímido, enfiado atrás da aba reta do boné invocado, assessório indispensável do “boleiro” moderno, durante toda a entrevista. “Encontrei, no Corinthians, clima muito bom, parece que tudo em volta é brincadeira”, contou o menino, que destacou Paolo Guerrero como um dos mais engraçados do elenco: “Só é um pouco difícil entender o que ele fala, o sotaque é estranho”, lembrou, rindo.
(Reprodução / Facebook)
Herdeiro único de família humilde do litoral sul de São Paulo, Gabriel, aos três anos, tomou avião rumo ao Velho Continente para acompanhar o pai, que fora atrás de melhores oportunidades fora do País. Aos seis, o fez largar a carpintaria para dedicar tempo ao futebol. A canhotinha do menino o havia feito chegar ao Sporting e Marcelo tinha de levá-lo e buscá-lo nos treinos, distantes 40 minutos de onde moravam. Márcia, a mãe, segurou a responsabilidade de garantir dinheiro ao fim do mês: “Foi uma vida de sacrifícios”, disse ela. “Fiz muita faxina por causa disso, mas valeu a pena”. “Sempre vou dever a eles por terem se desdobrado por mim. Não é qualquer um que faz isso pelo sonho de um menino de sete ou oito anos”, agradeceu o garoto. A mãe até tentou, mas não segurou o choro.
“No começo eu pensava: ‘Não pode dar nada errado, não pode dar nada errado...’, mas agora estou tranquilo”, confessou Gabriel. É ele quem “mata no peito”, atualmente, o dever de sustentar financeiramente a família – Márcia deixou de trabalhar na volta ao Brasil. “Acho que a pressão acostuma. Depois de um tempo, meus pais ainda ficavam preocupados e eu os mandava terem calma. Dizia: ‘Vai dar certo, deixa comigo”, contou.
De moleque, a ele, só restou mesmo o rosto sem barba, o jeito de falar e o de se vestir. Até o currículo que assina é de gente grande: depois do Sporting, defendeu também o Tottenham e o Flamengo. Em 2010, foi ao Manchester City. A passagem bem sucedida pelos Citizens o fez ser disputado pelo clube e pelo arquirrival United. “Nunca tive tempo para fazer essas coisas de criança, mas ainda espero ter. Sempre foi tudo voltado ao futebol”, lamentou o garoto, que logo reergueu a cabeça: “Mas eu gosto, nunca me incomodou”. Desde os 11 anos, Gabriel encara rotina de estudos e treinos diários, por vezes em até duas sessões, seja na Europa ou no Brasil. A vontade de ser jogador suprimiu a infância.
(Reprodução / Facebook)
Gabriel Fernando Morais de Almeida agora é Gabby Fernando – assim mesmo, com dois “b” e “y”. O apelido cheio de marra fora dado por torcedores do City, quando a imprensa internacional o comparava a Zidane, Maradona e Kaká. Aos 17 anos, tem empresário, assessor de imprensa e cinco patrocinadores: as marcas de roupa No. 5, do zagueiro inglês Rio Ferdinand, BLVD, do rapper norte-americano Soulja e YMVMB Special Premium, do também rapper Lil Wayne, além da Nike e da empresa de suplementos Brazil Nutrition. E isso tudo sem nunca ter atuado profissionalmente.
Pelo Corinthians, em cinco meses, fez apenas duas partidas. Em uma delas, um jogo-treino contra o Grêmio Barueri, pela categoria sub-20, enfiou quatro dos seis gols da vitória por 6 a 1. No outro, válido por torneio internacional sub-17 em Santiago (CHI), foi expulso antes de mostrar qualquer virtude. “Na Europa era mais comum chegar duro”, disse, ressaltando que terá de se acostumar. “Raça eu tenho, e muita. Determinação também. Aqui no Brasil, às vezes confundem”, completou.
“Ele ainda está passando por processo de adaptação e de fortalecimento muscular”, explicou Rospide. O clube entende que o jovem é franzino para a idade. “Segue uma programação com trabalhos direcionados ao objetivo que se pretende: às vezes o colocamos para treinar em dois períodos, tem dieta diferenciada e acompanhamento nutricional”, continuou. Para o superintendente, o uso do garoto nas categorias de base tende a ser cada vez mais comum, mas a estreia pelo profissional, ao menos em 2014, “é mais difícil”.
No Brasil de passagem
Gabby Fernando, aos 14 anos, deixou o Rio de Janeiro para voltar à Inglaterra, onde havia morado entre 2005 e 2008. “A estrutura não era boa no Flamengo, os campos eram esburacados...”, lembrava, antes de ser interrompido pelo pai: “A atenção dada à base aqui no Brasil é a mesma dada lá fora. Não falta capacidade, mas condições. Por exemplo: faltavam bolas nos treinos”, explicou. Mais tarde, ressaltou que o Corinthians é exceção à regra. O garoto retomou a palavra: “Abri um sorriso quando me contaram”, confessou. “Eu me sinto em casa na Inglaterra. Espero estrear pelo Timão e que dê tudo certo, mas quero voltar para lá um dia”. Não à toa, os maiores sonhos do garoto nada têm a ver com Brasileirão ou Libertadores: “Minha maior vontade no futebol, para ser sincero, é ganhar a UEFA Champions League”, revelou.
Aos 15, pelo City, o jovem participou da edição sub-21 do torneio, a Youth Champions League – mesmo abaixo da idade limite, teve algum destaque. Foi chamado por Roberto Mancini para treinar entre os profissionais. “Ele me dava atenção, mas falava em italiano e rápido, às vezes não entendia o que dizia”, contou. Logo se lembrou de outra história: “Em um coletivo, meti dois gols no Joe Hart”. No ano seguinte, anotou 24 tentos pelas categorias de base do clube, quebrou recorde de artilharia de sete anos de Shaun Wright-Phillips e chamou a atenção do United. O ex-volante francês Patrick Vieira, dono de cargo executivo no desenvolvimento do futebol do clube azul de Manchester, tratava o talento, à época, como o melhor sub-20 do mundo.
(Reprodução / Facebook)
“Gabriel, aos 16, não podia ter contrato profissional, só a partir dos 18”, contou o pai, que deu sua versão sobre a “briga” entre os arquirrivais: “Eu não estava satisfeito e resolvi tirá-lo do City. O filho é meu, faço isso a hora que eu quiser. Me falaram: ‘Vamos assinar um pré-contrato’. Eu respondi: ‘Não, não vamos’. Me deram uma carta de liberação e, no dia seguinte, indicado pelo Rio Ferdinand, estávamos no United”, explicou. “Ele foi aprovado no primeiro treino, mas a negociação com o time não deu certo”, lamentou.
Pai e empresário, entre as propostas que ouviram, escolheram o Corinthians. “Foi a melhor oferta que recebemos em toda a carreira”, garantiu Marcelo Almeida. Ao menino, não poderia ser melhor: Gabriel conta que saiu do Brasil muito novo, ainda sem paixão por qualquer clube, mas, em 2009, foi a um jogo do Timão de arquibancada, no meio da Gaviões da Fiel. Não deu outra: entrou para o “bando de loucos”.
Não há nada, contudo, que mude a vontade do garoto de voltar à Europa: “Estou no Brasil de passagem”, finalizou, certeiro.
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