A situação do São Paulo venceu nesta quarta-feira a batalha pela eleição para presidência do clube com Carlos Miguel Aidar, mas levou a pior na guerra que mais preocupava: o projeto da reforma do Morumbi não foi aprovado.
Sequer foi votado, já que a oposição do clube, liderada pelo candidato Kalil Rocha Abdalla, abandonou o pleito, não havendo o quórum necessário de 175 conselheiros. Criou-se apenas uma lista para os votantes, de forma que quem se apresentasse para escolher o novo mandatário tricolor também teria que decidir pelas mudanças no estádio.
O grupo de Abdalla era contra e exigia duas listas separadas para que se ampliasse a discussão sobre as obras que envolvem a cobertura da casa são-paulina, a construção de uma arena multiuso para 28 mil lugares e a formação de dois prédios de estacionamento, tudo a custo de R$ 460 milhões.
Não à toa o discurso de posse de Aidar mesclou euforia e frustração. A revitalização do Morumbi é para dirigentes do São Paulo um assunto estratégico para o futuro do clube.
Enquanto a modernização de sua casa patina - outras tentativas de aprovação já haviam sido barradas durante o ano passado; a situação alega que os adversários tiveram acesso e discutiram todos os detalhes do contrato -, o Tricolor vê os rivais Corinthians e Palmeiras prestes a inaugurar estruturas modernas.
Até mesmo a Arena Barueri poderia ficar à frente, especulou o ex-dirigente corintiano Antônio Roque Citadini em entrevista à Rádio Jovem Pan nessa quarta. "O pessoal de Barueri está dizendo que vai modernizar tudo por lá e aí eles podem rivalizar com o estádio são-paulino", provocou.
Maquete mostra como vai ficar a nova casa do Palmeiras
Sério ou não, o boato rendeu uma bronca de Aidar em Marco Aurélio Cunha, homem forte da oposição, durante a noite passada, no Salão Nobre no Morumbi. Entre as rápidas palavras em tom de cobrança do novo presidente foi possível ouvir "Citadini" e "seremos a quarta força."
Os cartolas tricolores temem que o Morumbi, até hoje palco obrigatório dos maiores espetáculos musicais da cidade, perca espaço para os estádios que vêm ai, especialmente o do Palmeiras, mais bem localizado e feito para receber eventos além do futebol.
Sem os shows de Paul McCartneys, Maddonas e AC/DCs, para citar alguns dos expoentes que passaram pelo gramado tricolor nos últimos anos, os camarotes do Morumbi seriam abandonados e se acumularia a perda de receita do clube.
"A cobertura do São Paulo traria o Morumbi para os estádios padrão Fifa e traria uma arena multiuso que passará a ser a mais requisitada do país - a arena seria construída a partir do espaço de parte das arquibancadas. Conheço algumas das maiores arenas do mundo, a 02, em Londres, mas nem essa não tem 28 mil lugares. A nossa proporcionará todos os grandes espetáculos, grandes eventos, jogos de tênis, lutas de MMA, apresentações de orquestras de música erudita, vestibulares, encontros religiosos, tudo isso será possível. E se não tivermos aqui, as outras que estão vindo ai passaram a ser os novos palcos, e o Morumbi servirá apenas para o São Paulo mandar seus jogos", alega Aidar.
Projeto perigoso
A oposição alega que o São Paulo comprometerá seu patrimônio e boa parte de suas rendas futuras ao aprovar um projeto de R$ 460 milhões de financiamento "nebuloso", que pode colocar o clube, dizem opositores, na mesma situação que os rivais Corinthians e Palmeiras, tendo que pagar por muitos anos pela reforma de sua casa. A empreiteira que seria responsável pelos trabalhos - Andrade Gutierrez -, desistiu em meio às disputas políticas do ano passado e ainda não há outra empresa acordada.
Modelo do futuro estádio corintiano
A situação alega que o acordo é vantajoso, que o Tricolor não arcará com um centavo de seu bolso e que o prazo de comprometimento é menor que o dos concorrentes locais, o contrato com o fundo que financiaria de obra seria de dez anos com possibilidade de prorrogação por outros dez, sendo que nesse período toda a verba proveniente da arena multiuso seria do parceiro.
Aidar estuda alternativas para tentar, enfim, aprovar a reforma: fazer uma mudança no estatuto que desobrigue a necessidade de quórum para a votação, estudar um novo acordo com os possíveis investidores ou até atrair uma empresa interessada em comprar os namming rights do Morumbi.