Um belo estádio com capacidade para 44.500 pessoas, que custou R$ 670 milhões para ser construído, com estimativa de que custará 6 milhões por ano em manutenção e pode custar até R$ 300 mil por jogo para a equipe mandante. Tantos custos assim em um local que teve média de público de apenas 800 torcedores no Campeonato Estadual do ano passado.
Candidata a "elefante branco" desde que foi anunciada como uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014, a Arena da Amazônia está sendo objeto de estudos para tentar se tornar rentável e bastante utilizada. Para resolver a complexa equação, a ideia é não ter somente o futebol como atrativo, mas, sim, unir o esporte com programas de lazer, transformando o estádio em um verdadeiro "shopping center" em Manaus.
A empresa (Ernst & Young) é a responsável estudo de viabilização econômica e está buscando um modelo de projeto adequado para a situação da arena amazonense. Após o Mundial, o Governo do Estado vai terceirizar a operação do estádio para a iniciativa privada, e a expectativa é que uma licitação aconteça entre agosto e outubro deste ano. Pelo menos duas empresas internacionais já visitaram o local e demonstraram interesse, mas o acerto ainda está longe de acontecer diante dos problemas em vista.
"Só o futebol não consegue sustentar a arena, é preciso ter um modelo misto, é preciso atingir vários público. É necessário ter shows, eventos musiciais, culturais artísticos, eventos em conjunto com o Centro de Convenções que fica logo ao lado do estádio", afirmou Miguel Capobiango, coordenador da Unidade Gestora da Copa (UGP) de Manaus.
"A arena tem de ter outras atividades para valorizar esse momento das pessoas indo até o local, ter atividades de entretenimento, como jogar um video-game, comprar lembranças. A ida ao estádio tem que ser prazerosa, um lugar onde as pessoas se sentem bem, passam uma tarde de lazer e encontram seus amigos. O estádio hoje não pode ser apenas o campo de futebol, precisa ser um grande shopping center. É este formato que temos que buscar", completou.
Novo estádio de Manaus já recebeu quatro jogos
Até agora, a Arena da Amazônia foi palco de quatro partidas. A única que mostrou números animadores foi o empate entre Resende e Vasco (0 a 0, pela Copa do Brasil), na quinta-feira da semana passada, que contou com 40.189 pagantes e renda de R$ 2.122.210,00 (R$ 1.103.799,31). Na inauguração, no dia 9 de março, no empate entre Nacional-AM e Remo (2 a 2, pela Copa Verde), ainda com capacidade reduzida nas arquibancadas, 9.485 pessoas pagaram ingresso e a renda foi de R$ 443.750,00 (despesas de R$ 92.306,19). Já no duelo amazonense entre Princesa do Solimões e Fast Clube (0 a 0, no dia 25 de março), o borderô aponta apenas 2.314 pagantes, arrecadação de somente R$ 21.170,00 e despesas de R$ 10.996,40.
"Os custos são variáveis, ainda não tenho uma coisa definitiva de como vai ser. As despesas estão oscilando muito, depende se o jogo é ára 10 mil, 20 mil ou 30 mil pessoas. Posso ter 100, 200 ou 800 stewards trabalhando para fazer a segurança, e isso vale também para as outras áreas de serviço no estádio", afirmou o atual administrador da Arena da Amazônia e diretor-técnico da Fundação Vila Olímpica de Manaus, Ariovaldo Malizia.
Cientes dos altos custos, os clubes de Amazonas preferem não atuar no estádio recém´-inaugurado. No último domingo, o clássico entre Fast e Nacional, inicialmente marcado para a Arena, foi trasferido para o campo do Sesi porque as equipes alegaram falta de recursos financeiros para pagar as despesas. Com isso, apenas partidas decisivas e finais do Campeonato Amazonense devem acontecer no estádio da Copa.
O Governo tem tentado junto com a CBF atrair os clubes grandes das regiões Sul e Sudeste do país para atuarem em Manaus. O jogo entre Flamengo e Bahia, no dia 21 de maio, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro, pode ser disputado na Arena Amazônia, por exemplo. O duelo entre Nacional-AM e Corinthians, pela segunda fase da Copa do Brasil, no dia 23 de abril, também acontecerá no local.
Malizia concorda que será preciso unir opções de lazer e outros eventos ao futebol para que o estádio se sustente. Para ele, a Federação Amazonense de Futebol deveria ser mais participativa e fazer um trabalho de resgate para ajudar os times do Estado a voltarem a participar das principais divisões do Brasil.
"Acho que vai ser 60% de futebol e 40% de outros eventos. As coisas precisar ser discutidas em forma de projeto, com visão de futuro. Teria de partir da federação a tentativa de recuperar o prestígio do futebol local, que já foi bom em outras épocas, usando a arena como atrativo. Seria uma iniciativa inteligente, é preciso aproveitar essa oportunidade. Temos uma arena maravilhosa e temos que ter projetos. Agora, saber se eles estão preparados para isso, eu sinceramente não sei", disse o adminsitrador da Arena.
Fora das discussões políticas sobre o futuro da Arena Amazônia, os manauaras parecem ter gostado da contrução do estádio e da visibilidade que a cidade pode ganhar após a Copa do Mundo.
"Todo mundo fala que isso vai virar um elefante branco. Mas quem fala isso não conhece a realidade da nossa cidade, principalmente o pessoal do Sul e do Sudeste. Manaus é uma cidade com potencial e dinheiro para usar a arena para jogos de futebol, shows e eventos", afirmou Windson Brandão, torcedor do Vasco e empresário do Amazonas.