As quartas de final do Paulistão 2014 não terão o atual campeão. A eliminação do Corinthians foi polêmica: além de tentar bater o Penapolense, o alvinegro contava com uma do São Paulo sobre o Ituano, que não veio. O time de Itu venceu no Morumbi, enquanto os comandados de Mano empataram em Penápolis.
A desclassificação tem, entretanto, raízes bem mais antigas, e que vão muito além da combinação de resultados deste domingo. Desde a saída de Tite, passando pelas profundas mudanças na fórmula de disputa do próprio Campeonato Paulista, o UOL Esporte compilou cinco razões que culminaram com a eliminação corintiana. Confira:
1) Reformulação tardia
O elenco corintiano começou a cair de produção já a partir da metade de 2013. No Brasileirão, nunca engrenou, e o desempenho nunca atingiu níveis satisfatórios. Tanto a diretoria como a própria comissão técnica de Tite relutaram, entretanto, em promover grandes mudanças no elenco.
A hesitação tinha seu fundamento, afinal, tratava-se de um time repleto de campeões mundiais de 2012, e que, no primeiro semestre, tinham conquistado o Paulistão e a Recopa Sul-Americana. Com isso, a reformulação só teve início depois que Mano Menezes assumiu, e após a reapresentação do elenco em janeiro.
"Encontrei no Corinthians uma consciência muito grande do que precisava ser feito, mas ninguém queria meter a mão na massa para ficar com o ônus: as modificações de grupo que fizemos, a busca por novas alternativas. O Corinthians já vinha em uma condição de render pouco fazia muito tempo" disse Mano, após o empate de domingo.
2) Dupla personalidade – "O médico e o monstro"
O atraso na formação do time impediu qualquer regularidade do Corinthians durante a disputa. Nas primeiras duas rodadas, vitória; na terceira, derrota. Na quarta, goleada por 5 a 1 sofrida diante o Santos. A partir dela, foram três tropeços, até o empate contra o Palmeiras.
Depois do clássico, o alvinegro engatou uma série de quatro vitórias, mas já era tarde demais. A derrota diante do São Paulo, na 13ª rodada, fez com que um resultado positivo contra o Penapolense virasse obrigação. Ele não veio; talvez com uma campanha mais constante, e menos pontos desperdiçados contra adversários de menor expressão, as coisas teriam sido diferentes.
3) Levando a pior nos clássicos
A Polícia Civil de São Paulo deteve na manhã desta quinta-feira (20) ao menos dez torcedores suspeitos da invasão do Centro de Treinamento do Corinthians, ocorrida no início do mês. Nove dos suspeitos foram levados à sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para averiguação e um deles foi preso e algemado por porte de arma, um revólver calibre 38.
Mesmo com o mau segundo semestre, o Corinthians foi o único dos grandes paulistas a passar 2013 invicto em clássicos. Foram quatro vitórias e oito empates, o melhor desempenho dentre o próprio alvinegro, Santos, São Paulo e Palmeiras.
Em 2014, até agora, a história tem sido bem diferente, com duas derrotas – uma delas a goleada diante do Santos – e um empate. Nas três partidas, foram nove gols sofridos. Além do desperdício de pontos que poderiam ter sido importantes, as derrotas em clássico trouxeram junto pressão da torcida, que chegou a invadir o CT Joaquim Grava em fevereiro.
4) A fragilidade defensiva
A defesa corintiana, nos últimos dois anos, adquiriu a fama de ser a melhor do Brasil. Nesta temporada, porém, acabou desarrumada, e caiu muito de produção. O miolo da zaga, durante boa parte do Paulistão foi o mesmo, com Paulo André e Gil, mas houve mudanças.
A aposentadoria de Alessandro, a saída de Edenilson e a lesão de Fábio Santos promoveram rapidamente Fagner e Uendel à titularidade. Os dois reforços, porém, têm características mais ofensivas que seus antecessores.
Em 2013 inteiro, o Corinthians sofreu 46 gols; no Brasileirão, foram 22. Neste ano, só na primeira fase do Paulistão, já foram 20. O "vazamento", sem dúvida, foi decisivo para a eliminação.
5) A nova fórmula do Paulistão
Marco Polo Del Nero é presidente da FPF e um dos idealizadores da nova fórmula
Existem, porém, fatores que independem do controle do próprio Corinthians. A nova formula de disputa do Paulistão, em quatro grupos com cinco clubes – sendo que se classificam dois por grupo, e os integrantes de cada um não jogam entre si – prejudicou o alvinegro.
Com seus 21 pontos, se estivesse no Grupo A, o Corinthians estaria na segunda colocação, se classificando para as quartas de final. No grupo D, estaria em terceiro, mas apenas um ponto atrás do Bragantino e na briga direta pela vaga. Como os integrantes de cada grupo não se enfrentam, não há como tirar pontos dos adversários no confronto direto.
"O Corinthians vencendo o último jogo, vai terminar em sexto lugar, provavelmente, no geral. Quando você termina nessa colocação, classificam oito e você não está dentro, é claro que tem uma coisa atípica. Mas a gente sabia desde o início, não vamos transferir para os outros a responsabilidade que é nossa, mas é obvio que a fórmula não é boa", disse Mano Menezes após o empate.
O lado bom
Enquanto os rivais encararão uma maratona de jogos, o Corinthians terá paz, e deverá entrar em campo duas vezes até o início do Brasileirão. O período será utilizado para que Mano encontre a paz e promova ajustes no time.
"Vamos continuar trabalhando muito, porque temos um período que a ausência de jogos vai proporcionar. Hoje já estamos em um nível de competição, com alguns jogadores voltando depois de um período longo. A gente está cuidando para fazer o que fizemos com Renato Augusto, que hoje já entrou bem. Assim a equipe vai crescendo de modo geral, e o grupo também", disse o próprio treinador, após a eliminação.
Pela Copa do Brasil, o Corinthians encara o Bahia de Feira de Santana, na quarta-feira, na casa do adversário.