O principal argumento dos defensores do Campeonato Paulista é o de que, além de fomentar o futebol no interior do estado, o torneio é essencial para a sobrevivência financeira dos times menores. Atualmente, porém, além de ser um fiasco de público – a média é de 4.891 pagantes por jogo – a competição está longe de ser uma fonte atrativa de lucro para os 16 clubes fora do eixo dos quatro grandes.
Ao contrário do que ocorria no passado,a bilheteria já não mais uma fonte certa receitas. Dos 16 clubes, três chegarão à 14ª rodada com prejuízo acumulado nos jogos como mandante – o Comercial é o maior prejudicado, e já está no vermelho em cerca de R$ 221 mil. No total, sete só não ficaram no negativo em jogos contra um dos grandes. Dez tiveram prejuízo pelo menos uma vez.
Enquanto São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos recebem cotas de televisão em torno de R$ 12 milhões pela participação, os demais 16 recebem R$ 2,5 milhões cada um. A quantia é a maior dentre os estaduais do país, mas torna o campeonato mais competitivo, e cria a necessidade de elencos mais qualificados – um rebaixamento para a Série A2 é desastroso, e reduz a cota para cerca de R$ 100 mil.
O UOL Esporte conversou com dirigentes e analisou balanços de alguns clubes para traçar uma média das despesas que eles têm no primeiro semestre de um ano. Além da folha de pagamento, que varia entre R$ 200 mil e cerca de R$ 1 milhão mensais, entram na conta gastos com aluguel de imóveis, fornecimento de materiais perecíveis e não perecíveis, transporte e hospedagem de atletas e contas de consumo.
Além disso, os clubes ainda têm que arcar com,os impostos, as dívidas fiscais parceladas, dívidas e juros bancários, salários atrasados e ações trabalhistas de anos anteriores, fatos que fazem parte da realidade de praticamente todos os clubes brasileiros.
Para um clube médio, com folha entre R$ 400 mil e R$ 600 mil, as despesas nos primeiros quatro meses do ano podem ultrapassar a barreira dos R$ 5 milhões. Para arcar com a despesas, além dos direitos de TV e da bilheteria, as agremiações ainda tem a ajuda dos patrocínios, mas estes dificilmente ultrapassam os R$ 2 milhões anuais – ou até R$ 500 mil para a duração do Paulistão – para quem não disputa a Série A do Brasileiro no segundo semestre.
A situação faz com que terminar o Paulistão com saldo financeiro positivo seja uma missão difícil para os clubes do interior paulista. Dirigentes ouvidos pela reportagem citaram um bom controle de folha salarial, estratégias para atrair o torcedor nos jogos como mandante e uma eventual classificação para a fase mata-mata como as apostas para minimizar o prejuízo, e terminar a competição no zero. Lucro? Já é mais difícil.
Para embolsar qualquer quantia significativa no final do estadual, a principal alternativa é a venda de jogadores, preferencialmente formados nas próprias categorias de base do clube. A manutenção de uma estrutura formadora, entretanto, é um custo com o qual nem todos podem arcar. A outra opção é ajuda de empresários, investidores e empréstimos de outros clubes, abrindo mão de possuir os direitos econômicos de seus atletas.
A edição de 2014 do Paulistão já aponta clubes passando por dificuldades. O Comercial, campeão do prejuízo em bilheteria, atrasou os salários no final de fevereiro e quase viu seus jogadores entrarem em greve. No ano passado, a mesma situação aconteceu no Paulista, de Jundiaí.
A Portuguesa também vai mal nas arquibancadas: até agora, faturou apenas cerca de R$ 103 mil em bilheteria, tudo graças ao jogo contra o Corinthians, o único que não deu prejuízo. A Lusa investiu na permanência na Série A – terminou 2013 com uma folha de pagamento de cerca de R$ 1,5 milhão – mas acabou rebaixada no STJD.
Há, porém, algumas exceções: para o rival do Comercial, o Botafogo-SP, a bilheteria ainda tem sido uma fonte significativa de receitas. Até agora, o saldo é de R$ 1 milhão positivo, e deve melhorar, já que o clube está classificado para o mata mata, tornando a situação bem mais confortável. O São Bernardo e o XV de Piracicaba também faturaram mais de R$ 600 mil com bilheteria.
Na segunda-feira, o Bom Senso FC apresentará sua proposta de calendário para o futebol brasileiro. Dentre as ideias, estão a criação de mais divisões nacionais e estaduais com sete datas, em formato mata-mata. O projeto será acompanhado de um estudo de viabilidade financeira.
BOM SENSO FC ENTREGA PROPOSTA DE FAIR PLAY FINANCEIRO A MINISTRO