18/3/2025 05:28

Corinthians mantém sigilo sobre investigações de Duilio e Andrés na gestão.

Corinthians mantém sigilo sobre investigações de Duilio e Andrés na gestão.

O Corinthians já poderia ter tornado público os resultados das investigações feitas pela Ernst & Young, umas das maiores empresas do mundo no ramo de consultoria e auditoria, contratada pelo clube no início da gestão de Augusto Melo com a intenção, segundo o presidente, de "passar o Corinthians a limpo".

A E&Y concluiu diligências de oito contratos confeccionados e assinados durante os mandatos de Andrés Sanchez e Duilio Monteiro Alves. A escolha de quais contratos seriam investigados foi da atual diretoria. Os resultados deste trabalho foram apresentados ao clube em reunião no dia 6 de maio de 2024, com a presença de Rozallah Santoro, Yun Ki Lee e Fernando Perino, à época diretores financeiro, jurídico e adjunto do jurídico, respectivamente.

Cópia de contratos, documentos diversos e comprovações das ações executadas e do relacionamento entre representantes do clube e da empresa. Os sete contratos investigados inicialmente, contemplados no vínculo assinado pelo Corinthians com a E&Y, são os seguintes: Indigo Estacionamentos (administradora do estacionamento da Neo Química Arena); Bilheteria (OneFan); Fiel Torcedor (OneFan); A&B Arena (administradora de alimentos e bebidas na Neo Química Arena); SPR (responsável pela confecção de itens licenciados do clube); EA9 (responsável pelas franquias das lojas); Lounge Brahma (responsável por camarote na Neo Química Arena).

Posteriormente, a diretoria corintiana solicitou a investigação de um oitavo contrato, o da Brax, empresa responsável pela comercialização de placas publicitárias. Esta averiguação é mais uma que foi concluída e apresentada a dirigentes do clube. Na análise dos oito contratos, a E&Y realizou também o "Background Check & Screening", uma atividade que observa e aprofunda a investigação no mapeamento dos dirigentes responsáveis, de seus familiares e de empresas relacionadas, com o cruzamento de informações e relacionamentos.



O Corinthians, por meio de seus dirigentes responsáveis, recebeu o resultado da investigação feita em cima do contrato assinado pelo clube com a Brax. Os demais contratos averiguados, relacionados a seis fornecedores e sete vínculos firmados pelas gestões passadas, tiveram os resultados compartilhados e apresentados a dirigentes corintianos em reunião. Após tomar ciência de todos estes resultados, o Corinthians decidiu não pagar pelo serviço da E&Y e, consequentemente, por força contratual, não recebeu as cópias dos relatórios de cada contrato averiguado, o que incluiria o parecer da E&Y. A opção da diretoria alvinegra em não obter cópias dos relatórios finais pode ter sido motivada pelos resultados apresentados, pois a E&Y não encontrou problemas relevantes, irregularidades ou ligações pessoais de ex-dirigentes e seus familiares em nenhum dos oito contratos investigados.



Em princípio, as análises dos contratos atingiriam membros do Conselho Deliberativo do Corinthians. No entanto, o trabalho concluído averiguou possibilidades de conflito de interesses com diretores e ex-diretores do clube, sem o envolvimento de conselheiros na investigação, após um alinhamento feito pela empresa com Rozallah Santoro e Yun Ki Lee.



O contrato entre Corinthians e Ernst & Young foi assinado dia 22 de abril de 2024. No documento, há a especificação do "Background Check & Screening" como uma das atribuições contratadas pelo clube. Neste tópico é descrita a previsão, logo no item "a", do "mapeamento dos dirigentes da antiga gestão do Corinthians - incluindo abertura familiar".



Durante o diálogo com Andrés Sanchez, na reunião de 7 de outubro no CD, Augusto Melo fez a seguinte afirmação: "O único contrato que eu assinei para investigar foi a mim e os meus diretores, no caso VaideBet". De fato, o Corinthians autorizou a Ernst & Young a iniciar uma investigação sobre o processo interno que culminou na assinatura com a empresa do ramo de apostas. Este trabalho poderia apresentar provas e explicações, por exemplo, sobre o processo que determinou a inclusão de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, como intermediário do acordo, tema de atual investigação policial e também de processo de impeachment movido contra o presidente.

À época, a E&Y faria a análise em duas fases: Fase 1 - Diagnóstico para a Investigação, para entendimento do ambiente tecnológico e documentação existente; avaliação da documentação; e havendo viabilidade para investigação, elaboração do plano de investigação; Fase 2 - Execução da Investigação, com a coleta de dados eletrônicos; revisão da documentação coletada; Background Check de potenciais envolvidos; análise de documentos, incluindo contratos; análise financeira; e entrevista com profissionais-chave ao caso. Mas, no dia 18 de junho, quase quatro meses antes da afirmação de Augusto no CD, Luiz Ricardo Alves, conhecido como Seedorf, diretor adjunto financeiro, já havia documentado, em e-mail, o pedido do presidente Augusto Melo para a E&Y suspender a investigação de possíveis irregularidades no contrato com a VaideBet. O trabalho foi paralisado imediatamente e nunca mais prosseguido. Ainda assim, gerou uma cobrança de R$ 122 mil.



No dia 14 de maio de 2024, durante reunião com a presença de Augusto Melo, ficou decidido que detalhes sobre a decomposição da dívida do clube entre 2017 e 2020, período que contempla o último ano do mandato de Roberto de Andrade e o mandato inteiro de Andrés Sanchez, não seriam mais feitos pela Ernst & Young nem pela atual diretoria do clube. Esta decisão foi registrada em ata e aconteceu após uma discussão, dentro da reunião, entre membros da atual gestão sobre o aumento expressivo da dívida do clube no período citado acima. Desta maneira, as análises foram suspensas.



Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, após tomar conhecimento da conclusão do trabalho de investigação feito pela E&Y sobre os contratos das gestões anteriores, passou a cobrar acesso ao resultado para que o órgão fiscalizador pudesse avaliar a situação e eventuais providências pertinentes às ações de Andrés Sanchez e Duilio Monteiro Alves quando estiveram à frente do clube. No dia 28 de junho de 2024, Romeu entrou em contato com representantes da E&Y. A empresa explicou que só poderia fornecer tais informações à diretoria liderada por Augusto Melo. Mais à frente, em agosto, Romeu enviou ofício a Leonardo Pantaleão, então diretor jurídico, solicitando acesso aos relatórios e conclusões da E&Y. Sem sucesso. Em outubro, Romeu fez nova tentativa em e-mail enviado ao diretor da E&Y, com cópia para Augusto Melo e Pedro Silveira.

Neste caso, Silveira, diretor financeiro, respondeu que estava "de acordo" para que Romeu tivesse acesso, mas a solicitação nunca foi atendida na prática. Desta maneira, o Conselho Deliberativo do Corinthians está de "mãos atadas" até hoje, sem condição de fazer qualquer cobrança sobre os antigos gestores. Esse cenário só vai mudar quando a diretoria do clube divulgar ou enviar ao órgão os resultados que foram compartilhados pela E&Y.



No dia 13 de setembro de 2024, durante coletiva de imprensa no CT Joaquim Grava, o diretor financeiro Pedro Silveira anunciou o fim da parceria entre Corinthians e Ernst & Young. A reportagem, porém, apurou que a ruptura contratual ainda não foi formalizada e assinada pela empresa. A E&Y, inclusive, cobra valores que superam R$ 1 milhão referente a serviços prestados pela empresa.

A Gazeta Esportiva enviou 12 perguntas à assessoria de imprensa do clube e abriu espaço para explicações sobre todos os temas abordados na matéria, mas o Corinthians, depois de quatro dias de avaliação, preferiu não enviar respostas e, de maneira geral, não se manifestar. Já a Ernst & Young adota a postura de não comentar assuntos internos que remetem ao trabalho junto aos clientes da empresa.



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