Vinicius Manfredi assumiu o comando do marketing do Corinthians em junho de 2024 em meio a um turbilhão de problemas no clube. O antecessor dele, Sérgio Moura, havia se afastado do cargo depois de suspeitas de irregularidades no contrato com a VaideBet, e o clube corria para encontrar um novo patrocinador máster. Um semestre depois, os desafios de Manfredi e do marketing alvinegro ainda seguem enormes, como o de alcançar o faturamento recorde com patrocínios, de R$ 212 milhões , previsto em orçamento. Ainda assim, a percepção é de que o momento mais difícil já passou. Para 2025, além de buscar anunciantes para os espaços que estão vagos no uniforme da equipe profissional masculina, Vinicius Manfredi e sua equipe têm outros objetivos, como melhorar o programa Fiel Torcedor, criar uma loja virtual na Europa e melhorar a experiência do torcedor que vai à Neo Química Arena. Abaixo, você confere trechos de entrevista exclusiva concedida pelo superintendente de marketing do Corinthians ao ge.
Balanço de 2024 – Acho que nos primeiros meses a gente tinha um desafio muito grande de credibilidade, no sentido de ter perdido um patrocinador e ter que encontrar outro num momento muito difícil, no meio do ano. Além do momento que a gente se encontrava aqui no clube, as marcas já estavam com seus orçamentos basicamente comprometidos. A gente conversou com umas três empresas (interessadas no patrocínio máster) na época. Existia uma dificuldade de encontrar quem estivesse à disposição. Não era nem por falta de interesse, era pela verba disponível para poder entrar numa negociação que não era baixa. Ali foi o primeiro desafio nosso, começar a se reaproximar do mercado novamente, até dos próprios patrocinadores daqui.
– A gente conseguiu, pensando primeiro no futebol masculino, trazer algumas renovações importantes aí. Essa é uma demanda que sempre se cobra muito do marketing, embora exista dentro da nossa estrutura também um time comercial, que é quem está mais nesse dia a dia no "front". E-commerce na Europa – A gente quer tentar ter uma operação de e-commerce para atender a parte ocidental da Europa, porque tem muitos corintianos que moram lá e não têm acesso a produtos nossos hoje. Tem fãs de futebol que gostam de vestir futebol independentemente de time e tem o apelo do Memphis e de outros atletas também do elenco que eventualmente podem seduzir pessoas de lá a querer comprar produtos nossos. A gente está realmente focado não só pelo Memphis, mas por uma necessidade do clube, né? Quantos torcedores nossos vivem na Europa e são carentes de conseguir comprar produto? Então a gente tem uma vertical nesse sentido.
– Estamos ainda fazendo um levantamento de estimativa de vendas, considerando algumas bases, por exemplo quantos seguidores nossos estão na Europa ou quantos brasileiros moram em cada país para tentar tirar alguns extratos, para tentar entender um pouco desse potencial. Com certeza hoje seria mais por uma questão de posicionamento do que por dinheiro, não é algo que vai ser super representativo . Mas tem algumas coisas importantes, uma moeda muito mais forte e normalmente quem está lá tem um poder de compra razoável. E há uma carência, uma demanda reprimida. Essas pessoas dependem de algum amigo que viaja para lá e leva (os produtos do Corinthians ), ou de vir para o Brasil para comprar, não têm muito acesso. É igual quando o Memphis chegou e teve a venda dos direitos internacionais para a Holanda e depois para os Estados Unidos e o Canadá: não era muito pelo dinheiro, porque o dinheiro não era tão relevante naquela fotografia. É muito mais por esse movimento do clube estar presente naquela rotina.
Outros mercados – Muito se discute no futebol brasileiro sobre a internacionalização dos clubes. Eu acho que, de uma maneira super franca, os clubes em geral têm dificuldade já de se nacionalizar. O nosso país é muito grande e é difícil os clubes conseguirem acessar os seus torcedores que não estão ali no núcleo de onde o clube está mais posicionado. Imagina fazer isso fora. E aí tem toda a questão de antigamente não transmitir o campeonato. Beleza, vou ter um jogador da Hungria, mas passa um jogo meu na Hungria? Se não passa, não adianta. Eu lembro que na época do Guerrero a gente tinha 200 mil seguidores peruanos nas redes. Então isso conecta.
– A ideia é ter volume de produto para atender a camada popular e também ter produtos de nicho. Como é que eu ataco o público gamer, o público mais do rap, do trap? A proposta é entender quais são esses nichos que podem juntar o "lifestyle" do Corinthians com dessas categorias e poder trazer mais produtos para o público.
Não adianta eu ter um monte de produto licenciado e não ter um ponto de venda forte, seja ele online ou físico. Então, essa agenda é muito paralela, tanto que a gente juntou as equipes de loja e licenciamento para conseguir trabalhar de uma maneira conjunta. Não é só futebol – Acho que um acerto muito legal da gestão, já desde o começo do ano, foi direcionar dentro da equipe de marketing um recurso para atender o clube social. Porque a gente fala muito do futebol, mas existem várias demandas dentro do clube. É muito difícil para algumas áreas e departamentos que não têm a mesma visibilidade que o futebol masculino, ou mesmo o feminino, ter a sua receita para conseguir fazer o departamento rodar.
– Acho que isso precisa ser aproveitado. Que esses paradigmas sigam sendo quebrados, se eles ainda existirem, e o que mais a gente puder fazer pra aproximar os torcedores comuns dos organizados e vice-versa. Como é que a gente faz pro torcedor que não é organizado se sentir acolhido pelo organizado, ali está todo mundo pra torcer para o clube. Então acho que esse é um desafio nosso.