Não foi a vitória desejada, mas Augusto Melo ganhou fôlego com o adiamento da reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians em que será votado o impeachment dele da presidência. O encontro, que aconteceria nesta quinta-feira no Parque São Jorge, foi transferido para a próxima segunda. O objetivo principal do presidente e de seus aliados é impedir que o processo de destituição seja votado. Embora evitem dizer abertamente, eles temem que a oposição tenha a maioria no pleito e consiga afastar Augusto Melo temporariamente - ele só será retirado definitivamente do cargo caso haja aprovação dos sócios do clube, em nova votação. Para barrar o processo, Augusto Melo e seus apoiadores trabalham em diferentes frentes. Uma delas é jurídica. Sócios e conselheiros estudam uma ação com pedido de liminar para impedir a votação. Eles argumentam que o julgamento não pode acontecer antes que a Polícia Civil encerre o inquérito que apura possíveis crimes no contrato de patrocínio da VaideBet. A existência de supostas irregularidades no pagamento de comissão pela intermediação do acordo com a casa de apostas embasa o pedido de impeachment contra Augusto. Em paralelo, há articulações políticas para atrair maior apoio no Conselho Deliberativo e também para tentar convencer o presidente do Conselho, Romeu Tuma Jr, a postergar a votação, tal qual sugeriu a Comissão de Ética em parecer sobre o caso. Tuma foi pressionado também por torcedores organizados. Na terça-feira, ele se reuniu com líderes da Gaviões da Fiel, mas insistiu em manter a reunião. Ele também vem sendo alvo de críticas e ataques nas redes sociais. Além disso, Augusto tenta criar uma agenda positiva para ganhar o apoio da opinião pública e, assim, influenciar a decisão dos conselheiros. Na última quarta o Corinthians anunciou medidas com a CBF e a Justiça de São Paulo para renegociar suas dívidas. Na véspera, já havia efetuado a compra à vista do goleiro Hugo Souza , encerrando novela com o Flamengo dias antes do prazo final para encerrar a preferência de negócio do Timão. Fontes próximas a Augusto asseguran que as ações estavam planejadas há algum tempo, a espera de uma unidade política para serem divulgadas. Como ela não veio, a diretoria colocou em ação diante das necessidades do clube. O dirigente também aumentou o número de entrevistas concedidas e participações em programas esportivos para defender a sua gestão. Ainda assim, nos bastidores até mesmo aliados de Augusto Melo admitem que ele perdeu apoio político e que é mais factível evitar o impeachment em eventual votação dos sócios do que na do Conselho. Entretanto, antes de ser agendada uma assembleia dos associados, o presidente é afastado do cargo. Neste intervalo, o clube seria comandado pelo primeiro vice, Osmar Stábile. Os atuais diretores já avisaram que, caso Augusto saia, eles pedirão demissão. Apesar de ganhar tempo com o adiamento da votação, o presidente se queixou da alteração de data. Na segunda-feira seria realizada a confraternização de fim de ano dos funcionários do clube, que agora terá de ser remanejada. Diretor executivo de futebol do Timão, Fabinho Soldado trabalha para que a turbulência política não afete o dia a dia da equipe profissional. Ainda assim, os atletas se manifestaram sobre o caso na semana passada e declararam apoio a Augusto Melo. – A gente tomou a decisão de fazer esse posicionamento porque desde quando cheguei, tudo que essa diretoria e o Fabinho falaram para mim, eles cumpriram, e antes de chegar aqui o clube tinha meses e meses de imagem atrasada, entre outras coisas. Jogadores que não recebiam seus salários. E o presidente e Fabinho colocaram isso como o objetivo principal, até porque trabalhamos todos os dias e somos dignos de receber. E eles honram a palavra deles. Nos apegamos a isso e entendemos que temos que ficar do lado de quem está do nosso lado – disse o goleiro Hugo Souza. Augusto Melo tem mandato até o fim de 2026. Mesmo que se livre deste processo de impeachment, é possível que ele seja alvo de novos pedidos de destituição. Na última segunda-feira, o Conselho de Orientação do Corinthians apontou gestão temerária do presidente por não apresentar balanços financeiros auditados e outros documentos solicitados.