Ser o berço de um dos maiores jogadores da história é algo que merece ser estampado com orgulho. Rosário, a terceira cidade mais populosa da Argentina, mas que tem um agradável clima de interior. A paixão por futebol é evidente por aqui, e não é para menos: é a terra natal de Lionel Messi. Em todo o bairro La Bajada, onde o craque nasceu e cresceu, dá pra ter uma ideia da gratidão que os argentinos têm. E é nesta cidade que descobrimos a importância de Messi na formação de outro camisa 10: Rodrigo Garro, craque do Corinthians . O clube Sarmiento era onde, há alguns anos, funcionava a parte esportiva da Fundação Leo Messi. O projeto da família do craque argentino tinha como objetivo dar oportunidades a crianças carentes, e uma das formas era por meio do futebol. Foi ali que Rodrigo Garro chegou aos 12 anos de idade para jogar nas categorias de base. German Sapp, um dos fundadores do clube, diz que a parceria com a fundação mudou o patamar do trabalho que faziam. Foi isso que permitiu levar jovens de diversos lugares do país para treinar no clube. Entre eles, Garro. – A chegada de Jorge Messi, pai do Lionel, revolucionou tudo no clube. Só de escutar o nome Messi é uma alegria para todos, e tê-los aqui no Sarmiento foi um orgulho, uma honra. Nesse momento também chegaram muitos treinadores. Trouxeram um grupo de trabalho, davam comida, moradia, medicina. Muitas coisas que hoje jovens que estão na base não têm acesso. Jorge facilitou tudo isso. A Fundação Messi trouxe tudo isso consigo – afirma Sapp.
Moleque atrevido, descarado. Foi na Fundação Messi que Garro teve a primeira experiência real no futebol. Com estrutura, treinamento, e morando em um alojamento para jovens atletas. Mas quem sofreu com isso foi a família dele, que é de General Pico, cidade a cerca de 600km e sete horas de viagem ao sul de Rosário. – A decisão de deixá-lo ir desacompanhado, aos 12 anos, foi muito dura. Ficou muito difícil dormir. Aos 12 é muito jovem ainda... Hoje, em Pico, andamos pela rua e vemos crianças fazendo bolas de sabão com 12 anos. E nós pensávamos: "O nosso filho se foi aos 12, sozinho". Mas ele queria isso – diz, chorando, o pai Ricardo Garro. – Quando viajávamos para vê-lo, era muito difícil voltar. Por que não queríamos nos largar. E ele chorando, mas nos pedindo para deixá-lo porque era o que ele queria fazer. Então ficávamos um pouco mais e quando ele se acalmava nós saíamos. E depois tínhamos 600km de viagem pela frente, com a sua irmã chorando porque era pequena, e nós nos controlando e olhando pela janela – diz a mãe Andrea Prietto.
Com o passar do tempo, a canhotinha certeira de Garro abriu novas possibilidades. E seu próximo clube foi o Atlético Rafaela, da cidade de Rafaela, a 250km ao norte de Rosário. Município pequeno e elegante, com pouco mais de 100 mil habitantes, com características de cidadezinhas do interior do Brasil, com a pracinha da igreja como principal ponto turístico. É lá que o Atlético Rafaela, recém-rebaixado para a Terceira Divisão do futebol argentino, recebeu Garro aos 16 anos. – Ele era extremamente alegre, um garoto muito aberto, se aproximava fácil das pessoas. E era excelente no pingue-pongue também. Agora, se perdesse, buscava alguma artimanha porque nunca gostou de perder em nada. Ele sempre foi assim, sempre foi vencedor. E se adaptou facilmente à cidade e à escola. Teve sempre uma alma de líder positivo. Desde o momento em que entrou no campo começou a mostrar suas virtudes – afirma Luis Trossero, o Luisito.
Mais uma vez na história da família Garro, Beto Bulleri foi o amigo com quem puderam contar. Ele estava morando e trabalhando na Colômbia, cogitou a possibilidade de levá-lo para um clube de lá, mas o processo todo para isso parecia ser impossível. – E aí com a família, decidimos encontrar uma solução mais próxima. Com gente conhecida, alguns contatos que tínhamos, conseguimos levá-lo para fazer um teste no Instituto de Córdoba – diz Bulleri.
Depois de tantos anos de luta, Garro finalmente conseguiu chegar ao futebol profissional da Argentina. Estreou na Segunda Divisão pelo Instituto, rapidamente se destacou e foi contratado pelo Talleres. Um ano depois, em 2022, foi eleito o melhor jogador do campeonato argentino. – Imagina hoje como é para a gente. É uma felicidade enorme! Você liga a televisão porque gosta de futebol, quer ver grandes jogadores, e vê seu filho ali... Ele está aproveitando e nos fazendo aproveitar, porque realiza o nosso sonho também – diz o pai.