A partida entre Corinthians e Vasco neste domingo, pela 35ª rodada do Brasileirão, tem um tempero especial graças a um personagem que faz parte da história recente das duas equipes: Ramón Díaz. A bola rola às 16h (de Brasília), na Neo Química Arena. Hoje técnico do Corinthians e um dos principais responsáveis pela reação da equipe no campeonato, pulando da zona de rebaixamento para a briga por vaga na Libertadores do ano que vem, Ramón trabalhou no Vasco no ano passado e terminou a temporada alçado ao posto de herói, com prestígio no clube e carinho da torcida. Sob as rédeas do treinador argentino, que em julho assumiu a equipe com apenas 12 pontos na tabela, o Vasco deu uma guinada improvável e conseguiu escapar do rebaixamento na última rodada do campeonato, com vitória de virada sobre o Bragantino em São Januário. A frase "no va a bajar!" do treinador virou um mantra da campanha. No entanto, o clima azedou no primeiro semestre de 2024 com a eliminação para o Nova Iguaçu na semifinal do Campeonato Carioca, notícias de desgaste no elenco e o início ruim no Brasileirão. A derrota por 4 a 0 para o Criciúma em São Januário, na quarta rodada, marcou o fim da passagem do argentino no clube... e o início de uma relação conturbada. O episódio mais recente foi a declaração de Ramón Díaz em entrevista ao "Abre Aspas", do ge , dizendo que considerava o Corinthians "muito maior do que o Vasco". O ge explica abaixo como o experiente treinador foi de figura heroica à persona non grata no clube de São Januário. "Paneleiro" Com a saída de Ramón Díaz do Vasco, começaram a ganhar força relatos de que o clima no clube não era bom, algo que acabou sendo disfarçado com a campanha de sucesso na temporada anterior. Alguns jogadores estavam insatisfeitos com a maneira que Ramón Díaz e seu filho, o auxiliar Emiliano Díaz, geriam o elenco. Os argentinos eram considerados "paneleiros" e pareciam priorizar a escalação de jogadores estrangeiros. Gary Medel sofria rejeição de boa parte dos jogadores , em especial depois de agredir um atacante do sub-20 na concentração de um jogo do Carioca. Mas, com Ramón, o chileno era capitão e um dos líderes do elenco - ele acertou sua saída do clube menos de dois meses após o adeus do treinador. O caso de João Victor é emblemático. Reforço mais caro do clube na temporada, o zagueiro jogou muito pouco sob o comando do Ramón, que preferia utilizar o paraguaio Rojas na função. Sem papas na língua, João reconheceu numa entrevista em agosto que aprovou a saída do técnico argentino. - Não senti (falta) nem um pouco. Acho que (a saída) foi a melhor escolha a ser feita, acho que não estava mais fazendo com que o grupo jogasse. Também, no meu modo de ver, ele fazia algumas escolhas erradas, mas não vou ficar entrando muito nesse mérito. O tuíte da discórdia O principal ponto da discordância entre Vasco e Ramón Díaz diz respeito à forma como a demissão foi anunciada. O jogo contra o Criciúma terminou por volta de 18h02 (de Brasília). Às 18h12 o clube divulgou o seguinte comunicado em seu perfil oficial no Twitter: "O Vasco da Gama informa que imediatamente após a partida Ramón Díaz e Emiliano Díaz não fazem mais parte da comissão técnica". Até hoje ninguém sabe ao certo o que ocorreu no vestiário nesse intervalo de 10 minutos. O clube garante que Ramón e Emiliano pediram demissão, enquanto pai e filho negam essa hipótese e dizem que foram pegos de surpresa com o tuíte. Mesmo demitidos, eles foram até a sala de imprensa e deram um comunicado , sem direito a perguntas por parte dos jornalistas: "Não gostei da forma que acabou. Achei que merecíamos outro tipo de respeito, não ser demitido por Twitter, porque a gente fez muito por Vasco", disse Ramón - O que acontece no vestiário... Você tem muitas estratégias para trazer o grupo para o seu lado, entende? Vieram todos, falamos: "Desse jeito vocês querem que fiquemos?". Isso é uma estratégia. Não é que você falou "eu quero ir embora", não é assim. Isso é futebol profissional, é parte de uma estratégia. Não é "vou embora" e vai embora. Se eu quisesse ir, avisaria no outro dia, não tem problema. É simples - disse. Processo na Fifa O desentendimento virou objeto de uma ação que Ramón Díaz toca contra o Vasco na Fifa. O treinador argentino ingressou com um processo alegando que foi demitido e, dessa forma, cobrando uma multa de quase R$ 30 milhões pela suposta rescisão do contrato. A ação ainda aguarda uma decisão por parte da banca julgadora da Fifa. Em sua defesa, o Vasco recolheu depoimentos de jogadores e funcionários que presenciaram o que o clube entende como o pedido de demissão de Ramón. Há também declarações públicas do treinador e de seu filho Emiliano. O jurídico vascaíno estava preparado para uma batalha judicial. A fatídica declaração Para piorar a relação que já era acidentada, em entrevista publicada pelo ge na terça-feira passada, Ramón Díaz comparou a luta contra o rebaixamento vivida tanto no Vasco quanto no Corinthians e sentenciou que o clube paulista é maior que o rival cruz-maltino. Diante da repercussão negativa, o treinador se explicou na coletiva da partida contra o Cruzeiro, na quarta, dizendo que não faltou com respeito ao seu ex-clube. – Primeiro que em nenhum momento faltei respeito ao Vasco, pelo contrário. Foi o clube que nos deu a chance de vir ao Brasil, que estava em uma situação muito complicada. É difícil jogar contra o rebaixamento, e nos receberam bem. Algumas coisas eu não gostei, isso faz parte do jogo – disse. O jogo de domingo será o primeiro encontro entre Vasco e Ramón Díaz após a saída conturbada do treinador em abril. Na vitória do Vasco por 2 a 0 no primeiro turno, o Corinthians ainda não era comandado pelo argentino.